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Brasil espera voltar à normalidade após concessões do governo aos caminhoneiros

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Os brasileiros esperam começar a retomar a normalidade nesta segunda-feira, depois de uma greve de caminhoneiros que paralisa o país há uma semana, o que comprometeu a capacidade de iniciativa do governo do presidente Michel Temer, a poucos meses das eleições de outubro.

Líderes dos caminhoneiros se declararam dispostos a suspender os bloqueios nas estradas, registrados em tofo o país, depois que Temer anunciou medidas para atender as reivindicações da categoria, incluindo a redução do preço do diesel.

"Eu acho que o assunto está definido. O caminhoneiro está antenado, ele também quer sair desse movimento agora, porque já faz sete ou oito dias", disse José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que na semana passada rejeitou a "trégua" anunciada por outras organizações com o governo.

Temer mobilizou na quinta-feira as Forças Armadas para assegurar o abastecimento de combustíveis em aeroportos e postos de gasolina, mas o efeito da polêmica medida foi limitado.

O presidente anunciou no domingo (27) importantes concessões aos caminhoneiros que paralisam o País há uma semana, após ter tentado sufocar o movimento mobilizando as Forças Armadas.

As medidas incluem uma redução de R$ 0,46 por litro de diesel, o congelamento deste reajuste por 60 dias, e uma revisão posterior mensal dos preços do combustível.

"Seguimos em conversas com líderes do movimento. Avançamos na implementação de muitas medidas, diante da necessidade do movimento de encerrar a paralisação", disse Temer em pronunciamento transmitido pela televisão esta noite, durante o qual foram registrados panelaços.

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, a média nacional do preço do diesel oscilou de R$ 3,356 em janeiro deste ano para R$ 3,595 em 19 de maio, antes da greve, alcançando um pico de R$ 3,788 em 26 de maio, sexto dia de paralisação, segundo dados do portal G1.

O presidente anunciou, ainda, a isenção do pedágio sobre o eixo suspenso dos caminhões em estradas federais, estaduais e municipais, e o estabelecimento de uma tabela mínima para os preços dos fretes.

O pronunciamento se deu após reunião do presidente com representantes do setor que não assinaram um primeiro acordo, negociado na quinta-feira, e considerado bem sucedido pelo Executivo. Temer assegurou que as reivindicações anteriores, acordadas durante a semana nas negociações entre o setor e o gabinete, serão mantidas.

No domingo, sétimo dia da paralisação dos caminhoneiros, o Brasil ainda enfrentava graves problemas de abastecimento, enquanto o governo insistia em que a situação se encaminhava para a normalização.

Escassez de produtos em supermercados e funcionamento irregular dos transportes são as consequências mais evidentes, mas não as únicas. Diversos setores acenderam o sinal de alerta com o avanço da paralisação, que continua, apesar dos anúncios do Executivo.

No pronunciamento de domingo, Temer disse ter recebido informações preocupantes do setor da saúde e da indústria agropecuária.

A Associação Brasileira de Proteína Animal informou que 64 milhões de pintinhos e aves morreram por falta de comida e que outro bilhão estaria em risco neste momento, assim como 20 milhões de suínos.

A Associação Nacional de Hospitais Privados manifestou preocupação com a crise. Escassez de alimentos para pacientes, falta de roupa limpa, ambulâncias paradas, falta de médicos e coleta irregular de lixo foram alguns dos problemas relatados em um comunicado.

A partir de segunda-feira, "muitos hospitais não conseguirão mais garantir o acesso e a continuidade do cuidado dos pacientes que necessitarem de tratamento se nenhuma medida imediata for adotada", advertiu a associação.

Algumas universidades públicas cancelaram as aulas na segunda-feira, enquanto 14 aeroportos continuavam padecendo de falta de combustível.

Em pelo menos oito dos 27 estados do país, alguns postos de gasolina começaram a ser reabastecidos, mas imediatamente se formaram filas quilométricas de veículos.

O Sindicato Nacional de Empresas de Telefonia do Brasil (SindiTelebrasil) pediu que se priorize o abastecimento dos veículos do setor "para proteger a operação da infraestrutura crítica de telecomunicações".

A poucos meses das eleições presidenciais de outubro, a greve desperta certa simpatia, tanto da direita quanto da esquerda.

Situado em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato Jair Bolsonaro (PSL/RJ), se declarou "100% a favor dos caminhoneiros", mas contrário ao bloqueio das estradas.

Parlamentares do PT também expressaram apoio à paralisação, atribuindo à política econômica do governo Temer o aumento nos preços dos combustíveis.

O diesel registra fortes aumentos recentemente, devido à elevação nos preços do petróleo e à nova política comercial da Petrobras, que se alinha desde o fim de 2016 com a cotação internacional do petróleo.

Durante o governo de Dilma Rousseff (2011-2016), os preços dos combustíveis eram controlados pelo governo. Em 2016, a presidente foi destituída acusada de maquiar as contas públicas e substituída por Michel Temer, que era seu vice.