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'WSJ': Sem dinheiro para manter poços, Venezuela vê petróleo virar fumaça

FMI diz que produção global caiu apenas 0,5% desde o início da queda nos preços

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Matéria publicada nesta terça-feira (25) pelo The Wall Street Journal analisa que a cidade de Punta da Mata, um decadente polo petrolífero na Venezuela, tem um brilho sinistro à noite, iluminada pelas chamas de dezenas de poços que queimam petróleo e gás preciosos por falta de equipamentos em condições de processá-los. Todo mês, as colunas de fumaça da cidade ficam maiores, um desperdício flagrante num momento em que a Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do mundo, precisa desesperadamente de dinheiro para importar os alimentos e remédios que escasseiam no país. Os poços estão, literalmente, queimando dinheiro.

O Journal destaca que para piorar, para cada barril de petróleo queimado em Punta de Mata, a Venezuela precisa gastar dólares importando diluentes para misturar ao petróleo pesado produzido no sul. A má conservação dos campos mais antigos, como os de Punta de Mata, responsáveis pela maior parte da receita da Venezuela, é uma das principais razões por que a produção de petróleo do país está caindo mais rapidamente do que a dos demais grandes produtores de petróleo, com exceção da Nigéria, um país assolado por rebeliões.

O diário financeiro acrescenta que a produção de petróleo bruto da Venezuela caiu 11% nos 12 meses encerrados em setembro, para 2,3 milhões de barris por dia, segundo dados do governo, e a consultoria Medley & Associates espera que o recuo se acelere nos próximos 12 meses. A não ser que haja um aumento nos preços do petróleo, a queda na produção vai agravar a já séria crise do país, cuja economia deve contrair mais 10% neste ano.

O WSJ fala que o governo está com dificuldades para obter os dólares suficientes para importar bens básicos e pagar quase US$ 16 bilhões em dívida externa entre agora e o fim de 2017. Nos campos de petróleo que pontuam a savana no leste do país, bombas de produção seguem paradas devido à falta de peças, balsas de transporte de petróleo abandonadas enferrujam nas praias e trabalhadores que ganham US$ 9 por semana frequentemente não trabalham todos os turnos.

O jornal norte-americano aponta que o número de sondas de petróleo em funcionamento na Venezuela caiu 25% no ano encerrado em setembro, segundo a empresa americana de serviços de petróleo Baker Hugues Inc. Hoje há mais sondas operando em Omã, onde as reservas comprovadas são apenas 1,7% das existentes na Venezuela. O presidente socialista Nicolás Maduro atribui a crise econômica do país aos Estados Unidos, que ele acusa de ter orquestrado o colapso dos preços do petróleo para ajudar a economia americana. A queda nos preços do petróleo, de US$ 100 o barril em meados de 2014 para cerca de US$ 50 em junho, corroeu perto de 65% da receita com exportações da Venezuela, prejudicando os investimentos, diz o governo.

A produção global, por outro lado, caiu apenas 0,5% desde o início da queda nos preços, segundo o Fundo Monetário Internacional. Muitos produtores, como a Rússia e o Irã, na verdade, elevaram a produção. Os trabalhadores do setor em Punta de Mata, que já foi o maior polo produtor de petróleo da Venezuela, culpam as expropriações do governo, a corrupção e a queda dos salários pelo recuo da produção na Venezuela, que vem abalando a PDVSA, finaliza The Wall Street Journal.