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Partidos perderam o prestígio

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Os eleitores brasileiros veem os partidos políticos com desagrado, desdenham de sua importância para os interesses do país e não lhes conferem influência no poder dos votos que, em breve, levarão às urnas. É o que revelou pesquisa publicada, semana passada, por este jornal, surpreendendo o fato de que, para contestar ou explicar os números e percentuais revelados, não se levantou uma única voz credenciada de dirigentes. O silêncio consente, então, admitir, que, no íntimo, aos populares consultados, em vários estados, não há como negar razão. Essas organizações, novas ou veteranas, têm preferido viver em regime de tamanho artificialismo ou cuidam apenas de ano eleitoral. No entender da opinião pública faltam instrumentos para revelar por elas um mínimo ou simpatia. 

Uma suspeita a sugerir que os próprios dirigentes sabem que as legendas descumpriram os ideais que teriam embalado sua constituição, e, portanto, condenadas ao descrédito, é que são eles próprios a correr atrás de alianças, quase sempre dispensando mínima e coerente identidade ideológica. Sabem que, por si só, elas não se sustentam. Saem em busca de muletas para continuar caminhando, somando as inconsistências mútuas para se manterem de pé. Não diferentemente é o que se tem visto nas articulações para o lançamento de candidatos a governador e a presidente da República. E, exatamente por estarem todos descaracterizados, muitas vezes a serviço das disfuncionalidades na política, as alianças chegam ao eleitorado como certas fusões química: caldos insossos, inodoros, sabor amargo, camuflando interesses nada identificados com as altas questões nacionais. Engolem-nas porque não há outro jeito.   

Sem perder de vista a citada pesquisa, permite-se esclarecer que uma questão de primeira ordem não chegou a ser posta aos consultados: os partidos estariam igualmente condenados por ignorar seus programas; nada falam sobre as metas programáticas, não cuidam de divulgá-las. Em rigor, por mais constrangedor que seja a denúncia, não será exagero afirmar que eles nem sabem a que vieram. As propostas, vagamente inscritas no estatuto de cada um, a nada mais serviram, se não instruir os pedidos de inscrição junto ao Tribunal Superior Eleitoral, diante dos quais os ministros passam a chão batido. Nem seria justo cobrar deles tempo e vagar sobre peças de escasso conteúdo. Houvessem os pesquisadores de campo indagado sobre o conhecimento público em relação aos programas, esse item na planilha seguramente ficaria sem pontuação. Talvez nem soubessem que meia dúzia deles, e outros tantos em fase de organização, usam a palavra “trabalhadores” em suas siglas, sem que para eles proponham inovações conceituais.

Eleitores abordados nas ruas, nesse sentimento de descrença, têm a solidariedade de cientistas políticos, mesmo que sejam muitos, entre eles, os que consideram os partidos instrumento indispensável na prática da democracia representativa, por mais defeituosos que sejam. Entre aqueles, de tão desanimados, há os que julgam não ser totalmente inoportuno retomar a discussão sobre a experiência com o voto avulso, que facultaria ao eleitor votar em alguém que não tenha necessariamente a filiação partidária. Seria sepultar, em cova rasa, o aluvião de letrinhas a que acabaram reduzidos.

O desprestígio dessas associações políticas é mais que desagradável, porque, quando instruídas na autenticidade, com propostas cristalinas, têm elas extraordinária valia para o aperfeiçoamento da democracia representativa. Ajudam a nação a levantar bandeiras e perseguir ideais sadios. Pena que no Brasil não tenham caminhado para isso. Nas ruas, é o povo que denuncia e condena.