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'The Wall Street Journal': Escândalo da fraude de emissões trava planos da Fiat Chrysler

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Matéria publicada nesta segunda-feira (16) pelo The Wall Street Journal conta que as acusações de que a montadora Fiat Chrysler Automobiles NV fraudou os testes de emissões abrem uma árdua reta final para o diretor-presidente Sergio Marchionne, executivo que esperava coroar sua carreira com uma transformação do grupo ítalo-americano. A investigação dos reguladores americanos colocou obstáculos na tentativa de Marchionne de completar a restauração das fortunas da Fiat Chrysler. Ela praticamente elimina as poucas chances existentes de uma megafusão, que o líder estava buscando para assegurar o futuro da mais frágil das montadoras de Detroit. E ela também pode embaralhar as cartas da sua sucessão. Depois de assumir o comando da Fiat SpA em 2004, Marchionne se tornou um tipo de estrela de rock corporativa ao salvar a montadora italiana da falência, e cinco anos depois elaborou a aquisição da quebrada Chrysler LLC. Agora, as alegações de fraude nas emissões podem prejudicar o resto de sua gestão e turvar seu legado. 

> > The Wall Street Journal EPA Emissions Probe Tilts Odds Against CEO’s Goals for Fiat Chrysler

Segundo a reportagem, na sexta-feira (13) autoridades da União Europeia pressionaram a Itália a responder às acusações da Alemanha de que a Fiat Chrysler fraudou as emissões. Além disso, autoridades britânicas disseram que estavam buscando mais informações de reguladores americanos sobre a investigação da Fiat Chrysler e sobre a própria Fiat. Problemas regulatórios já estavam cercando a Fiat Chrysler mesmo antes da Agência de Proteção Ambientla (EPA, da sigla em inglês) acusar a empresa de fraudar os testes de emissões de poluentes em 104 mil veículos à diesel Jeep e Ram. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a SEC, a agência americana de valores mobiliários, estão investigando alegações de que a montadora artificialmente inflou seus relatórios de vendas nos últimos anos. A Fiat Chrysler também enfrenta processos ligados a problemas na caixa de câmbio de alguns de seus veículos, com alguns proprietários alegando que a empresa reconheceu mas não consertou o problema. O câmbio defeituoso levou a um recall de mais de um milhão de veículos e provocou pelo menos uma morte e muitos feridos.

O Journal afirma que tais problemas trabalharam contra os esforços ousados de Marchionne para unir a Fiat Chrysler com uma rival. Na expectativa de fechar essa operação antes de se aposentar, ele cortejou abertamente a General Motors Co., e fez um manifesto público sobre a necessidade urgente da indústria automobilística se consolidar. Ele disse que a Fiat Chrysler estaria fadada à “mediocridade” sem uma fusão. Mas a GM se recusou até mesmo a se reunir com sua rival menor, em parte devido ao histórico de problemas regulatórios e recalls recorrentes da Fiat Chrysler, disseram pessoas a par do assunto. Agora, analistas dizem que uma fusão com qualquer concorrente parece improvável depois das alegações da EPA.

O foco da investigação na Jeep e na Ram também é preocupante para Marchionne, porque as duas marcas são responsáveis por 90% do lucro operacional da Fiat, segundo a Morgan Stanley. Depois de fracassar na tentativa de restaurar o legado das marcas europeias da Fiat e da Chrysler, Marchionne depende muito dos dois modelos para alcançar a meta de lucro líquido de cerca de 5 bilhões de euros (US$ 5,32 bilhões) em 2018. A investigação da EPA foi revelada em um momento em que o mercado americano mais animado e as perspectivas de menos regulação na presidência de Trump estavam tornando as metas de Marchionne mais alcançáveis. A cotação das ações da Fiat Chrysler subiu quase 70% depois da eleição presidencial americana, mas já recuou 12% desde que as notícias da investigação foram divulgadas em 12 de janeiro.

O diário norte-americano diz que uma possível muita de até US$ 4,63 bilhões — valor igual ao lucro da empresa somado entre janeiro de 2013 e setembro de 2016 — pode eliminar qualquer esperança de que cumpra as metas financeiras. Alguns analistas disseram na sexta-feira esperar que a multa seja muito menor. “Considerando a contínua negação da Fiat, nesse estágio a base do nosso caso é [...] uma multa mínima, entretanto o risco de que o problema cresça não pode ser ignorado”, escreveu o analista Stuart Pearson, da corretora Exane BNP. Em especial, uma multa poderia destruir a meta de transformar cerca de 6,5 bilhões de euros (US$ 6,92 bilhões) em dívida industrial líquida da montadora em pelo menos 4 bilhões de euros (US$ 4,26 bilhões) em dinheiro até o fim de 2018. A Fiat Chrysler poderia atingir a meta da dívida com a venda de ativos, como sua participação na fabricante de peças Magneti Marelli, mas isso enfraqueceria a companhia ainda mais.

O noticiário fala que a investigação pode também embaralhar a corrida para a sucessão de Marchionne, que tem dito que o novo diretor-presidente virá de dentro da empresa. Acredita-se que entre os principais candidatos estejam o diretor financeiro Richard Palmer, o diretor da Jeep e Ram, Michael Manley, e o diretor de operações da empresa para Europa, Oriente Médio e África, Alfredo Altavilla. Até recentemente, algumas fontes internas da Fiat acreditavam que Manley era o substituto mais provável de Marchionne, mas a investigação da EPA pode afetar suas expectativas. Apesar da pressão, Marchionne, que superou a forte oposição dos sindicatos e do governo na Itália quando reorganizou fábricas enormes lá, não deve desistir sem uma batalha. Ele considerou as acusações da EPA “sem sentido” e disse que a agência “exagerou”.

O novo governo americano poderia mudar a maré. Marchionne conquistou elogios do presidente eleito Donald Trump com a decisão da Fiat Chrysler de investir US$ 1 bilhão em duas fábricas nos EUA, finaliza The Wall Street Journal.