Matéria publicada nesta quarta-feira (11) pelo The Wall Street Journal conta que o México teme a possibilidade de um recuo súbito na sua pujante indústria automobilística, depois que várias montadoras cancelaram planos de novos investimentos no país nos últimos dias ou anunciaram que poderão cancelá-los devido às ameaças do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de puni-las com impostos de importação. O diretor da Fiat Chrysler Automobiles, Sergio Marchionne, disse na segunda-feira (9) que a montadora pode sair totalmente do México se o governo Trump levar adiante a promessa de impor tarifas sobre os carros importados do México.
O Journal destaca que o México ganhou nove das 11 novas fábricas automobilísticas anunciadas na América do Norte ao longo de seis anos, de acordo com o Centro de Pesquisa Automotiva de Detroit, o que criou centenas de milhares de novos empregos e transformou o país no quarto maior exportador de veículos do mundo, atrás da Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Contudo, pelo menos uma dessas novas fábricas — e talvez mais, caso Trump leve adiante seus discurso — não será construída agora, depois que a Ford Motor Co. anunciou na semana passada que estava cancelando seus planos de construir uma fábrica de US$ 1,6 bilhão na cidade de San Luis Potosí, a cerca de 400 quilômetros da capital, Cidade do México. O anúncio alarmou muitas pessoas da região, que cresceu acostumada com constantes anúncios de aberturas de fábricas e de contratação de funcionários. Agora, cerca de 2.800 vagas da fábrica da Ford e milhares de outros empregos indiretos deixarão de ser criados.
O diário norte-americano afirma que o México produziu no ano passado 3,5 milhões de veículos leves, em comparação com 1,98 milhão dez anos antes, segundo informou na segunda-feira a associação da indústria automotiva. Apenas nos últimos quatro anos, o México atraiu US$ 17 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED) relacionados ao setor automotivo, de acordo com dados do governo. A manufatura automotiva é hoje o segundo maior setor do México, atrás do de processamento de alimentos. As dez montadoras estrangeiras presentes no México e seus 1.300 fornecedores — assim como uma dezena de fabricantes de caminhões pesados e ônibus — empregam 730 mil pessoas diretamente, de acordo com executivos da indústria.
O noticiário acrescenta que a indústria automotiva e de autopeças também responde por grande parte do déficit comercial dos EUA de US$ 60 bilhões com o México, segundo a Organização Internacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Os consumidores americanos compram mais de 65% dos carros que o México exporta. Isso pode explicar por que Trump tem se concentrado principalmente na indústria automotiva. Na semana passada, o ex-magnata do setor imobiliário criticou a Toyota Motor Corp. pelos seus planos de usar o México para exportar alguns de seus carros Corolla para os EUA, prometendo revidar com um imposto de importação sobre os veículos que ela trouxer cruzando a fronteira.
Por ora, a Toyota e outras montadoras afirmam que vão continuar no México. A diretora-presidente da General Motors Co., Mary Barra, disse na noite de domingo que a companhia não irá transferir sua produção de pequenos veículos do México para os EUA. Poucos lugares no México se tornaram tão dependentes da indústria automobilística do que a região no centro do país. A GM foi pioneira em meados dos anos 90 na cidade de Silao, no Estado de Guanajuato, que na época era um município agrícola. A Nissan, que tem outra fábrica ao sul da Cidade do México, começou a produção em Aguascalientes logo depois.
A Mazda começou produzindo carros há três anos em Salamanca, a cerca de 50 quilômetros ao sul de Silao, e a Honda, mais ou menos na mesma época, em Celaya, nas proximidades. A Toyota está começando a instalação da sua nova fábrica também perto de Celaya. A região tem fácil acesso à fronteira dos EUA e com as duas costas do país por duas ferrovias e uma moderna rede de rodovias de alta velocidade.
WSJ afirma que algumas autoridades mexicanas dizem que será difícil de brecar o crescimento do México como uma plataforma global de produção de veículos. Ao contrário do agora silencioso terreno da Ford, a construção de novas instalações em parques industriais próximos continua a todo vapor.