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'WSJ': Chuva chegou tarde demais para o café brasileiro e preços continuarão a subir

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Matéria publicada nesta terça-feira (6) pelo The Wall Street Journal relata que mesmo com o início das chuvas, a seca que forçou cafeicultores brasileiros como Carlos Babilon a arrancar seus pés de café deve continuar a dar impulso aos preços da commodity. Babilon arrancou cerca de oito mil pés de café de sua fazenda no Espírito Santo, um Estado fundamental para a produção do grão tipo robusta usado na fabricação do café instantâneo no mundo todo. A prolongada ausência de chuvas deixou os pés ressecados demais para serem salvos, especialmente os mais velhos, diz Babilon, que vem de uma família que produz café há quatro gerações. Quase três anos de seca na região sudeste brasileira afetaram a produção, reduziram a renda dos produtores e ajudaram a elevar os preços mundiais do café para níveis não vistos em muitos anos. As chuvas voltaram em novembro ao Espírito Santo, mas produtores e analistas dizem que elas vieram tarde demais para salvar a safra atual. Alguns cafeicultores migraram para outros produtos, como bananas e mangas, privando o mercado mundial de um potencial abastecimento de café.

A reportagem do Journal afirma que o impacto duradouro dessa seca pode deixar o mercado global de café com uma demanda maior que a oferta por pelo menos dois anos, pressionando os preços e forçando os torrefadores a encontrar fontes alternativas de grãos fora do Brasil. O banco prevê que uma escassez na oferta do café robusta brasileiro provocará um déficit de 2,8 milhões de sacas na atual safra 2016-17, o que representa 1,8% da safra total. Na safra seguinte, o déficit potencial é de 2 milhões de sacas, previu o Rabobank. Existem duas variedades principais de grãos de café: o arábica, considerado mais sofisticado, e o robusta, de sabor amargo e elevado grau de cafeína, encontrado nos cafés instantâneos e nos expressos italianos. O Brasil é o principal produtor mundial de café robusta, responsável por cerca de 20% da produção global, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, (USDA, pela sigla em inglês). Cerca de 75% da oferta brasileira desse grão vem do Espírito Santo, que vem sofrendo “continua e severamente” com a ausência de chuvas desde 2014, segundo o USDA. Na safra 2015-16, a produção de robusta do Estado caiu 24% ante a safra anterior, para 9,9 milhões de sacas de 60 quilos. Em novembro, o USDA estimou que a produção cairá na safra atual, que termina em junho de 2017,aproximadamente mais 35%.

O diário acrescenta que a ameaça ao abastecimento global provocou uma forte alta de preços nos mercados do arábica e do robusta. Esses ganhos também foram fortalecidos por um aumento das compras por fundos especulativos e pela valorização do real, o que tornou as exportações brasileiras mais caras em dólar. Em novembro, os contratos futuros de robusta negociados em Londres registraram um recorde de alta de quatro anos, para US$ 2.251 por tonelada. Na sexta-feira, o contrato de janeiro deu um salto de 3,87% para US$ 2.067, ficando inalterado no pregão de ontem. Como os grãos do café tipo arábica podem ser usados como alternativa quando a oferta de robusta está em queda, a redução da oferta do Brasil também elevou os preços no mercado de arábica, que é maior e mais líquido que o robusta, em novembro, para uma máxima não vista em quase dois anos, apesar da abundante oferta de arábica na safra atual.

“Eu acho que o pior já passou”, diz Rodrigo Costa, analista de café do banco francês Société Générale em Nova York.