O Brasil enfrenta graves problemas de abastecimento neste domingo (27), no sétimo dia da greve dos caminhoneiros contra a alta nos preços do diesel, embora o governo assegure que o país está a caminho da normalização.
Escassez de produtos em supermercados e funcionamento irregular dos transportes são as consequências mais evidentes, mas não as únicas. Diversos setores acenderam o sinal de alerta com o avanço da paralisação, que continua, apesar dos anúncios do Executivo.
A Associação Brasileira de Proteína Animal informou neste domingo que 64 milhões de pintinhos e aves morreram por falta de comida e que outro bilhão estariam em risco neste momento, assim como 20 milhões de suínos.
Normalizar o abastecimento poderia levar até dois meses, segundo estimativas de especialistas.
A Associação Nacional de Hospitais Privados manifestou preocupação com a crise. Escassez de alimentos para pacientes, falta de roupa limpa, ambulâncias paradas, falta de médicos e coleta irregular de lixo foram alguns dos problemas relatados em um comunicado.
A partir de segunda-feira, "muitos hospitais não conseguirão mais garantir o acesso e a continuidade do cuidado dos pacientes que necessitarem de tratamento se nenhuma medida imediata for adotada", advertiu a associação.
Algumas universidades públicas cancelaram as aulas na segunda-feira, enquanto 14 aeroportos continuavam padecendo de falta de combustível.
Em pelo menos oito dos 27 estados do país, alguns postos de gasolina começaram a ser reabastecidos, mas imediatamente se formaram filas quilométricas de veículos.
O Sindicato Nacional de Empresas de Telefonia do Brasil (SindiTelebrasil) pediu que se priorize o abastecimento dos veículos do setor "para proteger a operação da infraestrutura crítica de telecomunicações".
- Novo acordo -
O presidente Michel Temer celebrou várias reuniões neste domingo com seu gabinete e assessores.
"Não há desmobilização agora sem ter o que a categoria diz na rua. Estamos cansados de promessa e nenhuma efetividade", disse Carlos Alberto Dahmer, presidente do Sindicato de Transportadores Autônomos de Ijuí (RS), ao jornal Folha de S. Paulo.
Os representantes da categoria ampliaram a lista de reivindicações e pediram, entre outras coisas, para retomar o preço do diesel de julho de 2017, congelando-o por três meses mais, e a regulação dos preços dos fretes de transporte.
O Senado anunciou antes que votaria este ponto em um projeto na própria segunda-feira, mas os grevistas querem uma aplicação imediata da medida.
O governo de Michel Temer havia anunciado um acordo com os caminhoneiros na quinta-feira, mas o mesmo não foi unânime, e a paralisação prosseguiu.
Na sexta-feira, consequentemente, o Executivo autorizou às Forças Armadas liberar estradas e resguardar veículos e infraestruturas-chave para minimizar o impacto da crise.
"Estamos caminhando no horizonte de normalizar a situação (...) Não é rápido", disse o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sergio Etchegoyen, em coletiva de imprensa no sábado.
Mas o tempo urge em um país que tenta deixar para trás uma recessão histórica e onde 60% dos transportes de mercadorias são feitos em caminhões.
"O Planalto errou ao ignorar os alertas de revolta contra a disparada do preço do diesel. Errou de novo ao negociar com gente que não tinha força para suspender o motim. Errou mais uma vez ao abrir o cofre antes de garantir a liberação das estradas", escreveu neste domingo o colunista de O Globo Bernardo Mello Franco.
A poucos meses das eleições presidenciais de outubro, a greve desperta certa simpatia, tanto da direita quanto da esquerda.
Situado em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato Jair Bolsonaro (PSL/RJ), se declarou "100% a favor dos caminhoneiros", mas contrário ao bloqueio das estradas.
Parlamentares do PT também expressaram apoio à paralisação, atribuindo à política econômica do governo Temer o aumento nos preços dos combustíveis.
O diesel registra fortes aumentos recentemente, devido à elevação nos preços do petróleo e à nova política comercial da Petrobras, que se alinha desde o fim de 2016 com a cotação internacional do petróleo.
Durante o governo de Dilma Rousseff (2011-2016), os preços dos combustíveis eram controlados pelo governo. Em 2016, a presidente foi destituída acusada de maquiar as contas públicas e substituída Micher Temer, que era seu vice.