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Financial Times: independência do Banco Central entra em discussão

Artigo analisa o posicionamento da campanha de Dilma e Marina sobre a independência do Banco Central

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O financial time, em artigo recente, critica a postura da campanha da atual presidente Dilma Roussef ao falar sobre a possibilidade de independência do Banco Central (BC). Descrevendo o vídeo de campanha da presidente, durante o horário eleitoral gratuito, como “uma cena de um filme gangster de baixo orçamento”, o jornal britânico define os vídeos como “arlamistas” e que jogam uma sombra sobre o que pode significar a autonomia do Banco Central na prática.

“A autonomia do Banco Central, um tópico obscuro em um país onde um em cada dez adultos são analfabetos” destaca o jornal britânico, “tem se tornado uma controvérsia durante as eleições presidenciais”. Segundo o financial, a campanha presidencial do PT sugere que uma maior independência do BC levaria os banqueiros a lucrarem com altas taxas de juros, encarecimento dos alimentos e a fome. O Psol, partido de esquerda, alerta que a independência do BC poderia representar uma ameaça à soberania nacional.

Em entrevista para o jornal Britânico o professor de economia do Insper de São Paulo, Ricardo Brito destaca que o debate deixou de ser um econômico, para se tornar um debate eleitoral. Além disso o jornal britânico afirma que essa postura pode ser um “preocupante aumento do socialismo venezuelano” no Brasil, com essa demonização dos bancos. Considerado exagerado pela campanha eleitoral, a tendência tem aumentado nos últimos anos, como afirma Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo, em entrevista para o FT.

O debate começou com Marina Silva, que subiu nas pesquisas ao se tornar candidata pelo PSB, após a morte de Eduardo Campos. Com planos de voltar com políticas econômicas mais ortodoxas para o Brasil, Marina propôs criar uma legislação para liberar o BC do controle do governo federal. Segundo o FT, as tentativas de Dilma de pressionar o BC para reduzir artificialmente as taxas de juros no país em 2012, mostram que a mudança é necessária. "Defendemos a independência do Banco Central, porque este governo com suas políticas erráticas desvalorizou o conceito de" autonomia operacional "e tornou-se necessário institucionalizar [sua autonomia]", disse Marina Silva em um recente debate televisivo.

Na prática, a autonomia formal significa, provavelmente, algumas mudanças de regras, como a definição de um mandato fixo para o presidente do Banco Central, dizem os economistas. Isso coloca o Brasil em linha com outras grandes economias e a maior parte da América Latina. O BC da Colômbia é independente desde 1991 e o BC da Argentina também, embora, na prática, não tenha se separado do governo.

No entanto, a campanha do PT e de outros partidos de esquerda tem usado essa proposta contra a Marina, explorando as preocupações de que ela seria politicamente instável e vulnerável a manipulação das elites. Além disso, muitos brasileiros estão perplexos com a estreita relação de Marina com Maria Alice “Neca” Setúbal, membro da família que controla o banco Itaú. Para a comunidade de investidores do Brasil, “o debate sobre a independência do Banco Central é, particularmente, angustiante”.

Segundo o FT, mesmo tendo perdido terreno, depois de ter ficado no páreo das estatísticas durante algum tempo, Marina Silva “ainda é considerada a melhor esperança para derrubar o PT”, que , para o jornal, seria “desprezado por suas políticas intervencionistas.

No entanto, segundo o jornal, começar a batalha por uma política monetária independente é um caminho que poucos teriam escolhido. “A independência do Banco Central é importante, mas é uma questão secundária” afirma Brito para o FT. Segundo ele, seria mais produtivo discutir a meta de inflação do país ou se concentrar em questões mais urgentes, como a reforma de pensão do INSS.

Apesar das criticas, o artigo do FT admite que não existem evidências de que a autonomia leva a uma inflação mais baixa,como mostra o exemplo da Argentina. Liliana Rojas-Suarez, membro sênior do Centro para o Desenvolvimento Global, argumenta que a disciplina fiscal é igualmente importante para conter os preços. "A independência do Banco Central é necessária, mas não suficiente", diz ela.

A batalha política monetária de Marina Silva não é apenas desnecessária, mas e pode acabar custando investidores o que eles querem mais do que tudo: um governo que não é o do PT.

Claúdia, uma dona de casa de uma família rica em São Paulo, diz que pretende votar em Aécio Neves que ficou em terceiro lugar nas pesquisas. No entanto, em um provável segundo turno entre Marina Silva e Dilma ela decidiu escolher o segundo, dizendo: "Considero as duas ruins, mas é melhor o diabo que você conhece."