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'WSJ': Reguladores severos da Europa atrasam megafusões agrícolas

Reportagem analisa leis anti truste da Europa e cita recentes negociações

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Matéria publicada nesta quinta-feira (27) pelo The Wall Street Journal fala que uma análise ampla vem sendo conduzida pelos reguladores da concorrência na União Europeia e atrasando algumas das grandes fusões que prometem transformar o setor do agronegócio.

A reportagem conta que a Syngenta AG, fabricante suíça de sementes e pesticidas, afirmou que a aprovação de sua planejada venda para a China National Chemical Corp. será provavelmente prorrogada até o início de 2017, enquanto os reguladores obtêm mais informações sobre a onda de consolidação em curso no setor.

> > The Wall Street Journal Megamergers Face Delays From Heightened EU Scrutiny

Erik Fyrwald, diretor-presidente da Syngenta, disse, em entrevista ao The Wall Street Journal, que a pretendida aquisição da Monsanto pela Bayer AG — que criaria a maior empresa de sementes e pesticidas do mundo — levou os reguladores a solicitar uma quantidade de informações sobre o negócio entre a Syngenta e a ChemChina “que ele nunca havia visto antes”.

O jornal norte-americano opina que os comentários indicam que a Comissão Europeia, que é o braço executivo e o regulador da concorrência na UE, vai provavelmente abrir uma investigação sobre a o negócio entre a Syngenta e a ChemChina até amanhã, o prazo para a UE completar a análise inicial da fusão. A UE geralmente examina as fusões caso a caso e na ordem em que foram registradas nos órgãos reguladores. Mas a comissária de proteção à concorrência do bloco, Margrethe Vestager, já sinalizou que, nesse caso, a análise levaria em consideração o fato de que várias fusões estão ocorrendo ao mesmo tempo no setor do agronegócio.

A Bayer informa que está preparando documentos para que os reguladores aprovem seu plano, anunciado em setembro, de comprar a gigante americana Monsanto por US$ 57 bilhões. Ontem, seu diretor-presidente Werner Baumann defendeu a fusão, dizendo que era “um passo totalmente lógico. As duas firmas se complementam perfeitamente”, acrescentou.

A Comissão Europeia não quis comentar, informa o WSJ.

Nos Estados Unidos, o boom de fusões e aquisições no setor gerou preocupações nos Estados agrícolas e atraiu a atenção até mesmo de líderes do Partido Republicano, de oposição, que tendem a ser mais avessos a intervenções do governo. O acordo entre ChemChina e Syngenta, entretanto, já superou um grande obstáculo regulatório nos EUA ao obter a aprovação do Comitê de Investimentos Estrangeiros do país, órgão estatal com poder de bloquear negócios vistos como uma ameaça à segurança nacional.

Os reguladores da UE vão provavelmente avaliar certos efeitos dos acordos de forma mais rígida que outras jurisdições, diz Ioannis Lianos, professor de leis de concorrência global na Universidade College London.

Os reguladores da UE devem ser mais exigentes que seus pares de outras regiões ao questionar se as fusões criam barreiras altas demais para a entrada de novos concorrentes no mercado, principalmente se houver um risco de que as empresas criem produtos que só funcionem com suas próprias marcas, diz ele.

Fyrwald diz que a UE solicitou à Syngenta dados geográficos e sobre produtos agrícolas e ingredientes ativos. Ele diz que as empresas não cumpriram o prazo de enviar até a sexta-feira passada as respostas a possíveis questões de concorrência levantadas pelos reguladores porque eles não forneceram o feedback necessário.

A análise do negócio da Syngenta ocorre em paralelo a uma investigação profunda que a UE abriu sobre a fusão entre Dow e DuPont, numa tentativa de determinar se a fusão poderia provocar uma alta nos preços das sementes e pesticidas. A comissão disse que considerou as concessões da Dow e da DuPont delineadas em julho “insuficientes para eliminar claramente dúvidas sérias” sobre se o acordo obedece as regras da UE.

O Journal informa que na terça-feira (25), o diretor-presidente da DuPont, Ed Breen, disse, durante uma conferência telefônica com analistas, que a fusão com a Dow deve ser concluída agora no primeiro trimestre de 2017, em vez de antes do fim do ano, devido à prolongada análise da UE. Ele disse que as discussões com as autoridades antitruste em outros países, inclusive dos EUA, Brasil e China, estão sendo construtivas e fazendo progresso.

No caso do negócio entre a Bayer e a Monsanto, embora analistas digam que a divisão de ciência de lavouras das duas empresas sejam complementares, elas podem ter que vender alguns negócios comuns, como o de sementes de algodão e canola e o de herbicidas, para satisfazer as exigências dos reguladores, finaliza The Wall Street Journal.