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A onda de pessimismo

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O presidente Temer confessou, há dias, queixas amargas, ao constatar a existência do que definiu como “torcida do pessimismo”, a onda negativista empenhada em destacar dificuldades, sem reconhecer os êxitos do governo. Estes, discriminados, acabam quase totalmente esquecidos. Quanto às jornadas exitosas, como a queda da inflação e a retomada do crescimento do setor produtivo, que realmente se fazem sentir, realmente quedam em plano secundário, não por culpa da opinião pública, mas, talvez, por falta de uma atuação mais criativa dos setores de comunicação do próprio governo, uma área que, a bem da verdade, nunca chegou a ser patrimônio de eficiência da Presidência da República. 

Outros governantes, mais explícitos que o atual, preferiram dirigir suas cargas contra os jornais, atribuindo-lhes culpas de tudo. Fazem lembrar certos reis da Antiguidade, que mandavam executar os mensageiros das más notícias... Hoje, de fato, o que naturalmente ganha destaque nas preocupações da população, assim também da mídia, é a má notícia. Ainda bem. Pior – e com isso por certo o presidente haverá de concordar – seria o dia em que, de tão comuns, os acidentes aéreos deixassem de ser notícia; o interesse – imaginem! - se voltasse para a aeronave que desce normalmente no aeroporto... Ora, se o que chama a atenção é o mal, pelo inusitado, significa nem tudo está perdido. 

Insistindo, a se dar acolhida à queixa do chefe do governo, diga-se que uma parcela de culpas, não apenas desculpas, longe de se debitar apenas aos pessimistas, cabe também à administração federal, incapaz de oferecer ao presidente um desejável sorriso otimista. Por exemplo, os homens a quem ele confia a construção dos arcabouços da política financeira, sem coragem para lançar dardos sobre os bancos que abusam na aplicação de juros sobre cartões de crédito. Os homens do governo preocupam-se com os bandidos que, do lado de fora, explodem os caixas eletrônicos, mas nada fazem para prender os banqueiros que, do lado de dentro, explodem as finanças do país.

 Quem, nos gabinetes do Planalto, faria o presidente e a população sorrirem se melhorar o atendimento aos pobres que madrugam nas filas para disputar consulta médica? Como ouvir palmas e não lamúrias nos corredores dos hospitais? Temer não ignora, como atestou Veríssimo, que é impossível encontrar patriotas nas filas do INSS... 

Avizinha-se outra oportunidade de combater o pessimismo, a partir das entranhas do próprio governo. A Agência Nacional de Saúde Suplementar está para ser chamada a encarar os abusos nos planos de saúde, que se recusam a conter faturamentos com base nos índices oficiais da inflação, e caem, sem dó nem piedade, sobre os usuários. Esses planos, que entre outras maldades, procuram refugar os idosos, pois são os principais dependentes de assistência, foram criados sob a expectativa de que, absorvendo a faixa da população em melhores condições financeiras, desafogariam os serviços médico-hospitalares para melhorar o atendimento aos mais pobres. Pois nem uma coisa nem outra. Os planos de saúde, com o que cobram, expulsam os usuários e conseguem a proeza de nivelar os serviços médicos por baixo. 

Os brasileiros anseiam por escapar da corrida dessas ineficiências, libertando-se do pessimismo que desconsola o presidente. 

Uma parte das turbinas que geram motivação para o pessimismo está, portanto, na cozinha do governo. Mas a bem da verdade Temer não é um solitário no muro das lamentações. As queixas não prosperam apenas em sua sala, mas distribuem-se, endemicamente, pelo Judiciário e pelos gabinetes do Legislativo, que preferem desconhecer que é exatamente ali que avultam os problemas. Sem escapatória. Até o senador Renan Calheiros, no pódio olímpico das 19 investigações que o atormentam, acaba de proclamar, com ardor patriótico: “Onde chegamos! Triste Brasil!”. 

Eis a temporada para os consolos institucionais