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'FT': Mercados dos EUA não estão imunes à turbulência grega

Ações e títulos corporativos são vulneráveis à aversão de risco

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O discurso do governo dos EUA sobre a Grécia evoluiu na semana passada — de “não é nosso problema” para uma percepção de que enquanto há um potencial de repercussões prejudiciais, as preocupações são diminuídas por mercados financeiros que se portaram de forma adequada em meio à situação, diz um artigo de Mohamed El-Erian, do jornal britânico Financial Times, publicado nesta terça-feira.

Ainda assim, investidores nos títulos dos EUA seriam imprudentes de ignorar qual deverá ser o próximo fato a ocorrer na Grécia. Com a situação lá extremamente instável e frágil, investidores fariam bem em se preparar para uma maior volatilidade do mercado que oferece tanto riscos de prazo mais curto quanto oportunidades de longo prazo.

>> Americanos estão mais preocupados com crise grega

A partir de um ângulo puramente econômico é correto minimizar o impacto da contaminação da terrível economia grega e sua situação financeira. O país mal registra os números do comércio com os EUA devido ao pequeno tamanho de sua economia e as limitadas interações. 

Tal como é sua iminente depressão econômica, enquanto é catastrófica para a maioria de seus cidadãos, não tiraria dos trilhos a retomada do crescimento da economia americana; nem o faria através das ligações dos EUA com os demais países da zona do euro.

Do ponto de vista financeiro a situação também parece tranquila. Bancos e investidores americanos têm pouca exposição à Grécia, em parte uma produção de uma migração em larga escala de risco de default de credores privados para contribuintes europeus. Isso limita o tipo de contágio financeiro que se mostrou desestabilizador em crises anteriores (seja no colapso do Lehman’s de 2008, a crise da dívida latino-americana nos anos 1980, a crise mexicana do efeito tequila em 1994, a crise asiática de 1997-98 ou a moratória russa de 1998).

Mas isso não quer dizer que investidores nos ativos dos EUA são imunes em relação ao que irá acontecer na Grécia, inclusive sua cada vez mais tênue permanência na zona do euro. 

Ações e títulos corporativos dos EUA estão vulneráveis a uma notável recuperação à aversão ao risco do mercado em geral. Esse cenário parece provável, pelo menos temporariamente, se a Grécia e seus parceiros europeus mantiverem o atual caminho que leva a uma saída desordenada da moeda única.

Essa é uma importante razão pela qual, nos bastidores, Jack Lew, o secretário do Tesouro americano, teve uma série de conversas com seus parceiros gregos e europeus. Mais recentemente ele os encorajou a buscarem um “compromisso pragmático” que envolve “futuras reformas na Grécia e um caminho para uma sustentabilidade da dívida”.

Ainda assim esse conselho parece difícil de seguir. Depois de negociações excepcionalmente ásperas, das quais vários elementos se alastraram em público de uma maneira desordenada, não há virtualmente confiança alguma nas partes que estão negociando; e eles lançam diferentes conclusões sobre o histórico referendo  de domingo. Enquanto isso a situação local tem se deteriorado a tal ponto que tornam a reforma e requisitos de financiamento mais assustadores e, assim, até mais difícil de cumprir.

Essa situação implica tanto em riscos de curto prazo e oportunidades de prazo mais longo para investidores em ativos dos EUA.

Inicialmente os preços dos ativos americanos parecem vulneráveis à volatilidade elevada, incluindo a pressão de venda que acentuaria as perdas experimentadas durante o mês de junho. Não ajuda o fato que os ativos financeiros já são negociados a níveis elevados às custas de intervenções de bancos centrais que dissociaram preços de fundamentos estruturais. 

A crise grega cria riscos adicionais para investidores em curto prazo, compensados pela oportunidade por pontos de entrada atraentes mais adiante

Além disso há uma grande quantidade de dinheiro que permanece nos balanços corporativos, e deverá continuar a ser despejado nos mercados através de dividendos mais altos e maiores recompras de ações, e para estimular uma futura atividade M&A (cuja magnitude na primeira metade do ano já ultrapassou tudo de 2014).

Em suma, a provável intensificação da crise grega cria um leque adicional de riscos para investidores no curto prazo, compensado pela oportunidade de pontos de entrada atraentes mais adiante.

Isso também implica em paciência da parte dos investidores. Qualquer oportunidade de compra vai demorar a se desenvolver devido às altas avaliações iniciais do mercado.