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Os cada vez mais desiguais

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De novo, organismos internacionais que trabalham em colaboração com as Nações Unidas não esqueceram de incluir o Brasil entre os países que construíram sensíveis desigualdades, sem saber como removê-las, pelo menos nas próximas duas décadas. O problema existe, ainda que da pobreza absoluta tenham sido salvas milhares de famílias, a partir do fim do século passado. Nesse painel de injustiça certamente não estamos sós, pois nossos sócios nesse incômodo também não conseguiram maiores progressos. 

Todos os governos, no apagar das luzes, confiam à escuridão muitos objetivos não alcançados, sem que estejam fora as populações deserdadas. De forma que um ex-presidente é, muitas vezes, um colecionador de frustrações, porque prometeu mais, quase invariavelmente acenando para as multidões pobres. Como Juscelino, ao lamentar a falta de oportunidade para revolucionar o campo. Jânio Quadros, ao amargar o fracasso dos poderes extraordinários sonhados, e se tornar o Abdel Násser do Pindorama. Goulart, não menos desiludido, percebeu que reformas, por atacado, derrubam um governo. 

Michel Temer, tendo contra si um mandato de dois anos infestado de turbulências, não teve como praticar princípios e ações que autorizassem legítima esperança na erradicação de alguns dos males que separam desiguais. Nesse particular, os números não se lhe apresentam mais condescendentes; ao contrário, mostram que assumiu e não teve  como remover o ônus de a grande riqueza nacional continuar, como sempre, deliciosa refém de poucas centenas de pessoas e grupos. Que testemunhem os banqueiros. 

A renda, altamente concentrada, é algo que alguns gostam de debitar apenas a empresários muito bem sucedidos. Querem que os ricos batam no peito o mea-culpa dos arrependidos e, com esse raciocínio, extrapolem para soluções de sentido distributivista, coisa que fracassou em todos os países que as tiveram como experiência. A solução robinwoodiana de tirar dos ricos para dar aos pobres não salva o benefício pretendido. Na verdade, nivela a pobreza por baixo. Longe de serem santos, antes deles há outros que precisam se explicar.   

Quando os bilionários amealham fortunas em demasia, num doloroso contraste com multidões de alijados, a primeira culpa é dos governos, porque, sem sua bênção, é quase impossível ganhar dinheiro acima do razoável. Se os poderes não têm controle e medidas para oferecer benefícios e privilégios, como na fartura da corrupção que se vê, não lhes sobra espaço para pensar em desigualdades. Até porque uma das metas de quem corrompe é exatamente o oposto, isto é, acentuar diferenças entre os que querem mais para se distinguirem dos que nada têm. Distanciar as diferenças não seria o propósito essencial dos propinodutos? 

Os governos de boa vontade, da forma como se estruturam em bases insensíveis para o social (e aqui é preciso considerar que a máquina da administração é mais poderosa que a pessoa do governante), tropeçam em si mesmos na tentativa de promover algo para democratizar o acesso aos bens. É a conclusão geralmente aceita pelos estudiosos da matéria. 

No caso brasileiro, em particular, deixando para ocasiões futuras as reflexões sobre outros países que nos acompanham na desdita, demonstra-se, com base em análises consistentes, que o cenário certamente ofereceria melhores expectativas, se partíssemos para atacar as profundas diferenças de desenvolvimento que se observa entre as regiões. Há discrepâncias perceptíveis, muitas vezes dentro de um único estado, como se dá entre o Sul e o Jequitinhonha, de Minas Gerais. Essa opção, fosse adotada, acabaria por demonstrar que as populações não têm como melhorar de vida se sobrevivem em regiões pobres. Não se identifica outra solução para se alcançar o sonhado desempobrecimento. Breve raciocínio conduz a essa lógica.

Mas é preciso tomar em conta que nada será possível até que o governo olhe suas entranhas, e ficar sabendo que ele próprio peca na concentração da mais fabulosa das riquezas nacionais, com sua grande fábrica de impostos. O Executivo é, portanto, um bem-sucedido gerente de graves diferenças. Já se disse, com acerto, que o governo brasileiro tem dois braços: um longo e um curto. O longo serve para tomar, chegando a todas as fontes de trabalho e produção. O braço curto serve para dar, mas só chega aos mais próximos.