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'WSJ': Sentimento anticomércio ameaça acordo Canadá-UE

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Matéria publicada nesta quarta-feira (31) pelo jornal The Wall Street Journal conta que a expectativa era de que a União Europeia e o Canadá iriam ratificar, este ano, um dos maiores e mais complexos acordos comerciais dos últimos anos. Em vez disso, o acordo, em elaboração há sete anos está se revelando um teste sobre se tais pactos - e até mesmo outros, mais ambiciosos, ora em consideração - podem ser viabilizados, em meio a profunda desconfiança atual sobre os benefícios do livre comércio.

“Se não for possível, depois de todos esses anos de negociações, concluir um acordo entre o Canadá e a Europa, então fica muito difícil ver como e onde será possível firmar um acordo de livre comércio”, disse John Manley, um ex-ministro de Finanças e de Relações Exteriores canadense que hoje dirige o Conselho Empresarial do Canadá, um grupo de lobby.

Segundo a reportagem do Journal, depois de concluir o acordo com Ottawa em fevereiro, Bruxelas tentou aprová-lo em modo acelerado, na expectativa de conseguir que fosse assinado em outubro, de modo a coincidir com uma reunião de cúpula UE-Canadá. Em julho, a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, arquivou o plano, dizendo que, em vez de dar seu sinal verde, encaminharia o acordo para aprovação por mais de 30 parlamentos nacionais e regionais em todo o bloco. Ela citou a “situação política” na UE, em meio ao crescente sentimento anti globalização. Essa decisão torna a ratificação formal altamente improvável até o fim do ano. A Comissão Europeia diz que ainda espera algum tipo de implementação provisória até lá, depois que receber a aprovação do Parlamento Europeu e dos ministros de Comércio da UE. Os problemas envolvendo o acordo mostram as dificuldades diante de acordos comerciais mundiais. A muito mais ampla Parceria Transpacífica (TPP), um pacto entre 12 países do Pacífico, incluindo os EUA, está se defrontando com feroz resistência e tornou-se um saco de pancadas dos dois candidatos à Presidência dos EUA. A democrata Hillary Clinton, que antes defendera o TPP, disse no início deste mês que não iria apoiá-lo mesmo após a eleição.

O WSJ diz que o crescente sentimento populista em todo o mundo - como o expresso pela decisão do Reino Unido de sair da UE e na indicação de Donald Trump pelo Partido Republicano como seu candidato presidencial -também poderá por em risco a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), o ambicioso pacto dos EUA e da UE para eliminar as tarifas sobre produtos agrícolas, industriais e de consumo. Um acordo UE-Canadá deveria ser de fácil negociação, já que ambas as partes são economias desenvolvidas onde há consenso sobre questões espinhosas, como mercados de trabalho e questões ambientais, segundo Manley. No entanto, ele e outros defensores do Acordo Econômico e Comercial Abrangente UE-Canadá (CETA, em inglês), viram apenas um lento avanço rumo à aprovação. Agora, muitos temem que, em meio ao atual sentimento negativo em relação ao comércio mundial, a aprovação fragmentada do pacto poderá significar mais atrasos ou mesmo um total abandono do acordo em sua forma atual.

O jornal norte-americano fala que a CETA defronta-se com “a inquietação geral sentida por muitos cidadãos sobre a natureza desse tipo de acordo comercial e a transparência com que são negociados”, disse Fabian Zuleeg, presidente-executivo do Centro de Política Europeia, um think tank em Bruxelas. Muita gente na Europa considerava o CETA como um aquecimento para o TTIP, que era considerado um pacto muito mais amplo entre a UE e os EUA. Mas o apoio político ao acordo proposto ficou mais enfraquecido, recentemente, nos dois lados do Atlântico.

“O CETA pode ser um termômetro do que está por vir” para o TTIP, disse Andrew Smith, um professor de negócios internacionais na Universidade de Liverpool.