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'WSJ': Apple tem primeiro recuo na receita em 13 anos

Diminui a demanda por iPhone 

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Matéria publicada nesta quarta-feira (27) no The Wall Street Journal, conta que a Apple Inc. divulgou sua primeira queda no faturamento trimestral em 13 anos, colocando fim a uma trajetória historicamente brilhante para a empresa mais valiosa do mundo e levantando questões sobre se seus melhores dias estão ficando para trás.

Segundo a reportagem, a desaceleração nas vendas reflete o grande desafio enfrentado por Tim Cook, que assumiu como diretor-presidente da empresa em 2011 no lugar de Steve Jobs, num período em que o iPhone era um sucesso, o iPad se expandia e o Apple Watch estava em desenvolvimento. Agora, o iPhone está perdendo força — juntamente com o resto do mercado de smartphones —, as vendas do iPad vêm caindo por mais de dois anos e o Apple Watch está ainda em fase inicial.

De acordo com o WSJ, a gigante americana de tecnologia anunciou ontem que tanto a receita quanto o lucro ficaram aquém das expectativas dos analistas, num momento em que a Apple enfrenta dificuldades para manter o ritmo acelerado de vendas que se seguiu à introdução de seus smartphones de tela maior no fim de 2014. Os iPhones lançados em 2015 para suceder esses modelos maiores não foram recebidos com o mesmo entusiasmo pelos consumidores e a Apple projetou que sua receita no trimestre atual ficaria muito abaixo das expectativas.

Em entrevista ao The Wall Street Journal, Cook disse que esse foi “um trimestre desafiador” para a empresa, mas refutou as preocupações de que a Apple esteja em declínio. Ele atribuiu o fraco resultado a fatores de curto prazo, como o dólar forte e as dificuldades macroeconômicas. “É um obstáculo difícil, mas não muda o futuro. Nosso futuro é muito brilhante”, disse Cook.

A Apple enfrentou também comparações desfavoráveis das vendas do iPhone em relação ao mesmo período do ano anterior, quando a demanda pelo iPhone 6 e iPhone 6 Plus havia disparado. Além disso, a alta demanda por esses modelos levou alguns consumidores a atualizar seus celulares mais cedo, o que minou o interesse pelos modelos mais recentes, disse o executivo.

As ações da Apple, que já recuaram 20% nos últimos 12 meses, caíram 8 % no after-market, após o anúncio de resultados, para US$ 96,12. A queda reduziu em US$ 46 bilhões o valor de mercado da empresa, mais do que o valor, por exemplo, da Caterpillar Inc. ou da Netflix Inc.

A Apple informou que seu lucro líquido totalizou US$ 10,52 bilhões no segundo trimestre fiscal, comparado com US$ 13,57 bilhões um ano antes. A receita caiu 13%, para US$ 50,55 bilhões, ante US$ 58 bilhões. Analistas consultados pela Thomson Reuters previam que a Apple divulgaria um lucro 5% maior, sobre uma receita de US$ 51,97 bilhões.

A Apple observou que a receita teria recuado apenas quatro pontos percentuais sem levar em consideração o impacto do câmbio. Além disso, os aumentos de preços que a empresa teve que implementar para lidar com a apreciação do dólar afetaram a demanda por seus produtos.

O iPhone foi o principal culpado pelo recuo. Depois de um período de oito anos de crescimento ininterrupto desde seu lançamento em 2007, a Apple divulgou a primeira queda nas vendas do smartphone. A empresa informou que vendeu 51,19 milhões de iPhones no trimestre, uma queda de 16,3% em comparação com 61,17 milhões de unidades um ano antes.

As vendas de smartphones estão caindo globalmente e outras estratégias que sustentaram o crescimento do iPhone no passado — como expandir sua linha com telas maiores e entrar em novos mercados, como a China — são menos eficazes. Hoje em dia, o desafio da Apple se trata menos de encontrar novos clientes para seus smartphones e muito mais de converter usuários de outros smartphones para o iPhone.

Cook disse que, embora o ritmo de atualização de iPhones por usuários existentes para os modelos mais recentes tenha sido afetado pela onda de vendas do iPhone 6 no ano passado, a Apple continua tendo um bom desempenho entre os novos compradores de smartphones, bem como de clientes que decidiram trocar seus telefones que usam o sistema operacional Android, do Google, que é controlado pela Alphabet Inc.

A Apple informou que obteve o maior número de compradores migrando de outros smartphones de sua história nos primeiros seis meses do ano fiscal iniciado em outubro.

Para o atual trimestre, a Apple prevê que sua receita fique entre US$ 41 bilhões e US$ 43 bilhões. Analistas haviam projetado uma receita de US$ 47,3 bilhões. A empresa também projetou uma margem bruta — indicador de rentabilidade observado de perto pelo mercado que reflete o percentual da receita que fica com a empresa depois de descontados os custos de produção —, de 37,5% a 38%, abaixo da projeções de 39,3% dos analistas.

Cook disse que a projeção de receita menor que o esperado para o atual trimestre é um reflexo do plano da Apple de eliminar US$ 2 bilhões em estoque de seu canal de vendas por causa da economia difícil, do preço de venda médio inferior do iPhone SE e de analistas sendo muito otimistas sobre uma onda de vendas dos computadores Mac.

Cook disse que a economia chinesa se estabilizou, mesmo que não esteja crescendo ao ritmo acelerado visto no passado recente. “Não é aquele vento a favor de um ano atrás, ou mesmo 18 meses, mas ainda é uma economia muito boa.”

As vendas para a região da China, que inclui Hong Kong e Taiwan, caíram 26%, para US$ 12,49 bilhões. No mesmo trimestre do ano anterior, as vendas da Apple na região haviam subido 71%.

Nos últimos 13 anos, a Apple popularizou o iPod e lançou o iPhone e o iPad. Seu sucesso financeiro e uma influência tecnológica sem precedentes fizeram o valor de mercado da Apple saltar de US$ 5 bilhões para US$ 579 bilhões até o fechamento ontem, o maior do mundo.

Embora a linha de produtos tenha crescido, o iPhone se tornou a maior parte das vendas da Apple, particularmente no último ano fiscal, por causa da demanda por telefones com telas maiores. O iPhone respondeu for 65% da receita total da Apple no trimestre.

Durante o período, as vendas de iPhones ficaram acima das estimativas dos analistas, de 50,4 milhões de unidades, de acordo com pesquisa entre 30 analistas feita pela FactSet. Mas seu preço médio caiu para US$ 641, abaixo das projeções dos analistas, de US$ 658. Os números não incluíram as vendas do novo iPhone SE, com uma tela menor, de 4 polegadas, que começou a ser vendido em 31 de março. Com seu preço começando em US$ 400 no mercado americano, o iPhone 5S é o celular mais barato que a Apple já lançou.