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O que dizer neste dia?

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Os desdobramentos das crises que abalam a economia, atrelados a incertezas políticas empurrando os empreendimentos para a trincheira, mais o subemprego decorrente, seriam temas suficientes e oportunos para uma demorada reflexão sobre o Dia do Trabalho, uma das poucas efemérides com comemoração universal; sem embargo de diferentes situações, dado o nível das liberdades praticadas nos diversos países. No Brasil, além dos problemas citados, soma-se nosso descompasso em colocar a preparação profissional no ritmo dos progressos da tecnologia, essa cada vez mais exigente no mercado, onde exclui, sem piedade social, a mão de obra que não se qualifica. Sobre a influência dos recursos tecnológicos, nossa recente luta pelo mercado de aço revelou que, se em duas décadas passadas exigiam-se dez trabalhadores por tonelada de laminados produzida, hoje a mesma produção ocupa apenas dois. 

Do conjunto dos fatores é que se chega a uma explicação sobre as multidões desocupadas, elevadas a 12 ou 13 milhões de pessoas, números de que se libertam apenas para pequenas e quase imperceptíveis oscilações favoráveis. Pois, se o que temos é um conjunto de razões, não apenas uma ou algumas a influir isoladamente no redirecionamento da economia, a população  percebe, sem maiores dificuldades, que estamos conseguindo pequenos alívios, porém longe das dores maiores das massas expulsas do mercado de trabalho.

A melhoria dos resultados só seria possível se as ações governamentais operassem no conjunto. A começar por declarar combate sem trégua à situação, ainda grave, do trabalho escravo, nódoa que, reconhecem os  relatórios oficiais, persiste e envergonha, mesmo que a atuação da polícia e do Ministério do Trabalho tenha conseguido resgatar cerca de 20 mil escravizados. Muitos ainda são largamente explorados nos latifúndios isolados e aldeias remotas, onde a Justiça não consegue chegar. E, quando a situação se torna caso de polícia, os donos dos escravos lançam mão de prestígio imoral para preservar a impunidade. Isso se dá em pleno século 21, num país que se ufana de sustentar-se nos direitos humanos e no sentimento cristão.

Para continuar em busca do ideal, o melhor do feriado é pensar sobre essas dificuldades que se agrupam a desafiar a criatividade do governo, dos empresários e dos trabalhadores. Somados os esforços, sem o ranço de idiossincrasias políticas, talvez pudéssemos chegar a bom resultado. 

Na festa do Trabalho, falar em desemprego é verdadeiramente trágico. Não menos se lembrarmos que, não bastando obstáculos econômicos e os casos da gritante exploração da mão de obra no interior longínquo, restam, a lamentar, as limitações a uma livre e proveitosa negociação entre as forças de trabalho. Seria razoável que, longe de limitações e regras ainda não corrigidas na Carta de 88, os acordos se inspirassem em realidades locais e setoriais. Bases mais elásticas para o entendimento, sem prévio prejuízo para as partes da grande engrenagem produtiva. Optando-se pela remoção de dificuldades, sem que se admita o confisco de direitos consagrados, que, pelo menos, se faça a experiência de um diálogo proveitoso. Não custa tentar, em nome do ideal de uma empregabilidade mais moderna, superados dispositivos que afastam os negociadores, condenados a desconfianças mútuas, ao lado das ciladas de certas “garantias”, que acabam se voltando contra os trabalhadores.

Oportuno insistir no dia especial. O primado do diálogo levou a grandes conquistas das classes obreiras, muitas vezes sob clima político não muito favorável. É o que ajuda a compreender algo à primeira vista estranho: importantes conquistas trabalhistas ocorreram em poderosos governos conservadores, como Vitória, na Inglaterra; Bismarck, na Alemanha; Napoleão III, na França. E até mesmo com nosso ditador Getúlio.