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'WSJ': Produtores de petróleo cortejam pequenas refinarias da China

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Matéria publicada nesta terça-feira (27) pelo The Wall Street Journal conta que quando os ministros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo se reuniram logo no início do colapso dos preços, dois anos atrás, para fazer um balanço de uma indústria em crise, eles apostaram que a demanda das petrolíferas estatais chinesas e os esforços de Pequim para abastecer suas reservas estratégicas impulsionariam a commodity. Atualmente, a Opep conta cada vez mais com uma força nova e muito menos previsível para ampliar suas exportações: as refinarias de petróleo do setor privado da China, conhecidas como “teapots”, cuja demanda por petróleo estrangeiro vem ajudando a remodelar os mercados mundiais da matéria-prima.

A reportagem do Journal diz que enquanto a crise do petróleo mostra poucos sinais de reversão, as refinarias independentes da China vêm surgindo como o motor mais importante e menos conhecido dos mercados de petróleo hoje. Elas foram as principais responsáveis pelo aumento de 13,5% este ano nas importações de petróleo da China, que agora disputa com os Estados Unidos o posto de maior importador mundial de petróleo bruto. Há alguns anos, as refinarias privadas da China eram participantes minúsculas na indústria dominada pelo Estado. Suas origens são tão humildes que, há mais de 20 anos, muitas contavam com modelos de negócio nos quais trabalhadores vendiam gasolina nas estradas da província costeira de Shandong, ao sul de Pequim, diretamente de galões, diz Luo Wenbo, gerente geral da Sunshine Oil, divisão de trading em Cingapura da Shandong Chambroad Petrochemical. 

O jornal norte-americano observa que hoje as ruas de Shandong estão abarrotadas de postos de gasolina de propriedade dessas refinarias privadas — só a Chambroad tem cerca de 200 — e as importações de petróleo bruto para a província dispararam mais de 60% este ano, provocando uma fila de navios petroleiros esperando até uma semana para descarregar no porto de Qingdao, na região, há alguns meses. Conquistar essas refinarias como novos clientes e garantir participação de mercado na China se tornou fundamental para os membros da Opep, que se reúnem na Argélia esta semana para um encontro observado de perto que pode fornecer pistas sobre a produção futura do cartel. A organização de 14 países produtores, que controla um terço de todo o petróleo do mundo, costumava ajudar a definir os preços do petróleo globalmente, regulando seus níveis de produção. Mas o boom do petróleo americano tornou a produção da Opep menos crucial. Ele também reduziu as importações americanas da commodity, dando início a uma batalha por participação de mercado em outras partes do mundo, com a China virando o centro das atenções.

WSJ diz que dentro da Opep, há uma competição para tirar proveito da demanda das refinarias privadas chinesas. Angola, especialmente, se beneficiou vendendo a essas empresas petróleo bruto com menor teor de enxofre, que pode ser mais fácil de refinar. Nos primeiros oito meses deste ano, as exportações de petróleo bruto angolano para a China cresceram 14,6%, para mais de 900 mil barris por dia, ou cerca de metade da produção total do país do Oeste Africano. Em comparação, as importações chinesas de petróleo da Arábia Saudita subiram 1% este ano, para cerca de 1,05 milhão de barris por dia. A Arábia Saudita há muito prefere lidar com as refinarias estatais da China como a China Petroleum & Chemical Corp., a Sinopec. Os árabes experimentaram o mercado de pequenas refinarias independentes em abril, com a venda à vista de uma carga para a Shandong Chambroad Petrochemical, mas não repetiu a experiência.

O noticiário afirma que as mudanças enfrentadas pela Opep e toda a indústria mostram como os movimentos políticos em Pequim têm efeitos no mundo todo. A nova demanda das refinarias privadas da China é fruto de uma mudança na política do governo no ano passado, permitindo que elas passassem a importar petróleo bruto estrangeiro pela primeira vez. Isso efetivamente quebrou o monopólio das gigantes petrolíferas estatais sobre as importações da China. Desde então, muitas têm vasculhado mercados com excesso de oferta em busca de descontos, às vezes deixando de lado potências da Opep no Oriente Médio e optando por fornecedores russos e outros.

O texto do Wall Street Journal lembra que em uma conferência de petróleo recente em Cingapura, executivos do setor de energia de várias regiões lotaram o salão de um hotel para ouvir Zhang Liucheng, vice-presidente de negociação e marketing do Dongming Petrochemical Group, maior refinaria independente da China por capacidade. “As refinarias independentes ainda são muito menores que as empresas estatais, mas nós somos flexíveis e podemos facilmente nos ajustar às mudanças”, disse Zhang.

De acordo com The Wall Street Journal as refinarias independentes da China têm sido grandes clientes da Rússia. Os últimos dados alfandegários mostram que as importações chinesas de petróleo bruto da Rússia subiram 50% em agosto em relação ao mesmo mês de 2015, para mais de 1,1 milhão de barris por dia, superando os sauditas no período como o maior fornecedor da China.