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'WSJ':Desemprego golpeia a diáspora do petróleo

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Matéria publicada neste sábado (30) no The wall Street Journal, fala sobre a forma como a crise dos commodities afeta profissionais do setor que migraram durante o boom e agora se veem sem trabalho e longe de casa.

Depois de migrar da Venezuela para o Canadá, em 2005, o engenheiro de petróleo Humberto Romero recebeu três ofertas de emprego menos de um mês após ter completado um programa de orientação afiliado a uma igreja. Mas, desde que foi demitido, em abril de 2015, pela empresa em que trabalhou durante anos, ele não está conseguindo arrumar um novo emprego no Canadá e diz que não pode voltar para a Venezuela por causa da crise econômica e política lá.

“Pensei que conseguiria outro trabalho em três meses, mas já passaram nove e fiz apenas algumas entrevistas”, diz Romero, de 52 anos, que é casado e tem dois filhos adolescentes. Ele foi demitido pela Husky Energy Inc. depois de passar dez anos na petrolífera canadense, que é sediada em Calgary. “A concorrência está realmente intensa pelos poucos empregos disponíveis”, diz ele.

Segundo a reportagem, com o fim de um boom de dez anos na indústria de petróleo e gás e o início da maior retração que o setor já viveu nas últimas duas décadas, alguns profissionais que migraram para outros países durante o boom em busca de oportunidades estão se vendo desempregados e longe de casa. O colapso dos preços do petróleo levou as petrolíferas a demitir mais de 300 mil trabalhadores no mundo inteiro, segundo a consultoria texana Graves & Co.

A Venezuela é provavelmente um dos países que mais tiveram profissionais de petróleo buscando oportunidades no exterior, e agora muitos deles foram apanhados entre a onda internacional de demissões e o caos econômico no seu país.

Milhares de trabalhadores do setor, muitos ex-funcionários da estatal venezuelana Petróleos de Venezuela SA, or PDVSA, deixaram o país, a maioria depois de uma greve ocorrida entre 2002 e 2003 que teve a meta de depor o ex-presidente Hugo Chávez. De uma só tacada, o líder esquerdista demitiu 19 mil empregados que apoiaram o movimento — quase metade da força de trabalho da PDVSA na época.

A Gente del Petróleo, uma associação do setor sediada em Caracas, estima que três de cada quatro funcionários demitidos, a maioria engenheiros e gerentes de nível médio, foram trabalhar no México, Argentina, Colômbia, Oriente Médio, Estados Unidos e Canadá. Outros milhares já abandonaram a Venezuela desde então, incluindo mecânicos e técnicos com mais de 20 anos de experiência, diz o líder do sindicato venezuelano dos petroleiros, Iván Freitas.

A província canadense de Alberta, que sofreu uma crônica falta de trabalhadores qualificados durante dez anos de investimentos crescentes na exploração de petróleo em suas formações de areia betuminosa, foi uma das regiões mais procuradas pelos venezuelanos. A familiaridade deles com o petróleo pesado da bacia venezuelana de Orinoco, semelhante ao encontrado em areias betuminosas, fez com que eles fossem muito procurados pelas petrolíferas canadenses.

A Venezuela foi uma das dez maiores fontes de imigrantes de Alberta em meados da primeira década de 2000, quando a província acolheu centenas de famílias por ano, segundo dados oficiais.

Para os trabalhadores que emigraram, voltar para a Venezuela não é uma opção. A economia do país está em frangalhos, empregos são escassos e o medo da repressão política é generalizado. O Fundo Monetário Internacional projeta que a economia venezuelana, em que o petróleo responde por quase toda a receita com exportações, vai encolher 8% neste ano, depois de já ter se contraído 10% em 2015.