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'WSJ': Para os corajosos, alto risco da Venezuela compensa

Ameaçados de moratória, títulos soberanos do país já renderam 46% no ano

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Matéria publicada nesta segunda-feira (24) pelo The Wall Street Journal analisa que a Venezuela está sendo atingida por uma fome generalizada, mortalidade infantil cada vez maior e uma inflação de 500% ao ano, mas mesmo assim, seus títulos soberanos são os bônus de melhor desempenho dos mercados emergentes neste ano, tendo gerado um retorno aos investidores de 46% até sexta-feira. O governo do presidente Nicolás Maduro continua pagando bilhões de dólares por ano para rolar a dívida da Venezuela, mesmo que isso impeça o país de importar comida e remédios suficientes para a população. A situação tem polarizado os investidores em ativos de mercados emergentes. Alguns gestores de grandes fundos estão dobrando suas apostas nos títulos venezuelanos para aproveitar os retornos elevados. Outros estão evitando totalmente o país porque acreditam que uma moratória seja inevitável.

A reportagem do Journal alerta que a Venezuela terá que pagar US$ 15 bilhões em títulos que vencem até o fim de 2017 e tem cerca de US$ 12 bilhões em reservas estrangeiras. Com aproximadamente US$ 65 bilhões em títulos do governo e da PDVSA a vencer, uma moratória teria consequências políticas e financeiras generalizadas. Os compradores dos títulos do governo estão apostando que ele continuará pagando para evitar que credores tentem confiscar ativos internacionais, incluindo carregamentos de petróleo, uma fonte de receita vital do altamente impopular governo Maduro.

O jornal norte-americano observa que a capital Caracas era um centro financeiro da América Latina na década de 80, cheia de arranha-céus reluzentes e empresas de petróleo determinadas a explorar a maior reserva estatal de petróleo do mundo. Mas o boom dos lucros com o petróleo evaporou na década de 90, quando os preços da commodity caíram, enquanto a corrupção e o clientelismo desacreditaram os dois partidos existentes. Em 1998, Hugo Chávez subiu ao poder em uma onda de populismo. Sua reforma socialista, contudo, jogou a economia numa derrocada que seu sucessor, Maduro, tornou ainda pior.

O WSJ fala que para economizar os escassos dólares necessários para o pagamento dos títulos, o governo está suspendendo a manutenção da infraestrutura básica e acabando com subsídios para alimentos e serviços, tornando a vida cada vez mais difícil para os cidadãos comuns e fazendo a inflação disparar.

Embora sempre existam incertezas nas crises de dívida soberana, elas tendem a seguir um roteiro previsível, diz o Wall Street Journal. Quando os investidores param de comprar novos títulos de um país — como fizeram com a Argentina, Grécia e, agora, a Venezuela — seus líderes tentam obter empréstimos emergenciais com bancos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional. Essas agências geralmente exigem reformas econômicas em troca de novos empréstimos e, frequentemente, pedem aos credores do país para arcar com parte do socorro participando de trocas de títulos que envolvem reduções da dívida.

O diário financeiro aponta que a Venezuela não negociou com o FMI desde que o ex-presidente Chávez rompeu com o fundo, em 2007. Em vez disso, o país pediu à China cerca de US$ 50 bilhões em empréstimos garantidos por petróleo. A China tem se tornado cada vez mais o último recurso dos mercados emergentes ricos em commodities, mas mantém em segredo os termos dos acordos, elevando a incerteza dos investidores.

The Wall Street Journal conclui que para alguns que mantêm os títulos da Venezuela, a aposta é que o governo não vai durar muito. Esses investidores acreditam que os ativos da Venezuela serão reavaliados quando um novo governo assumir a presidência e, provavelmente, abrir as portas para uma ajuda do FMI. As volumosas reservas de petróleo ainda dão ao país um potencial enorme de crescimento, dizem eles.