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Temer ordena forças federais para desbloquear estradas

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O presidente Michel Temer acionou nesta sexta-feira (25) as "forças federais de segurança" contra "uma minoria radical" de caminhoneiros que ignorou um acordo para acabar com uma greve que há cinco dias atinge a economia do país.

A crise, a menos de cinco meses das eleições presidenciais, obrigou o cancelamento de voos por falta de combustível no aeroporto de Brasília, paralisou totalmente as cadeias de montagem de automóveis, reduziu a atividade de grandes frigoríficos e provocou uma alta dos preços dos alimentos.

A Prefeitura de São Paulo decretou estado de emergência, medida que lhe permitirá, entre outros pontos, requisitar, ou apreender bens privados, como o combustível armazenado em um posto.

O governo e sindicatos de caminhoneiros haviam chegado na quinta-feira a um acordo para suspender por 15 dias o movimento gerado pela forte subida do preço do diesel, em contrapartida de concessões fiscais.

Mas outros sindicatos não se deram por satisfeitos e, nesta sexta-feira, o movimento continuava com força, com mais de 500 bloqueios em 24 estados.

A maior parte dos postos de gasolina de Rio de Janeiro e São Paulo estavam a seco. Em São Paulo, mais de 40% da frota de ônibus permaneceu nas garagens.

"Acionei as forças federais de segurança para desbloquear estradas", disse Temer em um breve comunicado do Palácio do Planalto.

"Muitos caminhoneiros estão fazendo sua parte, mas, infelizmente, uma minoria radical tem bloqueado estradas, impedindo que muitos caminhoneiros levem adiante seu desejo de atender a população", acrescentou.

E fez uma advertência, endurecendo o tom: "Quem bloqueia estradas, quem age de maneira radical está prejudicando a população e será responsabilizado".

- Caminhoneiros criticam acordo -

Uma das principais organizações do setor, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que contaria com 700 mil aderentes autônomos, em sua grande maioria donos de apenas um veículo, rejeitou o acordo e pediu que os bloqueios fossem mantidos.

"A ideia é manter a greve, manter as paralisações. A Abcam não está de acordo (com a trégua), porque não foi cumprido o que a gente acordou inicialmente, de resolver até o fim dessa semana a redução desses impostos" (Pis/Cofins), disse à AFP uma assessora de comunicação da Abcam, Carolina Rangel.

Luciano Constant, um caminhoneiro autônomo de 43 anos que participa de um bloqueio da estrada BR-040 em Duque de Caxias, afirma que os que participaram das negociações em Brasília "estão botando regras para eles, e nossas regras são outras".

"Hoje em dia, você pega um frete de 1.000 reais para ir a São Paulo, gasta 400 reais de diesel e 400 reais de pedágio. Sobram 200 reais. Como você vai comer? O que vai sobrar para a sua família?", disse à AFP.

- Governo enfraquecido -

Nas negociações de quinta-feira, o governo se comprometeu a suprimir um gravame sobre o diesel, chamado Cide, e a implantar um sistema de subvenções para prolongar a redução de 10% do preço do diesel nos postos de gasolina anunciada pela Petrobras, inicialmente limitada a 15 dias.

Mas não fez qualquer menção ao Pis/Cofins, que tem um impacto maior que o Cide na composição de preços, ante as reticências do Ministério da Fazenda.

As ações da Petrobras, que participou do acordo, caíram 14% na quarta-feira na Bolsa de São Paulo, devido aos temores dos investidores de ingerências políticas na estatal. Nesta sexta, as ações preferenciais da empresa registravam uma alta de 1,44%, e as ordinárias retrocediam 0,13%.

A crise questiona a capacidade de articulação política do governo até sua passagem de poder, em janeiro, e de dar um apoio eficaz a seu candidato, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

A mobilização "deixa mais evidente ainda a fraqueza desse governo e vai ter impacto eleitoral, porque o governo vai ser como um leproso: ele vai se aproximar de qualquer candidatura e todo mundo vai querer fugir", disse à AFP o analista político André César, da consultoria Hold.