ASSINE
search button

Crise expõe fragilidade do governo Temer e articulações para eleição

Compartilhar

A greve dos caminhoneiros expôs a fragilidade do governo Michel Temer, revelou movimentos políticos para as eleições de outubro e mostrou o distanciamento de antigos aliados no Congresso. Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entrou em nova rota de colisão com Temer e com seu colega Eunício Oliveira (MDB-CE), que comanda o Senado. A briga atravessou a Praça dos Três Poderes e provocou impasse.

Dias após desistir de disputar novo mandato e anunciar a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles pelo MDB, Temer sofre as consequências do fim de um governo impopular. Além de enfrentar o racha no MDB, ele também perdeu apoio na Câmara e no Senado.

Em votação simbólica, Maia conseguiu aprovar na Câmara, na noite de quarta-feira, 23, um projeto que acaba com a desoneração da folha de pagamento para 28 setores da economia, mas embutiu ali a proposta de zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel até o fim do ano.

Foi um gesto calculado para ganhar protagonismo, mas passou longe dos acertos com o Senado e com o Planalto, que já havia pedido uma trégua aos caminhoneiros. De uma só tacada, porém, Maia contrariou Temer e irritou Eunício, que vai concorrer à reeleição e também tenta mostrar serviço. Os dois, no entanto, não deixaram dúvidas de que querem descolar suas imagens do desgaste do presidente.

Pouco antes da aprovação do projeto pela Câmara, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chamou o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator da proposta, para uma conversa reservada no plenário. Estava apreensivo com o impacto da perda de receita provocada pela isenção do PIS/Cofins. Havia sido alertado antes por um telefonema do secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, para quem a renúncia seria de R$ 12 bilhões, e não de R$ 3,5 bilhões, como sustentava Maia.

"Eu disse a ele: 'Marun, a base do governo está votando contra o governo'", contou Silva, que, apesar de ser da oposição, é aliado de Maia. Por volta de 15 horas, naquele dia, Temer também já tinha telefonado para o presidente da Câmara. Queria saber o que seria votado. "Vou avaliar, presidente", respondeu Maia.

Na manhã de ontem, Marun batia na tecla de que os cálculos feitos pela Câmara estavam equivocados. "Agora temos de enfrentar as consequências da medida aprovada", lamentava.

Maia previa que receitas extras com os royalties de petróleo compensariam a isenção do PIS/Cofins e apostou no risco. "Fiz aquilo que considero correto para o Brasil", afirmou ele, minimizando o erro dos números. Eunício, por sua vez, viajou ontem para o Ceará, sem pautar a votação do projeto no Senado. Teve de retornar a Brasília, após ligação nervosa do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

"Temos apoio de 80% da população. Se autoridades querem pôr fogo nesse País, estão conseguindo", dizia o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes. Nos bastidores, Eunício culpou Maia pela crise.

Para a líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS), a disputa deu o tom das articulações para pôr fim à greve. "O jogo eleitoral está por trás de tudo isso, mas o Senado não pode ser o bandido dessa história", argumentou Tebet.