ASSINE
search button

'WSJ': Ações coordenadas são desafio para bancos centrais enfrentarem Brexit

Compartilhar

Matéria publicada nesta quarta-feira (29) no The Wall Street Journal, fala que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, exortou outros bancos centrais a coordenar melhor suas políticas monetárias para confrontar o problema de uma inflação baixíssima numa era de crescimento global lento. O apelo ressalta o dilema que ele e seus colegas enfrentam na esteira da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, a chamada Brexit.

Segundo a reportagem do Journal, os guardiões do sistema monetário mundial se veem às voltas com pressões conflitantes enquanto tentam ajudar suas economias a resistir a novas turbulências. As instituições também correm o risco de que suas iniciativas entrem em choque umas com as outras e desestabilizem o sistema financeiro. Os bancos centrais precisam avaliar se suas políticas estão “devidamente alinhadas”, disse Draghi durante a conferência do BCE na cidade portuguesa de Sintra. Ele também alertou que desvalorizações cambiais visando tornar indústrias locais mais competitivas são prejudiciais à economia global.

O texto do WSJ conta que seus alertas ressoam num momento em que os bancos centrais tentam responder à Brexit. O resultado do referendo da semana passada no Reino Unido provocou turbulências nos mercados de câmbio, fazendo o dólar e o iene subir e empurrando o euro e a libra esterlina para baixo. Também afugentou os investidores das bolsas e dos títulos de dívida de maior risco. Os mercados se estabilizaram ontem, após dois dias de vendas generalizadas de ativos considerados mais arriscados. O Banco da Inglaterra está diante da ameaça dupla de que o Reino Unido caia numa recessão e a inflação no país suba. Se o banco central reduzir os juros para estimular o crescimento, a libra poderia cair ainda mais e mexer com a inflação. Se não fizer nada, o crescimento econômico pode estagnar.

O jornal norte-americano acrescenta que nos Estados Unidos, o Federal Reserve está na expectativa de elevar seus juros de referência neste ano. Se o banco central agir agora, o dólar poderia se fortalecer ainda mais, prejudicando os exportadores do país e as economias emergentes com grande exposição a dívidas na moeda americana. O Fed deve adotar uma atitude de “esperar para ver” no curto prazo para avaliar os efeitos da Brexit. Já o Banco do Japão, num esforço para aliviar a pressão de valorização da sua moeda, poderia lançar novas medidas de estímulo em julho. Mas sua última tentativa — um experimento com juros negativos — teve resultados adversos. As declarações de Draghi indicam uma mudança no seu próprio raciocínio, diz Frederik Ducrozet, economista sênior do banco suíço Banque Pictet & CIE SA. “Sugerem que o BCE está cada vez mais preocupado com ‘os fatores globais’ alimentando a inflação que eles não podem influenciar diretamente.”

O receio de que os bancos centrais, de acordo com o artigo do Wall Street Journal é que estejam ficando sem ferramentas para estimular a economia da zona do euro está crescendo entre os investidores. Draghi teria dito a líderes europeus na cúpula da UE em Bruxelas que estima que a saída do Reino Unido deve causar uma redução cumulativa no crescimento da zona do euro entre 0,3% e 0,5% ao longo de três anos, dizem pessoas a par do assunto. A mais recente estimativa do BCE foi de crescimento de 1,7% em 2017 e também em 2018. Draghi e outros presidentes de bancos centrais têm defendido que os governos usem mais medidas fiscais e reformas estruturais para estimular suas economias. Mas poucos países desenvolvidos ainda têm espaço para cortar impostos ou ampliar os gastos públicos, já que ainda se recuperam dos efeitos da crise financeira de 2007 a 2009. Atingir um consenso nas outras questões — como a imigração ou a regulação das empresas — tem se mostrado difícil num ambiente de agitação política nos EUA e outros países.

Diante desse cenário, o Fed está em compasso de espera. Seus dirigentes querem ver o desenrolar da saída do Reino Unido antes de mexer nos juros, o que elimina a chance de uma alta na próxima reunião de política monetária do banco, em 26 e 27 de julho. As bolsas se recuperaram ontem, após dois dias de fortes quedas, e continuam acima das suas mínimas de fevereiro. O dólar, embora tenha ganhado impulso após o referendo, permanece 5% abaixo de seu pico de janeiro. Uma ação mais lenta do Fed quanto aos juros pode aliviar as pressões sobre os mercados financeiros no mundo todo, principalmente nos emergentes, muito sensíveis à alta do dólar. O Banco de Compensações Internacionais estima que devedores de países emergentes estejam expostos a US$ 3,3 trilhões em títulos de dívida em dólar, conclui o WSJ.