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Fitch afirma IDRs 'BBB' do Banco do Brasil, perspectiva negativa

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A Fitch Ratings afirmou nesta quarta-feira os IDRs (Issuer Default Ratings -  Ratings de Probabilidade de Inadimplência do Emissor), Ratings Nacionais, Rating de Viabilidade (RV), Rating de Suporte (RS) e Piso de Rating de Suporte (PRS) do Banco do Brasil S.A. (BdB). 

Segundo nota da agência, os IDRs, Ratings Nacionais e os ratings de dívida sênior do BdB são movidos pelo suporte soberano e, por isso, são iguais aos ratings soberanos do Brasil. Os ratings do banco refletem o controle integral pelo governo federal, a importância da instituição para o sistema local e o papel político que desempenha na implementação de medidas anticíclicas e no crédito rural. A Fitch acredita que, por ser uma entidade pública, o BdB poderia estar sujeito à interferência política. A Perspectiva Negativa dos IDRs do BdB segue a dos ratings soberanos do Brasil.

Em 2015, o Banco Central do Brasil (Bacen) identificou o BdB como uma instituição financeira sistemicamente importante para o sistema local. Trata-se do maior banco do Brasil, em termos de ativos e créditos, com participação de mercado de 21% em cada um destes, em dezembro de 2014. Da mesma forma, é o maior tomador de depósitos do país, com 25% de participação em depósitos.

Rating de Viabilidade (RV)

O RV do BdB reflete sua franquia líder em vários segmentos, incluindo crédito, seguros, gestão de recursos e cartões de débito e crédito, além dos amplamente estáveis indicadores de qualidade de ativos e de captação. O rating reflete, ainda, a lucratividade do banco, ligeiramente mais fraca do que a de grandes bancos privados, e a geração de capital interno e índices de capitalização relativamente menores.

Os indicadores de qualidade de ativos do BdB têm se mantido amplamente estáveis ao longo  dos ciclos, em parte, beneficiados pela rápida expansão do crédito desde 2011. Eles refletem os prudentes padrões de subscrição do banco e sua exposição a segmentos de risco relativamente mais baixo, vários deles favorecidos por sólidas estruturas de garantias. Em março deste ano, o índice de créditos em atraso há mais de noventa dias (NPLs) do BdB era de 2,1% do total de créditos, em comparação com a média de 3,2% de seus três grandes concorrentes do setor privado. 

Entretanto, a cobertura dos créditos duvidosos (os classificados na faixa “D-H” da escala do Bacen) pelas provisões do BdB é ligeiramente inferior à média de seus pares. Em março de 2015, esta cobertura caiu para 71%, de uma média de 76% em 2014 e 2013. Assim como em outros bancos, a qualidade de crédito do BdB pode ser negativamente afetada pela fraca atividade econômica atual, pelos níveis de desemprego mais elevados e pela redução da renda disponível das famílias brasileiras. A Fitch observa que a expansão de crédito do BdB, mencionada anteriormente, estava concentrada principalmente em clientes existentes, e que a expansão em novos segmentos ou clientes foi menor do que em outros bancos públicos.

A lucratividade recorrente do BdB tem sido historicamente inferior à de seus pares de grande porte do setor privado. Isso é resultado, principalmente, por sua missão pública, conforme refletido em suas margens líquidas de intermediação financeira (NIM) mais baixas e pela base de custos relativamente maior. A lucratividade deverá continuar sob pressão, em função de um possível aumento nas despesas de provisões e da fraca atividade econômica. Em março de 2015, a NIM do BdB teve queda novamente e o banco reportou aumento relativamente grande das despesas de provisão (líquidas de recuperações), que totalizou em torno de R$ 5 bilhões, ou aproximadamente 78% do lucro antes de provisões, frente à média de 50% em 2014 e 2013. 

Em função disso, o resultado operacional do BdB caiu para 0,39% da média de ativos, em comparação com a média de 1,10% em 2014 e 2013. Em março de 2015, os resultados finais de R$ 6,2 bilhões foram impulsionados por um lucro antes de impostos de R$ 5,8 bilhões, resultante da criação de uma nova companhia de administração de cartões com a Cielo S.A.

A estrutura de captação do BdB é diversificada e sua base é  principalmente voltada ao varejo. No primeiro trimestre de 2015, houve captação líquida negativa de depósitos de poupança em todo o sistema, e o saldo dos depósitos de poupança do BdB diminuiu R$ 5 bilhões, atingindo R$ 144 bilhões, ou 12% da captação total. Esta queda foi mais do que neutralizada pelo aumento da captação via letras de crédito do agronegócio (LCAs), que atingiu R$ 119 bilhões, frente a R$ 102 bilhões no mesmo período do ano anterior, compreendendo 10% da captação total. A continuidade da pressão sobre os depósitos de poupança poderia afetar negativamente a expansão do crédito do banco, particularmente no segmento de crédito rural. O BdB estuda fontes alternativas de captação e tem implementado medidas para minimizar novas evasões e atenuar uma potencial decisão judicial desfavorável permitindo que entidades públicas usem seus depósitos judiciais. Em março de 2015, a participação dos depósitos judiciais no total de passivos do banco era de 8%.

Segundo a agência de classificação de risco, os índices de adequação de capital do BdB continuam ligeiramente abaixo dos de seus pares, apesar da melhora após a conversão dos títulos híbridos antigos mantidos pelo Tesouro Nacional para Capital Principal em 2014, como ocorreu em outros grandes bancos públicos. Em março de 2015, o índice Núcleo de Capital Fitch (FCC) do banco era de 8,06%, frente a 7,87% no final de 2014 e a 6,57% no final de 2013 (a média dos três concorrentes de grande porte do setor privado foi de 10,52% e 9,59%, respectivamente, ao final de 2014 e de 2013). A Fitch considera adequados os atuais patamares de capitalização do BdB, a curto prazo, considerando as expectativas de crescimento relativamente modestas. De médio a longo prazos, quando o banco retomar o crescimento, a capitalização poderá se tornar uma limitação, a menos que a geração de capital interna se fortaleça.