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Opinião - 'NYT': 'Este é apenas o início do desastre econômico do Brexit'

Para Legrain, os que votaram pela saída do Reino Unido vão pagar um preço alto

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Philippe Legrain, economista e conselheiro político, recorre a uma declaração de um dos líderes da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, Michael Gove, para iniciar um artigo sobre os perigos do Brexit. "As pessoas deste país estão fartos de especialistas", disse Gove sobre o esmagador número de economistas e autoridades que são contra o Brexit. Legrain destaca em publicação no New York Times que os mercados já sentem os impactos negativos do resultado do referendo de sexta-feira (27), mas que, se a retirada se efetivar, uma recuperação não deve surgir "tão cedo".

Legrain pondera que especialistas podem cometer erros. Neste caso, contudo, os que votaram pelo Brexit devem pagar um preço alto por ignorar o expertise econômico. "Os efeitos nocivos desta votação são imediatos e duradouros."

Ele chamou a atenção para a queda brusca da libra -- e o recuo de quase 9% da moeda em relação ao dólar --, reduzindo o valor dos ativos britânicos. O mercado de ações também sente o golpe e os preços das propriedades, principal ativo para a maioria dos britânicos, também devem cair. Legrain explica que, embora o Banco da Inglaterra tenha injetado liquidez no mercado, indicando que pode adotar medidas semelhantes se necessário, bancos centrais não têm como se proteger contra um choque econômico duradouro.

O mercado raramente enfrentou tamanha incerteza, atesta o economista. "Agora, um país reconhecido pela sua estabilidade política e legal está mergulhando no caos", alerta. 

Ainda não se sabe quem será o futuro primeiro-ministro, assim como as direções políticas que ele adotaria. Toda a incerteza ainda é amplificada pela perspectiva de um segundo referendo sobre a independência da Escócia, que desta vez poderia vencer. A Irlanda do Norte também já se movimenta em direção a um referendo pela "Irlanda unida".

"Frente a tamanha incerteza, o mercado deve continuar a colocar seus investimentos em espera. Consumidores podem recuar também. A desaceleração resultante deve fazer com que o déficit nas contas do governo, já grande, inche. A depreciação da libra, que poderia impulsionar exportações, pode não fazer o suficiente para amortecer o golpe."

De acordo com Legrain, uma vez desencadeado, o processo formal de saída do Reino Unido da União Europeia poderia levar dois anos. Mas o processo de separação de 43 anos de legislação da União Europeia é uma "tarefa difícil", assim como a negociação de uma nova relação econômica com a União Europeia.

"Os apoiadores do Brexit estão iludidos quando argumentam que a Grã-Bretanha poderia escolher a cereja que lhes agrada na União Europeia e descartar o resto. Considerando que as exportações para a União Europeia (13% do PIB em 2014) importam muito mais para a Grã-Bretanha do que as exportações para a Grã-Bretanha (2% do PIB em 2014) para a União Europeia, a União Europeia é quem vai dar as ordens", indica Legrain.

Legrain considera que enquanto os apoiadores do Brexit clamam que a saída tiraria a Grã-Bretanha do excesso de regulação e protecionismo de Bruxelas, a Grã-Bretanha tem o mercado de trabalho menos regulamentado da União Europeia, e o mercado de produtos que é o segundo menos regulamentado. Os potenciais benefícios de uma desregulamentação, então, seriam escassos, acredita o economista.

"Os jovens, os que têm educação superior e os moradores da cidade, os mais dinâmicos membros da economia da Grã-Bretanha, votaram pelo Remain. Eles foram voto vencido para os mais velhos, menos escolarizados e não-urbanos, que muitas vezes dependem da generosidade do contribuinte. Com oportunidades econômicas atrofiadas, todos eles vão sofrer para que os que votaram pela saída erradamente culpem trabalhadores migrantes europeus que pagam impostos por tudo que eles não gostam na Grã-Bretanha moderna, e erradamente confiando em charlatões econômicos como Mr. Gove", conclui.

>> Confira o artigo publicado no NYT na íntegra