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Candidatos ao governo do Rio se atacam em debate na Globo

A poucos dias do primeiro turno, políticos tentam se firmar como oportunidade de mudanças

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Os cinco principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro participaram na noite desta terça-feira (30) de debate na Globo, a poucos dias do primeiro turno das eleições. Entre ataques e promessas, cada um tentou se mostrar como alternativa de mudança ao governo atual, enquanto o candidato à reeleição procurou destacar que ele próprio também acredita na necessidade de mudanças. Pezão teve que responder à questão "Cadê o Amarildo?" e questionou a oposição sobre medidas que seriam adotadas em relação ao endividamento do Estado, por exemplo.

Pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira mostra Luiz Fernando Pezão com 31%; Anthony Garotinho, com 24%; Marcelo Crivella, com 16%; Lindberg Farias, com 9%; Tarcisio Motta, com 1% e Dayse Oliveira, com 1% das intenções de voto.

Com mediação da jornalista Ana Paula Araújo, o debate da Globo teve quatro blocos, o primeiro e o terceiro com temas livres escolhidos pelo candidato que fazia a pergunta, e o segundo e o quarto com temas sorteados pela mediadora. Cada pergunta teria um minuto e meio para a resposta e um minuto para a réplica e para a tréplica. No primeiro bloco, cada candidato foi perguntado uma vez, e nos outros cada um deles pode ser escolhido para responder a até duas perguntas. No final, tiveram um minuto e meio para as considerações finais. 

>> Ibope: Pezão tem 31%, Garotinho, 24%, e Crivella, 16%

>> Pezão é alvo de críticas dos adversários em debate na Record

O candidato do PT, Lindberg Farias, foi o primeiro a chegar ao estúdio, seguido por Tarcísio Motta (Psol), Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e do candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão ((PMDB). O embate começou logo antes do início do programa, no momento da foto oficial para a imprensa, com Garotinho se recusando a seguir na fotografia a ordem estabelecida por sorteio para a posição dos candidatos ao longo do debate. O candidato, então, foi para o outro extremo e posou ao lado de Tarcísio. 

Os blocos foram marcados principalmente por críticas ao candidato à reeleição, que tentou se esquivar ressaltando conquistas que teriam sido alcançadas ao longo do governo de Sérgio Cabral, que o tinha como vice, e também proferindo ataques aos outros candidatos. Segurança pública, mobilidade urbana, saúde e educação foram alguns dos temas explorados.

Primeiro bloco

Primeiro a realizar sua pergunta, Lindberg escolheu Crivella para falar sobre a educação no Estado. Crivella criticou as ações dos últimos governos do Rio, ressaltando a necessidade de derrotar "o partido que foi o coveiro" do melhor projeto de educação, os CIEPs, e disse que o resultado da educação estadual no Ideb teria sido fruto de uma exclusão, na mostra utilizada pelo índice, dos alunos que repetiram de ano, por exemplo, além de alertar para o fato de que estudantes da rede pública estadual estariam recebendo aulas de diferentes disciplinas com o mesmo professor. "Isso é uma fraude, uma maquiagem", atacou Crivella, lembrando que o espírito de revolta das manifestações de junho precisa ser resgatado. "Precisamos retomar o Fora Cabral".

Lindberg ressaltou programas que implantou enquanto prefeito, como o que teria garantido o melhor plano de cargos e salários do Estado, e a necessidade de oferta de ensino técnico profissionalizante. Também se comprometeu com a criação de uma agência do primeiro emprego. "Só pode haver pacificação com cultura e educação", afirmou o candidato petista. 

O segundo a fazer sua pergunta, Pezão, como em outras oportunidades, escolheu Tarcísio Motta para responder. Nesta primeira, questionou o candidato do Psol sobre o momento difícil pelo qual estaria passando o Estado, em relação ao endividamento e altos juros atrelados. Tarcísio, antes de ressaltar o "absurdo" do endividamento, fez questão de destacar seu repúdio ao discurso homofóbico do candidato à presidência Levy Fidelix, no debate da Record no último domingo. 

"Cada criança no Rio de Janeiro já nasce devendo R$ 5 mil", disse Tarcísio. Para ele, seria necessário realizar uma auditoria externa independente, para verificar o que já foi pago. 

