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'WSJ': Dólar forte preocupa exportadores dos EUA, mas alivia firmas europeias

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Matéria publicada nesta quinta-feira (8) pelo The Wall Street Journal observa que o dólar está em uma fase prolongada de alta, e isso tem levado grandes empresas dos dois lados do Atlântico a repensar suas estratégias. Os exportadores americanos estão se preparando para tempos difíceis. Seus produtos inesperadamente ficaram mais caros em muitos países, e os lucros obtidos no exterior ficam menores quando revertidos a dólares. Já para os exportadores europeus, o fortalecimento do dólar tem criado oportunidades. A moeda americana se valorizou 4,3% em relação ao euro desde as eleições presidenciais de 8 de novembro, recentemente se aproximando de uma máxima de 14 anos, o que dá às empresas internacionais vantagens competitivas de preços sobre as concorrentes americanas.

A reportagem analisa que as oscilações cambiais tendem a ser inconstantes, tornando mais arriscado tomar qualquer medida ousada para contê-las. Desta vez, porém, os fundamentos parecem apontar para uma continuação da valorização do dólar — o que encoraja executivos a agir. O euro estava sendo negociado ontem a US$ 1,0718. A libra esterlina, entretanto, caiu de forma expressiva ante o dólar depois da decisão britânica em junho de deixar a União Europeia. De forma geral, cada 10% de valorização do dólar se traduz em um aumento de 3% no lucro operacional da Campari. Kunze-Concewitz disse, em entrevista ao The Walll Street Journal, estar analisando aquisições que poderiam elevar essa exposição ao dólar. 

O Journal acrescenta que no início do ano, a Campari comprou a fabricante francesa de licor de laranja Grand Marnier, cujas vendas são concentradas em mais de 50% nos EUA. A maioria dos economistas prevê que o Federal Reserve, o banco central americano, irá elevar os juros em meados de dezembro, e existe um consenso nas previsões que indicam mais duas altas em 2017. O Fed pode se tornar ainda mais altista se as promessas do presidente eleito Donald Trump de estímulos fiscais derem impulso à inflação. O aumento dos juros tende a impulsionar a moeda, já que tornam os investimentos em dólar mais atraentes devido à perspectiva de juros maior.

Outro suporte para o dólar deve ser dado pelos republicanos no Congresso, que planejam incentivos fiscais criados para as empresas americanas que repatriarem os lucros gerados no exterior. Se as empresas reinvestirem uma fatia significativa desses dólares, a economia americana pode se fortalecer também, potencialmente elevando a pressão para um aumento nos juros.

Isso tem sido um problema para muitas empresas americanas que possuem grande exposição aos mercados externos. Cerca de 60% das vendas de empresas de tecnologia no S&P 500 estão fora dos EUA, segundo dados da firma de monitoramento do setor FactSet. Quase metade das vendas de empresas de bens básicos do país e mais de 35% de empresas de energia e industriais estão no exterior.

Para algumas empresas, a exposição é consideravelmente maior. Molson Coors BrewingCo., Qualcomm Inc., Texas Instruments Inc., Priceline Group Inc., Intel Corp. e Yum Brands Inc. registram 75% ou mais de suas vendas fora dos EUA, segundo a FactSet.

A exposição das vendas no exterior para a maioria das empresas americanas frequentemente tem nuances. Os produtores de petróleo, fabricantes de aeronaves e de equipamento pesado, por exemplo, frequentemente vendem seus bens em dólar em todo o mundo. E os fabricantes de bens de consumo podem produzir seus artigos perto dos mercados finais, reduzindo o impacto cambial.

Ainda assim, muitas empresas americanas estão sofrendo grandes golpes, e estudando formas de reduzir os efeitos dos ventos contrários. A gigante de bens de consumo Procter & Gamble Co., por exemplo, informa que o câmbio em todo o mundo consumiu sete pontos percentuais do lucro ajustado no trimestre encerrado em 30 de setembro. A empresa de redes Cisco Systems Inc. alertou em novembro que as oscilações cambiais levaram alguns clientes fora dos EUA a suspender os investimentos até que o cenário cambial fique mais claro.

Os executivos da Procter & Gamble alertaram no mês passado que não há uma solução fácil para a continuidade do fortalecimento do dólar e que estratégias como corte de custos, alteração de preços e do leque de produtos levariam tempo.

O fortalecimento do dólar tem pressionado especialmente o euro. Do outro lado do Atlântico, o Banco Central Europeu ainda está longe de aumentar juros. De fato, o banco deve fazer exatamente o oposto hoje, ao estender o programa de compra de títulos de dívida destinado a manter os juros baixos.