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IBP defende maior articulação do governo para superar crise na indústria de óleo e gás

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O cenário pessimista no setor de óleo e gás pode abrir espaço para novas medidas que tragam benefícios a longo prazo para a indústria brasileira, e a maior parte desses novos caminhos deve ser traçado por meio da articulação entre governo e empresas. É o que reivindicam diversas companhias privadas do mercado de petróleo, que hoje passam por dificuldades na obtenção de financiamentos e acabam por colocar na gaveta projetos que poderiam movimentar novos investimentos no segmento. 

Uma maior coordenação se faz necessária no momento de crise, aponta o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Jorge Camargo, que vê hoje pouca movimentação por parte de órgãos do governo frente à preocupante situação do mercado no Brasil. Embora a nova gestão do Ibama venha demonstrando uma maior aproximação com o mercado, as empresas ainda veem muita coisa a ser modificada. Segundo Camargo, além de apresentar um processo mais veloz de licenciamento, o instituto deveria refletir em suas decisões uma maior sintonia com o governo, o que hoje não se vê.

As mudanças devem ocorrer também nas práticas do próprio mercado de óleo e gás, que passa por dificuldades em meio a menores investimentos no cenário de recessão. A adoção de preços internacionais em investimentos de refinaria, por exemplo, é medida defendida por grande parte das companhias do setor e poderia mudar a situação vivida hoje com as obras paralisadas do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), projeto para o qual a Petrobras busca ainda novos parceiros.

Como as empresas podem auxiliar a Petrobras no Comperj?

O Comperj é um problema da Petrobras, então o IBP não entra. É um investimento deles. Como política geral, acho importante terem dito que estão procurando parceiros. E para buscar parceiros, buscar investimentos em refino, é preciso que haja uma política de preços internacionais. É necessário que isso seja criado no país para que se realizem investimentos em refino de modo geral, e no Comperj, em particular.

Há mudanças sendo feitas nesse sentido?

A longo prazo, é preciso fazer uma política de preços internacionais que tenha credibilidade. Isso traz investimento no refino. Um preço administrado não traz, porque representa muito risco para o investidor privado.

Que mudanças o mercado espera do Ibama com a nova gestão?

Basicamente, o que se espera é que o Ibama seja mais célere. As empresas esperam hoje muito tempo para obter uma licença, e não têm ideia de quanto vai durar o processo. Então vejo duas mudanças que elas precisam pedir: primeiro, um planejamento. Quando um bloco for licenciado, por exemplo, as condições ambientais para obter o licenciamento já devem estar estabelecidas, para que não se espere todo esse tempo. E o segundo pedido deve ser um sistema de decisão que seja do Estado. Muitas vezes, os analistas do Ibama têm responsabilidade pessoal nas decisões que tomam; qualquer analista que assina uma licença é pessoalmente responsável por ela. Então naturalmente ele tem muito mais receios para tomar qualquer atitude. E as decisões muitas vezes não refletem a vontade do governo, representam mais uma decisão do grupo. Acredito que esses sejam os pontos que a presidente eleita, Marilene Ramos, está tentando ajustar.

As empresas têm visto um maior diálogo?

Sempre tem, o diálogo é muito bom. A primeira reunião que a Marilene fez como presidente do Ibama foi com o IBP. Foi uma reunião com a indústria, e isso é um bom sinal.

Representantes do governo dizem que a dificuldade na obtenção de financiamentos deve se agravar. Como o IBP enxerga isso?

Há uma crise quase que sistêmica na cadeia de óleo e gás. Isso é um problema decorrente, entre outras coisas, da situação com a Petrobras e a Lava Jato. Criou-se uma crise muito grande no setor, e esse problema se manifesta em diversas empresas, inclusive nas mais saudáveis, que, apesar de tudo, param de ter acesso a financiamentos. Então nos parece, no IBP, que é preciso uma maior coordenação para tirar a indústria dessa situação. É muito importante que haja uma coordenação para que a gente saia dessa crise e possa salvar a parte saudável da indústria brasileira de óleo e gás.

Que parte o governo tem tomado nessa questão?

Nós vemos pouca coordenação vinda do governo, tanto por parte de alguns agentes do BNDES, como do Ministério e da própria Petrobras. São ações que gostaríamos de ver, mas que têm faltado.

Com Petronotícias

>> Veja aqui a reportagem