Em sua réplica, Pezão lamentou que o senador Crivella e o senador Lindberg não tenham discutido o endividamento do Estado no Congresso. "Crivella esteve durante 12 anos no Congresso, poderia ter discutido isto". Tarcísio rebateu a atitude do governador de criticar a oposição, sem assumir sua responsabilidade pelo governo de Sérgio Cabral de ter endividado o Rio de Janeiro. 

Garotinho escolheu Lindberg para debater sobre um superfaturamento das empresas de ônibus, entre 20% e 40%, durante o governo de Sérgio Cabral. O petista, então, salientou que "o que acontece na propagando do Pezao não tem a ver com a realidade", com trens da Supervia que quebram todo dia, barcas e metrô superlotados, empresas de ônibus que fazem o que querem. Para Lindberg, falta fiscalização dos responsáveis pelo transporte público no Estado. "Quem tinha que fiscalizar não fiscaliza", disse sobre a Agetransp. "Não fiscaliza nada porque o governo Cabral e Pezão indicou gente do PMDB para a agência. Até o tesoureiro do partido foi indicado para fiscalizar as empresas de ônibus, o mesmo que em época de campanha vai pedir dinheiro para essas mesmas empresas. Eu indicaria técnicos, especialistas, pessoas que pudessem ter isenção para fiscalizar", prometeu Lindberg.

Garotinho citou como exemplo de superfaturamento algumas passagens de ônibus, como uma entre Apolo e Centro do Rio, que custa R$ 9  e deveria custar R$ 5,50.  Lindberg, contudo, em sua tréplica, destacou que Garotinho e Pezão "se parecem muito", pois o segundo teria sido "braço direito" do primeiro e indicado por ele para ser vice, mantendo o mesmo grupo no poder. 

Crivella direcionou sua questão ao atual governador, falando de "escândalos terriveis no governo, que envergonham nossas tradições", citando o escândalo dos guardanapos, os gastos com a última reforma do Maracanã e o caos no transporte. Pezão, em sua defesa, ressaltou que o governo do qual faz parte é o governo que entrou em comunidades "libertando" milhares de pessoas, que criou UPAs, da escola com horário integral, dos centros de vocação tecnológica, e que estabeleceu relações com o governo federal. "Foi desse governo que eu participei e me orgulho de ter participado." Crivella, na réplica, falou para Pezão que "fazer o bem não dá o direito de fazer o mal". 

O último a realizar pergunta no bloco, Tarcísio teve que direcionar sua questão a Garotinho, e aproveitou para questionar o suposto envolvimento do candidato com as milícias, apontando que estas teriam nascido em seu governo, crescido no da sua esposa Rosinha, e avançado muito mais no governo de seus "pupilos". Garotinho alegou que nunca foi conivente com milícia e que elas não nasceram no seu governo, que já existiam em várias comunidades, e se comprometeu a combatê-las, caso venha a assumir o governo do Rio. 

"O que a gente está discutindo aqui é uma questão de conivência, sim, do poder público com o poder paralelo", disse Tarcísio. "No fim, vocês sao iguais." Garotinho alegou que nunca foi condenado por improbidade administrativa e que nunca geriu mal o dinheiro público.

Segundo bloco

Crivella abriu o segundo bloco com pergunta para Lindberg sobre o que foi feito com a educação no Rio de Janeiro, que disse que foi um crime o que fizeram com os CIEPs. "Hoje nós só temos 3% dos nossos jovens fazendo ensino médio com o técnico", disse. "Temos 30% dos jovens sem estudar e nem trabalhar. Nós temos que  ganhar essa juventude para o nosso lado. Eu defendo a UPP, mas eu quero mais".  

Lindberg se comprometeu a implantar projetos bem sucedidos em outros locais no Rio de Janeiro, como o de Sobral, no Ceará, que se implantou programa para alfabetizar as crianças na idade certa. 

Garotinho pediu que Tarcísio, que é funcionário público, comentasse sobre a "covardia" que foi o fim do Iaserj. Tarcísio falou que o governo atual, em oito anos, fechou escolas e destruiu hospitais, e ressaltou que o Iaserj havia sido construído como patrimônio do funcionário público do Rio de Janeiro. "Aí nos lembramos de outra característica, de um governo que custa a negociar".  

