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'WSJ': Amazon quer competir com UPS e FedEx no setor de entregas

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Matéria publicada nesta quarta-feira (28) pelo The Wall Street Journal conta que pouco antes da hora do rush em uma manhã recente, uma brigada de vans se aproximava de um armazém de paredes baixas, perto do Aeroporto Internacional de Los Angeles. Trabalhadores vestidos com coletes verdes fluorescentes carregaram cada furgão com cerca de 150 pacotes da Amazon.com e a frota seguiu fazendo entregas de porta a porta na grande região metropolitana da cidade.

Segundo a reportagem esse ritual logístico não foi realizado pelas tradicionais empresas de entrega United Parcel Service Inc. (UPS) e FedEx Corp. nem pelo serviço de correios dos Estados Unidos, que há muito tempo cuidam do transporte de pacotes da gigante global do varejo on-line. Ele era parte de uma operação da própria Amazon.com Inc., que está preparando o terreno para lançar seu próprio negócio de transporte de cargas, em um desafio ousado aos titãs americanos do frete. Os executivos da Amazon dizem publicamente que entrar no mercado de entregas é uma maneira lógica de adicionar capacidade, particularmente durante a época de pico de vendas do Natal. Mas entrevistas com cerca de 20 gestores atuais e antigos e parceiros de negócios da Amazon indicam que a varejista tem ambições mais amplas que as admitidas publicamente.

De acordo com o WSJ o objetivo da Amazon, dizem essas pessoas, é um dia não só fazer as entregas de suas operações, mas também as de outros varejistas e consumidores — potencialmente transformando a relação tradicional entre o vendedor e as transportadoras. Alguns executivos chamam a iniciativa de “Consuma a Cidade”, em alusão aos planos da empresa de construir uma rede massiva de entregas nos EUA que em algum momento possa competir com parceiros atuais, como a UPS, de acordo com pessoas a par do assunto. Executivos das empresas líderes na entrega de mercadorias estão céticos, assim como analistas e especialistas em logística. Eles dizem que seria difícil e caro construir uma rede de distribuição que possa concorrer com os grandes participantes do mercado doméstico nos EUA, especialmente depois da tentativa fracassada de bilhões de dólares da DHL Express, empresa da alemã Deutsche Post AG, de fazer o mesmo no início dos anos 2000.

O jornal norte-americano diz que a FedEx, que tem sede em Memphis, afirma que está investindo mais de US$ 5 bilhões anualmente em expansão e melhorias; enquanto a UPS informa que gasta mais de US$ 2,5 bilhões por ano. Ambas atuam no mundo todo com cerca de 4 mil centros principais e outras instalações para classificar dezenas de milhões de pacotes por dia. Juntas, elas operam mais de mil aviões e 200 mil veículos que fazem a entrega de encomendas de porta a porta.

O Journal acrescenta que a UPS, com sede em Atlanta, demonstra dar pouca importância a qualquer ameaça competitiva. Em uma teleconferência com analistas, o diretor comercial, Alan Gershenhorn, disse que seria difícil replicar sua rede. Em um comunicado enviado por e-mail, um porta-voz da Amazon disse que “estamos muito felizes de ter a capacidade de entrega que nossas transportadoras parceiras podem oferecer. Elas proveem um serviço de alta qualidade, e nossos esforços próprios de entrega são necessários para completar essa capacidade, em vez de substituí-la”.

Dentro da empresa, os executivos descrevem, nas palavras de um funcionário do alto escalão, como a Amazon “está construindo uma rede completa de serviços de logística e transporte de forma eficaz a partir do zero”.

A incursão da Amazon no setor de transporte reflete uma disposição entre as poderosas empresas de tecnologia de hoje de desafiar as restrições tradicionais aos seus negócios e entrar em novos setores.

A empresa, que começou como uma livraria on-line, ganhou credibilidade como produtora de programas de TV e filmes. A Amazon Web Services, que fornece servidores de dados para grandes empresas, agora é sua divisão de mais rápido crescimento, com pelo menos US$ 10 bilhões em vendas previstas para este ano.

Agora, o palco está montado para a Amazon avançar contra parceiros que ajudaram a solidificar seu sucesso. As despesas de envio como um percentual das vendas têm aumentado a cada ano desde 2009. No ano passado, a Amazon gastou US$ 11,5 bilhões com transporte, ou 10,8% das vendas, ante 7,5% em 2010. A receita total foi de US$ 107 bilhões em 2015.

A empresa poderia economizar US $ 1,1 bilhão por ano se ela deixar de usar a UPS e a FedEx, estimam analistas do Citigroup Inc.

A Amazon já oferece seu próprio serviço de entregas de encomendas em cerca de 70 instalações em 21 Estados americanos, a maioria construída nos últimos dois anos, segundo a consultoria MWPVL International Inc. Hoje, 44% da população dos EUA vive a cerca de 30 quilômetros de uma instalação de Amazon, em comparação com 5% em 2010, de acordo com o banco de investimento Piper Jaffray.

O texto afirma que tudo isso ajuda a explicar porque a Amazon quer mais controle sobre sua rede de entregas. Ela pretende oferecer mais opções de horários, incluindo aqueles indisponíveis nas operadoras tradicionais, dizem pessoas a par do plano. O custo desse sistema é desconhecido.

Para ajudar na supervisão do projeto, relata o Wall Street Journal, que a Amazon recontratou este ano Tim Collins, que passou 16 anos liderando as operações de varejo da Amazon na Europa antes de se unir à Uber Technologies, em 2014, como diretor global de logística. A Amazon também contratou dezenas de executivos da UPS e FedEx e centenas de funcionários da UPS nos últimos anos, dizem essas pessoas. A empresa vem comprando caminhões, construindo drones e buscando alternativas de transporte marítimo. Em agosto, ela apresentou seu primeiro Boeing 767-300 de uma frota de 40 unidades que ela usará em seu serviço de logística Prime Air. Criar uma rede logística complexa pode dar à Amazon uma fatia do mercado mundial de entregas que, segundo a empresa de serviços financeiros Robert W. Baird, gera cerca de US$ 400 bilhões em receita por ano.

O projeto pode prejudicar a relação da Amazon com a UPS e a FedEx. A Amazon responde por cerca de US$ 1 bilhão da receita da UPS, segundo pessoas a par do assunto. Até mais importante é o fato de que a Amazon ajuda tanto a UPS quanto a FedEx a serem mais rentáveis ao contribuir para que mais entregas sejam feitas em uma mesma área. Se a Amazon retirar muitas entregas dessas empresas, elas podem reagir cancelando alguns descontos que oferece hoje, finaliza o The Wall Street Journal.