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Juventude entediada

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Nos dias em que trabalhava a Assembleia Nacional Constituinte, da qual resultaria a Carta promulgada em 1988, sendo farta a proliferação de novas ideias, alguns parlamentares, investidos de suas altas responsabilidades, chegaram a examinar, como pré-sugestão, a criação do Ministério da Criança e da Juventude, ou algo que, se tanto não fosse, com ele parecesse. A ideia não sofreu maiores resistências, mas acabou destinada aos escombros de muitas propostas fracassadas. Considerou-se, antes de tudo, que aos brasileiros daquelas faixas etárias já seriam vastos os caminhos para promovê-los, como os órgãos governamentais que administram a educação, os esportes, a cultura, além das carreiras militares. Estariam ali as estruturas mais que suficientes. Além de uma constatação, que seria confirmada com o tempo: os grandes males nacionais muitas vezes não se consertam pela via de ministérios, que são muitos. E, se não contemplam soluções para a vida dos jovens, é exatamente por serem muitos, o que diluem objetivos e programas. 

Mas o tempo ensina, com insistência cada vez maior, que é preciso pensar políticas adequadas, que sejam capazes de produzir e orientar atenções especiais àquela parcela da população que não conseguiu o suficiente com a edição do Estatuto da Criança e do Adolescente; sem que seja permitido desconhecer as nobres intenções desse documento. De tão qualificado, andou sendo modelo para outros países, que alimentavam idênticas preocupações. 

Em relação aos nossos jovens, há questões a merecer estudos e perseguir metas com sincera objetividade. É exatamente o caso de estarem se tornando mais restritas suas possibilidades de ingresso nos setores produtivos, por razões múltiplas, entre as quais uma espécie de disputa surda que se trava com milhões de aposentados, que persistem no trabalho e lutam para complementar benefícios, sempre aquém de suas necessidades. E os novos acabam ficando fora. No mercado da mão de obra, as oportunidades revelam-se, então, mais acanhadas para os iniciantes, que também têm a seu desfavor um reduzido acervo de experiências profissionais. 

Antes de tudo, é preciso lançar mão de pesquisas sobre a tendência da mocidade em capitular diante das angústias, muitas vezes evoluindo para um quadro contínuo, o que, num passo seguinte, pode tomar parte nos casos de suicídio. O psiquiatra Ziyad Hadi, em recente artigo neste jornal, adverte para um número preocupante: no ano passado, os suicídios de brasileiros de 15 a 29 anos figuraram entre as quatro principais causas de morte. Explicações, não muito distantes, são encontradiças nessa geração entediada, sem perspectivas, e, portanto, descrente de viver. 

Outros países passam por isso, e entendem que, em relação à juventude, podem ser fatais tanto os muitos problemas (é o caso nosso ), como problemas nenhuns. Contudo, sem considerar diferenças sociais, fato é que o tédio de uma vida muito difícil ou muito fácil abre largas janelas para o autoextermínio. Vários cientistas adotam a tese. 

A elaboração de políticas que os especialistas definem, não só como adequadas, mas, sobretudo, oportunas, tem tudo para ser objeto de especial tratamento por parte do governo; não para um único e passageiro governo, mas que ascendessem ao nível de permanente preocupação. Hoje, que, pelo menos, se sinalizasse interesse no tratamento desse desafio, começando por debater e estudar perspectivas. Seria um passo. Um largo passo para mostrar que horizontes sempre há