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'WSJ': Economia mais forte não livra Trump de desafios econômicos

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Matéria publicada pelo The Wall Street Journal nesta sexta-feira (20) conta que o presidente eleito Donald Trump herda uma economia muito mais saudável que oito anos atrás, mas dúvidas significativas surgem sobre se ele será capaz de aumentar a produtividade e cumprir suas promessas de crescimento. Trump diz que quer ver um crescimento anual de 4% para uma economia que não conseguiu crescer nem mesmo uma média anual de 3% em mais de dez anos. Já de início, ele enfrentará muitos desafios que perseguiram governos passados, incluindo uma força de trabalho envelhecida, além de problemas novos, como um dólar mais forte que poderia socavar suas iniciativas de estimular o setor manufatureiro do país ao tornar as exportações americanas mais caras no exterior.

O Journal afirma que a recuperação desde a recessão de 2007/2009 tem sido excepcionalmente lenta, mas é também a quarta mais longa da história, e dados recentes apontam para um aumento na renda dos americanos. A mediana da renda das famílias do país subiu 5,2% em 2015, depois de ajustada à inflação, ficando 2,4% abaixo do recorde alcançado em 1999, de acordo com o Censo. A taxa de desemprego caiu para 4,7%, o nível mais baixo em nove anos. Ainda assim, há preocupações mais amplas sobre uma redução das oportunidades em áreas importantes dos Estados Unidos, particularmente para os americanos sem diploma universitário e que vivem em áreas mais rurais. O número de pessoas com casa própria está próximo do nível mais baixo em 50 anos, e a média de endividamento estudantil de universitários está subindo.

Entre as muitas questões que os mercados enfrentam hoje está até onde Trump irá para colocar em ação as ameaças que fez durante a campanha, como a de impor tarifas sobre empresas que vendem mais nos EUA produtos fabricados no exterior, e como outros países poderão responder.

“Os mercados desistiram de uma agenda de livre comércio”, disse Greg Valliere, estrategista-chefe global da gestora Horizon Investments.

Os volumes mundiais de comércio estão mais fracos hoje que em qualquer outro momento desde a crise financeira de 2008, e tensões internacionais continuam a representar um risco para o crescimento dos EUA. Na China, o crédito fácil está disputando um número menor de oportunidades de investimento, e as autoridades têm tentado controlar a fuga de capitais, ao mesmo tempo em que defendem uma moeda enfraquecida.

O diário norte-americano diz que a nível de dívidas inadimplentes no sistema bancário europeu, em especial na Itália, permanece elevado, apresentando outro risco caso essas economias se desacelerarem. E as preocupações com as políticas de Trump em relação ao México derrubaram o peso a mínimas recordes, ameaçando reverter os ganhos econômicos consolidados pelo país vizinho nos últimos 20 anos. O plano econômico de Trump combina sua posição comercial agressiva com promessas de reduzir a regulação e os impostos. Mas conseguir que uma legislação complexa passe pelo Congresso para cortar impostos nunca foi fácil. Os legisladores já estão tendo dificuldade para criar um novo sistema de seguro médico sem aumentar os déficits do governo ou despojar milhões de americanos da cobertura que obtiveram através da lei criada por Barack Obama para dar à população acesso a tratamentos médicos. E em relação aos impostos, Trump sinalizou desconforto com uma pedra angular do plano tributário para o setor corporativo do Partido Republicano — um “ajuste de fronteiras”, que imporia tarifa a importações e isentaria exportações — que os legisladores lançaram como alternativa às tarifas sobre importações propostas por ele.

De acordo com o noticiário os republicanos também se dividiram nos últimos anos sobre se toleram um aumento nos gastos nas forças armadas ou mantêm os déficits sob controle. Trump sinalizou um desejo de elevar os gastos, com mais dinheiro não só para o setor de defesa, mas também para infraestrutura, assistência médica para os veteranos militares e segurança nas fronteiras. Os ataques inusitadamente públicos de Trump a executivos de multinacionais, exigindo que eles mantenham empregos nos EUA, é outro ponto de potencial conflito. Os instintos favoráveis ao empresariado do presidente eleito entram em choque com economistas defensores do livre mercado que batalharam para conter a intervenção do governo nos negócios.

Desde a eleição, Trump usou sua conta no Twitter para disparar ataques a empresas específicas, questionando suas decisões de investimento e depois reivindicando crédito para anúncios posteriores de contratações locais dessas empresas. As montadoras e outras empresas industriais têm sido os principais alvos, acrescenta o WSJ.

Alguns economistas dizem que esse tipo de intervenção pode ser uma política inteligente, mas tornam os mercados menos eficientes. “Esperaríamos esse comportamento de um ditador de uma república das bananas, não do presidente eleito da democracia mais antiga do mundo”, diz Luigi Zingales, professor de finanças da faculdade de administração Booth, da Universidade de Chicago.

Os planos de Trump para o Federal Reserve, o banco central americano, marcam uma outra área de incerteza. Durante a campanha, ele criticou duramente o Fed por manter as taxas de juros muito baixas, enquanto alertava para uma bolha no mercado de ações. Os mercados esperam que um crescimento econômico mais forte possa levar o Fed, que elevou os juros apenas duas vezes nos últimos oito anos, a aumentar as taxas, pelo menos duas vezes este ano, finaliza The Wall Street Journal.