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'Deutsche Welle': Opep tenta voltar a agir como cartel

Reportagem analisa influência da organização em coordenar produtores mais fortes 

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Matéria publicada nesta sexta-feira (28) pelo jornal Deutsche Welle analisa que já passou o tempo em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) causava agitação nos mercados de commodities com simples insinuações. Mas, acima de tudo, é a falta de clareza sobre uma linha comum de direção que, recentemente, deu ao cartel do petróleo uma imagem de não servir para nada.

Reportagem do jornal alemão diz que por este motivo causou surpresa nos mercados a notícia divulgada depois de um encontro na Argélia, em setembro: 

"Os países-membros querem reduzir a produção diária em conjunto, dizia a carta de intenções". Mais detalhes em novembro, dizia a nota.

O Welle informa que o corte previsto, de 750 mil barris por dia, é o maior desde a crise financeira de 2008. Para garantir o sucesso da medida, líderes dos países produtores trabalham arduamente. Ao que tudo indica, a maior dificuldade é alcançar a prometida unidade. 

O diário destaca que declarações recentes do Iraque, o segundo maior produtor da Opep, que pediu para ser deixado de fora do acordo, mostram como isso está sendo difícil. O ministro iraquiano da Energia, Jabar Ali al-Luaibi, argumentou que o país precisa do dinheiro para financiar o combate ao "Estado Islâmico. O Iraque teme que, se for obrigado a cortar a produção, poderá perder recursos, mesmo com uma eventual elevação do preço. Essa posição será duramente combatida pela Arábia Saudita e seus aliados do Golfo, afirmam pessoas de dentro da Opep.

> > Deutsche Welle Opec ringt um die Öl-Allianz

Ajuda de Putin

O noticiário fala que a Opep tem um coringa na manga: Moscou. A Rússia não é um membro do cartel, mas, só em setembro, gerou 400 mil barris por dia, quantidade que não produzia desde os tempos da União Soviética. E, há duas semanas, o presidente Vladimir Putin comunicou que a Rússia estava disposta a juntar-se à iniciativa para reduzir a produção. Só com essa simples declaração, o preço da commodity deu um salto: o barril do Brent, de referência na Europa, chegou a ser comercializado a 53,50 dólares, maior valor em 2016. Desde então, tem se mantido na casa dos 50 dólares.

Mas no dia seguinte à declaração de Putin, o presidente da Rosneft, a maior empresa de petróleo da Rússia, posicionou-se contra uma redução, relata o texto do Deutsche Welle. A linha foi seguida pelo ministro da Energia, Alexander Novak. Putin não deve ter gostado das declarações e recolocou ordem na casa. Pouco depois, o mesmo ministro da Energia foi a público dizer que as empresas petrolíferas mais importantes do país estavam dispostas a aderir à redução.

Para o especialista Harald Hecking, da Universidade de Colônia, a Rússia só vai concordar com um corte na produção se todos os países-membros da Opep participarem do acordo. A lógica por trás dessa estratégia, segundo Hecking, é simples: se todos participarem, o preço do petróleo subirá, o que compensará o declínio das receitas causado pela diminuição da produção e das vendas.

Venezuela e Irã

A Rússia não é a única a esperar que o preço do barril volte a subir, comenta o Welle; em grave crise política e econômica, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também pode se beneficiar do encarecimento do petróleo. "Estamos trabalhando numa nova fórmula para a estabilidade na próxima década", disse Maduro, na semana passada, durante uma visita ao Azerbaijão. A Venezuela tem as maiores reservas do mundo, mas a estatal PDVSA está à beira da falência.

Isso também explica por que Maduro se nomeou o salvador do preço do petróleo. Antes da visita ao Azerbaijão, ele esteve no Irã – por muito tempo um dos grandes dissidentes dentro da Opep. Até pouco tempo, Teerã se pronunciava contra uma redução da produção, procurando recuperar um pouco do terreno perdido no mercado global depois de décadas de embargos do Ocidente.

Mas, desde o fim de setembro, o presidente Hassan Rohani tem se aproximado da retórica da Opep. "O Irã apoiará qualquer iniciativa que leve a taxas equitativas de produção e preços justos do petróleo", disse o líder iraniano, durante a visita de Maduro.

Mas o presidente venezuelano também sabe que o aumento do preço do petróleo não será alcançado somente com uma diretriz da Opep.

Combustível americano

Mesmo que um acordo dentro da Opep ainda seja incerto, surge a pergunta de quanta influência a Opep, aliada à Rússia, ainda tem no mercado. "Em curto prazo, essa parceria certamente alavancaria os preços do petróleo", diz Hecking.

O Deustche Welle diz que segundo o especialista, somente até certo ponto, pois o óleo de xisto americano, por exemplo, poderá novamente a se tornar lucrativo se os preços subirem e chegar em grandes quantidades ao mercado. Ele já pode valer a pena a partir de 40 dólares por barril, calcula Hecking, e a maioria das áreas de exploração de xisto dos EUA já seria rentável a partir de 60 dólares por barril. "Análises mostram que as indústrias de xisto se tornaram bem mais eficientes", afirma.