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Falsas notícias

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A novidade das Fake News começa por agredir o idioma, pois soa muito melhor dizer, simplesmente, falsas notícias. Mas seja em que idioma for, é o mais novo desafio que vem para perturbar a tranquilidade do eleitor, ao sentir que faltam cinco meses para ir à urna lançar a sorte aos seus candidatos. Sem escapar do fantasma da mentira e de suas consequências, muitas vezes funestas. A mentira, a desinformação e a informação deturpada, colocadas a serviço de interesses camuflados. Esses interesses, diga-se, para não parecer que todos os males são invenção dos nossos tempos, nunca deixaram de existir; porém, nos dias que correm, aprumaram-se e se aperfeiçoaram, sob as graças dos recursos da moderna tecnologia. O que vem mostrar que a informática foi condenada a viver a contradição: da mesma forma como empurra o mundo para a frente, é capaz de puxá-lo para trás, quando se presta, igualmente, a mentes perturbadas, que mais se assanham quando veem a oportunidade de agredir desafetos ou a privacidade das pessoas. 

É de se imaginar o que sofrerão os candidatos nas redes sociais, o mesmo veículo de que tentarão se servir para o palanque eletrônico. Pior para eles é que ainda não foi possível descobrir algo capaz de evitar, com rapidez, o mal dessas fake news, antes que sejam praticadas más façanhas; quando muito, o que se pode obter é a identificação dos autores, além de uma vaga esperança em sua condenação. Nem isso seria fácil, eis que nossas leis titubeiam num campo relativamente novo.

Resta ao eleitor, diante de tal constatação, aprofundar sua responsabilidade e cuidado quanto à credibilidade das informações que lhe chegam. Mais que necessário, sem a exclusão até dos especialistas, que também se intrigam diante da complexa identificação de procedências anônimas. Resta confiar na acuidade de quem vai votar, a começar pelo repúdio às acusações, sempre suspeitas, quando excessivas e raivosas, contra os adversários. Mais ainda, principalmente, se envolvem familiares e a honra pessoal. Se as denúncias ganham inusitada frequência, eis outra razão para se admitir o cruzamento de interesses espúrios na divulgação, mesmo que a crítica revele algum fundamento. 

Neste amanhecer da campanha, para se concluir que nem tudo está perdido, vale considerar um detalhe otimista, que aos poucos vai se confirmando para o desmonte das incursões ofensivas. Pois, o mesmo maravilhoso recurso usado para o mal, também pode servir para o bem, contradizendo e destruindo a notícia tendenciosa com idêntica rapidez. 

Hoje, as redes sociais, em um átimo, se prestam à defesa dos ofendidos. Uma vantagem que a eles não se podia prestar em outras épocas, quando a instantaneidade da comunicação não ousava ir além da ficção. A mentira sempre corria mais, a verdade nunca chegava a tempo para se impor. Consagrada vítima, na década de 50 do século passado, foi o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato a presidente contra o varguismo. Pelo rádio, o maior instrumento de comunicação da época, Hugo Borghi atribuiu a ele ter “dispensado o voto dos marmiteiros”, o que o brigadeiro nunca disse; nem seria suficientemente tolo para dizê-lo. A cilada não foi causa única para a derrota do candidato da oposição, mas para ela de alguma forma contribuiu. 

A repetição de casos semelhantes será quase natural se a campanha eleitoral descambar para o baixo nível, em sacrifício da verdade, também das ideias, que desapareceriam para dar lugar a ofensas e discussões estéreis, pobres de conteúdo e ricas em bobagens. Se assim for, as fake news vão florescer.