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'WSJ': Onda de populismo é a nova grande ameaça à sobrevivência do euro

De fato, a moeda comum parece prestes a participar de várias rodadas de roleta russa

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Matéria publicada nesta segunda-feira (5) pelo The Wall Street Journal conta que o euro sobreviveu a moratórias de dívidas soberanas, recessões, crises bancárias e resgates financeiros. Mas talvez a moeda comum da União Europeia não sobreviva ao populismo. No próximo ano, a zona do euro será palco de pelo menos cinco eleições ou referendos que poderiam levar ao poder um partido populista e opositor à unificação do continente, grupos conhecidos como eurocéticos. De fato, a moeda comum parece prestes a participar de várias rodadas de roleta russa. A ameaça populista é qualitativamente diferente da crise financeira que eclodiu primeiro na Grécia, em 2009, e acabou envolvendo metade da União Europeia. Naquela situação, o que preocupava os investidores do setor privado era que um país, ou seus bancos, deixasse de pagar suas dívidas e fosse forçado a abandonar o euro. Os investidores fugiram rapidamente, provocando um disparo nas taxas de juros e levando o continente a uma profunda recessão.

A reportagem do Journal diz que o Banco Central Europeu controlou o pânico ao efetivamente prometer que não permitiria que qualquer país fosse forçado a deixar o euro. Em contraste, a grande ameaça hoje é que um país acabe optando por deixar o euro por conta própria. Andrew Balls, que supervisiona a estratégia de títulos de dívida na Pacific Investment Management Co., diz que “é difícil imaginar como o BCE poderia combater um governo francês convocando um referendo sobre o euro”. O primeiro teste acontecerá no domingo, quando os italianos votam uma nova constituição e os austríacos elegem um novo presidente. Dependendo dos resultados dessas duas votações, isso poderia preparar o caminho para novas eleições que, num futuro próximo, poderiam levar ao poder o 5 Estrelas, movimento opositor à elite governante, na Itália, ou o Partido da Liberdade, de extrema-direita, na Áustria. No próximo ano, a França, a Alemanha e a Holanda realizarão eleições nacionais.

O maior risco, de acordo com o texto do WSJ, é que Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido que é opositor ferrenho ao euro, seja eleita presidente da França. A expectativa é que Le Pen não saia vitoriosa na segunda rodada contra o candidato republicano François Fillon, e mesmo se saísse, seu partido não controlaria o Parlamento. De fato, poucos dos partidos populistas da Europa Ocidental são fortes o suficiente para formar um governo sem fazer alianças.

O jornal norte-americano observa que o momento da história atual está se movendo em favor desse grupo. É certo que os britânicos votaram para deixar a União Europeia e os americanos elegeram Donald Trump por razões com as quais os eleitores europeus talvez não se identifiquem. No entanto, o fato de que os eleitores britânicos e americanos desafiaram as elites no poder e não pagaram o preço econômico previsto reduz o estigma para aqueles europeus inclinados a fazer de seu voto um protesto aos governantes atuais. Além disso, a elite no poder está perdendo um aliado importante: Barack Obama é um grande defensor da UE e do euro. Já Trump e os partidos eurocéticos da Europa, pelo contrário, são companheiros de jornada.

O noticiário destaca que a durabilidade do euro não deve ser subestimada. Apesar das misérias criadas pela moeda comum, as pesquisas de opinião pública mostram sólidas maiorias a favor da manutenção do euro em cada um dos grandes países membros da UE. Na verdade, o euro é muito mais popular que os populistas que adorariam enterrá-lo. O movimento Alternativa para a Alemanha começou como um partido antieuro, mas ia mal nas pesquisas até que um influxo de refugiados do Oriente Médio elevou o interesse dos eleitores em suas propostas anti-imigração.

Com isso em mente, os populistas podem suavizar sua oposição à moeda comum à medida que se aproximam do poder. A Frente Nacional, por exemplo, pode diminuir suas críticas à zona do euro quando lançar sua plataforma para 2017, conclui o Wall Street Journal.