Após Garotinho destacar que lutaria por um plano de cargos e salários decente para o funcionário público, Tarcísio alertou que, se Garotinho ganhar, cobrará a promessa. "Eu amarguei oito anos sem nenhum centavo de reajuste, fizemos inúmeras greves para garantir negociação apenas. É mais uma coisa em que você se iguala. Você também está escondendo suas atitudes 'cabralinas'", atacou Tarcísio.

Lindberg perguntou sobre Olimpíadas para Marcelo Crivella, lembrando que o Maracanã foi reformado duas vezes na gestão Rosinha e Garotinho, que o Cabral realizou uma superfaturada, e que o estádio ainda deve receber uma outra reforma. Crivella comentou que o problema é o que o governo, há muito tempo, não faz planejamento.

Pezão direcionou novamente sua pergunta a Tarcísio, sobre habitação, que respondeu que é preciso ter clareza de que a política habitacional tem que estar casada com várias outras políticas, em um "Rio de Janeiro caro e engarrafado". "Pezão deveria estar envergonhado de ter feito o que fez com os ocupantes da Oi/Telerj, que ficaram jogados em uma igreja sem nenhum tipo de assistência do governo". 

Em sua defesa, Pezão apontou para medidas que o Estado estaria realizando atualmente, como a desapropriação de 81 terrenos para fazer mais de oito mil moradias e a entrega de 300 apartamentos no Alemão, política que, para o governador, se mostrou acertada, mas que, para Tarcísio, está subordinada ao mercado imobiliário. O candidato do Psol lembrou que, enquando moradores da Rocinha reivindicam saneamento básico, o governo se compromete com teleférico para a comunidade. "Não se escuta a população, não dá para continuar com essa politica."

Em sua vez, Tarcísio pediu para que Pezão explicasse para os telespectadores sobre o que se trata as O.S., em um movimento de privatização da Saúde do Estado, enquanto as pessoas enfrentam filas, falta de vagas para cirurgias, entre outras questões. Pezão salientou que sabe que não resolveu todos os problemas, e prometeu avançar fazendo o que teria feito como prefeito. Ele alegou que o modelo de contratação de profissionais de saúde adotado teria permitido alcançar melhores níveis de atendimento. "O senhor nunca foi gestor, quando for vai ver a dificuldade que é contratar o médico com o salário que nós temos."

Terceiro bloco

Lindberg abriu a rodada com questionamento ao atual governador sobre as promessas que o Sérgio Cabral teria feito, que nào foram cumpridas, como de fazer a Linha 3 de ligação entre Niterói, São Gonçalo e Itaboraí e de reformar todas as estações de trem da Supervia, e voltou a alertar para a necessidade de fiscalização do transporte público, que não estaria sendo cumprida pela Agetransp. Pezão defendeu que todos os membros das agências são apresentados pelo governo e submetidos ao Congresso Nacional e que a linha três deve sair agora, depois que a licitação feita pelo ex-governador Garotinho foi aprovada pelo TCU. 

"Vocês misturam tudo", atacou Lindberg, que se comprometeu a transformar os trens da Supervia em trens de superfície, puxar o metrô da Pavuna para a Baixada Fluminense e tirar a Linha 3 do papel. Pezão, por sua vez, destacou que o governo deve entregar 150 trense sobre parcerias que devem render novos viadutos na Baixada Fluminense. "Nós estamos fazendo todo o dever de casa na área de transportes", acredita o candidato à reeleição. 

Crivella, se dirigindo a Tarcísio, lembrou que houve um aumento de 30% na taxa de homicídios. "É preciso investir em prevenção com inteligência", sugeriu o candidato do Psol, alegando que 70% das armas se tornaram ilegais dentro do Rio de Janeiro, o que prova que uma fiscalização eficiente no Estado ajudaria a resolver o problema, junto com a desmilitarização e a garantia de direitos da população. Medidas ressaltadas por Crivella como necessárias. "É importante que o governo dê exemplo. Se ele próprio se envolve em escândalos cada vez maiores, não é possível motivar uma tropa a arriscar a vida."

