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'The Economist': Auditoria descobre falta grave da Deloitte Brasil

 Reportagem diz que mpresa ocultava evidências e retinha informações de inspetores

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Os escândalos contábeis não são novidade no Brasil. The Economist publicou nesta sexta-feira (9) uma matéria onde lembra inclusive que a ex-presidente Dilma Rousseff foi acusada de manipular as contas públicas e acabou sendo afastada em agosto deste ano do seu cargo. 

A reportagem também cita que alguns dos empresários mais importantes do setor de construção foram presos por participação no enorme esquema de corrupção da Petrobras. 

O noticiário britânico diz que o mais irônico é que o caso mais recente caso de fraude contábil no Brasil envolva justamente uma empresa que se destina a garantir que as empresas sejam transparentes, com tudo legalizado e dentro das normas.

> > The Economist America’s audit watchdog uncovers serious misconduct at Deloitte Brazil

Em 5 de dezembro o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas Públicas da América (PCAOB) multou o braço brasileiro da Deloitte, a maior das redes de contabilidade "Big Four", em US$ 8 milhões. No acordo, a Deloitte Brasil admitiu que violou os padrões de controle de qualidade e que falhou em cooperar com a inspeção e a investigação do PCAOB. O órgão insistiu nas admissões porque "isso demonstra a seriedade" do ocorrido, disse Claudius Modesti, diretor de investigações do órgão. Os 12 funcionários chegaram a um acordo sem admitir ou negar qualquer irregularidade. Segundo o PCAOB, a auditoria realizada em 2010 pela Deloitte Brasil na companhia aérea Gol Linhas Aéreas Inteligentes foi deficiente de várias maneiras. O auditor não conseguiu obter evidência suficiente de que a companhia aérea estava registrando de maneira precisa seus depósitos de manutenção, por exemplo. A Deloitte Brasil, porém, deu mesmo assim um atestado de saúde financeira à empresa.

Posteriormente, a auditoria adulterou dezenas de documentos para acobertar deficiências na auditoria, quando a PCAOB investigou a auditoria da Gol Linhas Aéreas como parte de uma inspeção regular da auditoria no Brasil. Pessoal da Deloitte Brasil também mentiu para o órgão regulador, disse ele.

Os 12 ex-funcionários da Deloitte Brasil alvos de sanções do PCAOB incluem o ex-líder de práticas de auditoria da companhia e o ex-diretor nacional de práticas profissionais. A maioria dos funcionários foi suspensa ou impedida de trabalhar para companhias que auditem companhias dos EUA. A Deloitte Brasil também concordou com outras sanções, entre elas a nomeação de um monitor independente e a proibição de aceitar certos trabalhos de auditoria até que o monitor confirme que a companhia adotou medidas para remediar os problemas.

The Economist destaca que a Deloitte foi acusada de uma manobra aparentemente similar nas auditorias da Oi, uma empresa de telecomunicações brasileira que pediu proteção de falência em junho.

The Economist ressalta que críticos de auditores citarão o caso Deloitte como mais uma evidência de que o mundo está sofrendo de um surto de fraude contábil. O PCAOB acaba de multar a Deloitte México em US$ 750 mil pela manipulação de documentos em uma auditoria. A consultoria PricewaterhouseCoopers, um das Big Four*, também foi alvo de um processo e teve que pagar uma multa de US$ 5,5 bilhões nos Estados Unidos, após ser  de não ter conseguido detectar uma fraude que acabou levando o Colonial Bank à falência em 2009, em meio à crise mundial. A acusação foi feita pela seguradora de hipotecas Taylor, Bean e Whitaker (TBW), que também faliu durante a crise e alega que a PwC falhou na detecção de uma conspiração entre Lee Farkas — fundador da TBW — e executivos do Colonial Bank, uma instituição americana que fornecia créditos à seguradora. O TBW diz que a PwC certificou a existência de US$ 1 bilhão em ativos do Colonial Bank que, na verdade, tinham sido vendidos ou não tinham valor.

The Economist acrescenta que outra empresa Big Four* não conseguiu apontar problemas na Toshiba, o que forçou a empresa japonesa a reajustar suas contas em US$ 1,9 bilhões.

Ainda assim, a tendência geral em todo o mundo tem sido pela limpeza da área de contabilidade. Na América uma boa prova disso é o valor da maior retificação contábil em um determinado ano. Ele despencou na última década, de mais de US$ 6 bilhões para menos de US $ 1 bilhão. A escala de todas as reformulações foi de apenas US$ 2,7 bilhões, ou apenas 0,3% de todos os lucros corporativos, em 2015. As normas fora dos Estados Unidos também melhoraram, em parte porque a Europa e muitas economias emergentes, incluindo a América Latina, estão ficando mais sérias . O fiasco brasileiro da Deloitte é deprimente, mas pelo menos está sendo descoberto e punido, finaliza The Economist.

*Big Four é a nomenclatura utilizada para se referir às quatro maiores empresas contábeis especializadas em auditoria e consultoria do mundo. Fazem parte deste seleto grupo as empresas EY, PwC, Deloitte e KPMG.