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'WSJ': Bancos centrais lucram com resgates financeiros

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Matéria publicada neste domingo (25) pelo The Wall Street Journal conta que em seus esforços para estimular a economia, os bancos centrais têm inflado os cofres do governo. No ano passado, os bancos centrais de oito grandes economias desenvolvidas remeteram cerca de US$ 149 bilhões para seus respectivos governos, mais que o triplo dos US$ 40 bilhões que eles enviaram ao longo de 2005, de acordo com análise de dados de bancos centrais feita pelo The Wall Street Journal.

O Jornal afirma que desde a crise financeira, os bancos centrais têm usado trilhões de dólares, ienes, libras e euros em compras de títulos de dívida e empréstimos a bancos comerciais em uma tentativa de reduzir os custos dos financiamentos, estimular a inflação e disseminar o crescimento econômico. Isso acabou mostrando que resgatar economias pode ser bem lucrativo, já que os bancos centrais cobram juros sobre seus empréstimos aos bancos em dificuldades e sobre os títulos soberanos comprados para estimular o crescimento desses países. Entre 2005 e 2015, o Federal Reserve, o banco central dos EUA, enviou aproximadamente US$ 700 bilhões em lucro para o governo, mais do que qualquer outro banco central. O valor inclui os US$ 117,2 bilhões de 2015, bem mais que os US$ 21,5 bilhões de 2005, três anos antes de a crise financeira estourar. O Fed não comentou. Por um lado, os bancos centrais geram dinheiro como qualquer outro banco ou investidor: eles emprestam recursos a uma taxa de juros maior do que a taxa que tomam emprestado.

Jornal norte-americano acrescenta que a maioria faz isso em condições normais ao estender empréstimos de prazo bem curto aos bancos, para manter as taxas de juros perto de zero. O Fed obtém resultados parecidos ao comprar pequenas quantias de notas do Tesouro. A crise financeira levou os bancos centrais a fazerem muito mais desses negócios lucrativos. Muitos bancos comerciais pararam de fazer empréstimos entre eles, forçando os bancos centrais a fornecerem o crédito necessário. Depois, os bancos centrais passaram a comprar enormes quantidades de títulos de dívida, em uma política chamada de afrouxamento quantitativo, pressionando a queda das taxas de juros de longo prazo e estimulando a atividade econômica. Os bancos centrais estão na rara situação de ser capazes de financiar seus empréstimos emitindo dinheiro que eles nunca precisarão pagar de volta. Quando eles usam esse poder para comprar títulos de dívida, os cupons de juros e os pagamentos principais dos seus títulos de dívida acabam nos bancos centrais — ampliando seus lucros — e a maior parte, no fim, é enviada para as tesourarias dos governos. Basicamente, os governos estão pagando mais a eles próprios para tomar empréstimos.

De acordo com WSJ, apesar de a capacidade de os bancos centrais imprimirem dinheiro os proteja da insolvência, os ativos que eles possuem podem perder valor como qualquer outro. No ano passado, o Banco Nacional da Suíça divulgou uma perda de 23,5 bilhões de francos suíços (US$ 24 bilhões), consequência da sua decisão, em janeiro de 2015, de abandonar a estratégia de deixar o franco suíço atrelado ao euro. O banco central da Suíça mantinha a moeda local atrelada à moeda única comprando ativos denominados em euros com francos recém-impressos. Ao parar de fazer isso, o franco se valorizou em relação ao euro e desvalorizou o valor de seus ativos em relação às suas dívidas. O Banco Central Suíço, ao contrário de outros, transfere uma quantia fixa todo ano ao governo em vez de um percentual do lucro. Em 2015, apesar de ter registrado prejuízo, ele enviou ao governo 1 bilhão em francos suíços. Suas remessas entre 2005 e 2015 chegaram a 1,3% da receita do governo da Suíça, o maior percentual entre os países desenvolvidos.

De acordo com o noticiário na zona do euro, da qual a Suíça não faz parte, a política do Banco Central Europeu é, na sua maior parte, implementada pelos bancos centrais dos países membros. Ganhos inesperados dos bancos centrais foram registrados em vários países. Alguns, com economias menos saudáveis, como a Itália, Irlanda, Portugal e Grécia viram os lucros e as remessas dos seus bancos centrais crescerem a um ritmo bem mais acelerado do que o de países mais ricos, do norte da Europa. A diferença se ampliou nos últimos dois anos porque os bancos centrais nos países mais frágeis tiveram que emprestar recursos para os seus setores financeiros. Os bancos nesses países ainda precisam de empréstimos regulares dos bancos centrais. O Banco da Itália emprestou 158 bilhões de euros para bancos do país no ano passado. Em 2005, quando essas instituições conseguiam se financiar através de outras fontes, o banco central italiano emprestou apenas 21 bilhões de euros aos bancos comerciais.

Wall Street Journal observa que o oposto ocorreu na Alemanha, quando os bancos tinham tanta liquidez que praticamente nem precisavam mais tomar empréstimos. O banco central alemão, o Bundesbank, emprestou 58 bilhões de euros no ano passado aos bancos, ante 204 bilhões de euros há dez anos. Todos os bancos centrais nacionais da zona do euro lucram com a política de compra de títulos do BCE, já que os seus balanços incluem esses títulos e os bancos nacionais embolsam os juros. Esses bancos centrais, que costumam ser instituições centenárias, são administrados de formas distintas — muitos mantendo uma fatia dos seus lucros nas suas reservas financeiras, enquanto outros, como o Bundesbank e o Banco da Espanha, enviam praticamente todos os seus ganhos para o governo. Embora o Banco da França tenha lucrado mais que o Bundesbank entre 2005 e 2015, o banco central alemão transferiu todo o seu lucro de 36 bilhões de euros para o Estado, enquanto o Tesouro francês recebeu apenas 32 bilhões de euros do lucro total de 50 bilhões de euros registrado pelo banco central da França.

O Journal conclui que em alguns países, os investidores privados podem ficar com uma fatia dos ganhos dos bancos centrais. No caso da Suíça, Japão, Grécia e Bélgica, eles são empresas de capital aberto e compartilham seus lucros com os acionistas. Alguns bancos centrais afirmam que é difícil comparar as instituições, já que cada uma delas reage a diferentes necessidades de liquidez no seu respectivo mercado e tem de seguir regras diversas. Alguns bancos centrais, incluindo o da Alemanha, não responderam imediatamente a pedidos de comentário.