ASSINE
search button

'WSJ': Recuo da globalização pode fazer inflação subir no futuro

Compartilhar

Matéria publicada nesta quarta-feira (29) no The Wall Street Journal, analisa que os esforços dos bancos centrais para reavivar o crescimento econômico e a inflação sofreram mais um golpe com a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia. A votação gerou ansiedade e incerteza que vão reduzir investimentos, contratações, salários e preços. A longo prazo, porém, a Brexit pode ser inflacionária. Isso porque ela pode marcar uma virada contra a globalização, que nas últimas décadas ajudou a manter os preços e os salários baixos por meio de tarifas mais baixas, cadeias de suprimentos mais eficientes, terceirização e imigração.

Segundo a reportagem do Journal, a reação inicial dos mercados foi de assumir que a inflação vai cair. O preço dos títulos de dívida normais e indexados à inflação indica que a expectativa de inflação nos próximos dez anos caiu 15 pontos-base nos Estados Unidos, 10 no Japão e 13 na Alemanha desde a votação de quinta-feira passada para a Brexit. Isso reflete dois fatores: os preços menores do petróleo vão manter a inflação baixa nos próximos anos. Com relação aos anos seguintes, os investidores estão menos confiantes de que os bancos centrais vão conseguir elevar a inflação. “A mudança suave de tom do Fed em 15 de junho [indicando taxas de juros mais baixas] colocou um piso sobre as expectativas de inflação, mas isso foi completamente eliminado desde a Brexit”, afirmou o banco J.P. Morgan. No Reino Unido, porém, as expectativas de inflação subiram. Em parte, isso reflete as consequências da desvalorização da libra esterlina com relação aos preços dos produtos importados. Por ora, isso não deve preocupar o Banco da Inglaterra. Em 2008, uma desvalorização ainda maior da moeda ajudou a levar a inflação para além da meta de 2% nos anos subsequentes. O BC ignorou a alta, apostando corretamente que a fraca demanda garantiria seu recuo. A mesma lógica se aplica hoje: o banco vai se preocupar mais com o impacto sobre a demanda do que com o impacto da moeda sobre a inflação e poderá cortar as taxas de juros ou pelo menos elevá-las mais lentamente.

O artigo fala que a Brexit marca um repúdio à globalização — o movimento das mercadorias, serviços, capital e pessoas entre as fronteiras. Retrocessos semelhantes estão ocorrendo na Europa continental e nos Estados Unidos. O mundo todo, e não apenas o Reino Unido, pode, então, sofrer prejuízos do lado da oferta. Impostos menores e cadeias de suprimento internacionais permitiram que as empresas produzissem para mercados maiores, se especializassem, elevassem produtividade e também reduzissem custos. Tema mais controverso, a terceirização também dá a elas acesso a mão de obra mais barata. Enquanto a relação entre imigração e salários é mais ambígua, o aumento da imigração de pessoas não qualificadas provavelmente faz com que, marginalmente, se reduza o que os trabalhadores com baixa qualificação ganhem.

O artigo do WSJ acrescenta que à medida que a globalização tropeça, ou mesmo recua, a desigualdade salarial pode se tornar menor, ainda que custos maiores deixem tanto a classe trabalhadora quanto a mais afluente em posições menos favoráveis. Essas pressões de custo podem surgir em um momento em que o crescimento da produtividade mundial já está estagnado. Em teoria, os bancos centrais podem definir a taxa de juros no longo prazo para garantir que a demanda não cresça mais rápido do que a oferta e que a inflação se mantenha dentro da meta. Mas os bancos centrais se orientam pelo público e os representantes eleitos por ele. Políticos populistas tendem mais a querer políticas monetárias mais fáceis e indicar dirigentes de bancos centrais que concordam com eles.