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No RS, campanha tem Homer Simpson, Forrest Gump e folclore

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Conselhos familiares, peculiaridades folclóricas de uma região e citações de personagens de seriados televisivos tomaram conta da campanha para o governo no Rio Grande do Sul. A estratégia, adotada desde o primeiro turno pelo peemedebista José Ivo Sartori, é sucesso entre os gaúchos, mesmo que eles gostem de se definir como ‘mais politizados’ do que ‘o resto’ do país. 

Com slogans do tipo ‘Gringo que faz’ e ‘Sartorão da Massa’ e frases como ‘É de pequenino que se torce o pepino’, Sartori lidera com folga as pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas na semana passada. Faltando menos de uma semana para o pleito, o governador Tarso Genro (PT), que disputa a reeleição, busca uma virada. Os petistas apostam no esgotamento do ‘personagem’ Sartori, afirmam que o peemedebista despolitizou o debate e que o apoio de siglas conservadoras deixa claros seus posicionamentos.

A forma como Sartori responde a questionamentos, sempre tratando os temas em linhas gerais, refazendo ele mesmo as perguntas, listando críticas ao governo e abusando de advérbios para completar as frases (evidentemente, naturalmente, realmente e objetivamente estão entre seus preferidos) aborrecem jornalistas e incomodam adversários. No debate realizado na TV Pampa na semana passada ganharam destaque os relatos sobre a sem cerimônia com que o marqueteiro de Sartori, Marcos Martinelli, exibiu cartazes com orientações para o candidato. Mas seu eleitorado não se abala.   

Em função do estilo, já há quem se refira ao peemedebista como ‘versão gaúcha do picolé de chuchu’ ou ‘Forrest Gump’, em alusão ao personagem interpretado no cinema por Tom Hanks. No filme, Forrest participou de uma série de fatos importantes da história dos Estados Unidos no século XX, sem se dar conta do que acontecia. 

Apesar das referências, foi Sartori quem, de público, inaugurou os ataques comparativos. No programa eleitoral no dia 17, ele comparou Tarso a Homer Simpson, o personagem politicamente incorreto e pouco ético do seriado norte-americano. “Quem gosta de TV deve ter visto alguma vez o Homer Simpson, do seriado Os Simpsons, dizer: a culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser. É engraçado, é divertido, mas também é uma grande verdade. No lugar de assumir o erro é bem mais fácil procurar se livrar da culpa. Na política o culpado preferido é o passado.” 

A referência direta ao fato de Tarso sempre lembrar a vinculação de Sartori aos governos de Antônio Britto (então PMDB) e Yeda Crusius (PSDB), somou-se a lista de polêmicas que o marketing de Sartori vem gerando na propaganda. Elas começaram com a utilização da imagem da mãe do candidato no horário eleitoral.

Com o sotaque típico de parte dos habitantes da Serra gaúcha, que carrega no R, dá entonação fechada ao A e suprime plurais, dona Elsa aconselha o filho: “Zé, faz como eu te ensinei: non brigá, non falá mentira, non criticá os outro. Te mando um beijo e boa sorte pra ti”. Parte dos eleitores se emocionou com a simplicidade. Mas houve quem considerou ‘apelação’. Em outra inserção polêmica, Sartori aparece rodeado pela família e o filho conta que quem escolhe a roupa do candidato é a esposa. A indignação de parte do eleitorado feminino não arranhou os confortáveis índices das pesquisas. As alusões a uma espécie de voto étnico ‘gringo’ que já estaria beirando ao preconceito, também não.

O fato é que por trás do sucesso do ‘gringo piadista’ existe uma competente e organizada estrutura de campanha, que se estabeleceu ainda no final do primeiro turno, quando o PMDB vislumbrou a possibilidade concreta de passar para o segundo. Os apoios obtidos nas duas últimas semanas só reforçaram a estrutura. Ao todo, 19 siglas apoiam Sartori, apesar de ele só lembrar de 17.

Todos os dias, o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que coordena a campanha peemedebista, escreve textos para dirigentes e lideranças. Estes replicam as orientações e pequenos grupos as multiplicam. São palavras de incentivo à militância, de solicitação de empenho na reta final, de distribuição de material e de fiscalização. O PMDB gaúcho possui 250 mil filiados e está organizado em praticamente todos os 497 municípios do Estado. “Cada partido tem a figura dos facilitadores. Ela é fundamental. Além disso, nós encontramos o tom”, explica Melo.

Diariamente, ele organiza duas rodadas de reuniões. A primeira, da coordenação, inclui os responsáveis pelo marketing e pelo jurídico, e é aberta a dirigentes e parlamentares. A segunda, que ocorre sempre às 22h, é avaliativa, e tem apenas um seleto grupo de ‘conselheiros’.

Na ‘trincheira’ petista, o coordenador de campanha de Tarso, Carlos Pestana, diz que o maior desafio é não deixar a militância ‘se abater’ pelas pesquisas. O próprio governador tem usado o twitter para encorajar seus eleitores, que deixaram evidente seu abalo quando Olívio Dutra foi derrotado para o Senado no primeiro turno e Tarso passou para o segundo em desvantagem.

“Nossos levantamentos logo após o dia 5 mostravam ele (Sartori) com 22 pontos de vantagem. Então, está caindo. O senso comum já identificou que ele não diz nada. Além disso, esta eleição mostra uma migração muito dinâmica de votos”, defende Pestana. A estratégia petista inclui a mobilização de 30 equipes somente nas periferias de Porto Alegre, na tradicional campanha ‘sola de sapato’, reforço na região Metropolitana e outros grandes colégios e apoios de lideranças municipais. Tarso investe ainda nos embates diretos e na mobilização de prefeitos de outras siglas que o apoiam, à revelia dos comandos partidários, como PDT, PSB e PP.  

O que nem Melo e nem Pestana falam abertamente, mas está tendo um peso decisivo na campanha, é o antipetismo histórico do RS. Os ataques pessoais e a desconstrução, que os adversários sempre atribuíram à tática petista, são disseminados.

Pelas ruas de Porto Alegre, desde que Sartori aderiu à campanha de Aécio Neves (PSDB), se multiplicam os adesivos com a inscrição “15 + 45 = chora PT”. No ato conjunto de Sartori e Aécio no último sábado, o deputado Beto Albuquerque (PSB), ex-aliado de Tarso, vice de Marina no primeiro turno e agora apoiador do tucano, incitou a militância com frases na linha: “A Dilma tá com a pressão alta e não ouviu: quem é o próximo governador?”, “A Dilma tá passando mal e não ouviu: quem é o próximo presidente?” Já a senadora Ana Amélia Lemos (PP), terceira colocada na disputa para o governo e agora eleitora de Sartori, disse que, quando votar no dia 26, a população poderá “fazer justiça com as próprias mãos.”