Na ocasião, Pezão perguntou para Crivella sobre qual seria sua proposta de apoio aos municípios do interior do estado, já que seu governo teria contribuído com milhões em programa de apoio aos municípios, o Somando Forcas. Crivella respondeu que o governo tem o dever de apoiar os municípios, e aproveitou para lembrar que as conquistas ressaltadas por Pezão foram graças a recursos e parceria do governo federal e que, mesmo assim, "responderam com a chapa Aezão". 

Pezão tratou de responder que não precisava explicar seu apoio a presidenta.  "Eu quero discutir e o Somando  Forças", para Pezão, o maior programa da história de apoio aos municípios, mas, para Crivella, algo que rendeu uma contribiução pequena, considerando o que poderia ter sido feito com o meio trilhão de reais recebidos pelo governo do Estado em oito anos. "R$ 1 milhão, você acha isso muito recurso? Se não fossem os royalties estaria pior do que está", destacou Crivella. "O governo do Pezao foi péssimo para o interior", acredita.

Na sequência, Tarcísio falou, para Pezão, sobre os mais de 4.600 casos de desaparecimento no Rio em 2007, que subiram para 5.400 em 2010 e que em 2013 chegaram a mais de 6 mil. "Pezão, cadê o Amarildo?", questionou, provocando um largo sorriso no rosto do governador, que respondeu com dados de investimento em segurança pública. "A gente sabe que tem um longo caminho a percorrer, e as câmeras que detectaram o caso do Amarildo fomos nós que colocamos na comunidade, e vamos continuar a investir nesse monitaramento. Nós sabemos que ainda temos muito a avançar na segurança pública", disse. (Tarcísio, após o debate, destacou que as tais câmeras foram desligadas - "Amarildo não é caso isolado, aquilo é método")

Para Tarcísio, foi um desrespeito que o governador tenha começado sua resposta sorrindo. "A polícia militar do Rio é a polícia que mais mata e mais morre no mundo e vocês têm responsabilidade, assuma sua responsabilidade neste caso." O atual governador se comprometeu então a, caso seja reeleito, investir na melhoria da formação dos policiais. 

Em sua vez de realizar uma pergunta, Garotinho se dirigiu a Lindberg e aproveitou para alertar para incentivos fiscais que teriam sido dados pelo governo de Cabral para empresas como uma casa de massagem próxima ao aeroporto Santos Dumont e a outra empresa que nem existe. "Todos esses incentivos fiscais imorais serão revogados por mim", prometeu Garotinho.

O candidato do PT destacou que a política de isenção fiscal é equivocada e atende a uma logica que beneficia uma única área, em detrimento da Região Metropolitana como um todo.  

Quarto bloco

Tarcísio retomou pergunta do último debate para Pezão, para que este explicasse quais são os principais financiadores de sua campanha. O governador respondeu apenas segue a legislação e que suas contas, da campanha e do governo, estão disponíveis para o acesso de qualquer interessado, lei que, completou, os senadores tiveram a oportunidade de mudar no Congresso. "Mais uma vez, o senhor, além de esconder o Cabral, esconde também os doadores", criticou Tarcísio, falando sobre empresas como OAS, Camargo Correa e Queiroz Galvão. Em resposta, Pezão disse que o Psol, também, se viu envolvido com uma história de envolvimento de sindicatos com a campanha política.

Crivela, novamente se direcionando a Lindberg, destacou o descaso da Baixada Fluminense, e a importância da geração de empregos no local. O candidato do PT destacou uma migração da violência para a região, e defendeu o retorno do policiamento ostensivo nas ruas. Atacou ainda a falta de água na Baixada, com locais como Caxias e Saracuruna recebendo água apenas uma ou duas vezes por semana. 

Em sua oportunidade de pergunta, que veio logo após, Pezão escolheu Crivella e aproveitou os 30 segundos para destacar a operação que vendo sendo realizada na região, para resgatar o abastecimento de água, processo que deve levar até dois anos para se normalizar. 

Garontinho destacou que o programa de pacificação baseado na chamada polícia  de proximidade só funciona junto com projetos sociais. "Vocês acabaram com todos, como o Jovens pela Paz, que teve reconhecimento internacional", disse ao Pezão. Este respondeu, por sua vez, que esses projetos não funcionavam porque não havia segurança pública.