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FT: América Latina será a mais atingida entre emergentes com ajuste do Fed

'Investidores que voltam à região não deveriam se precipitar', diz jornal britânico

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O jornal britânico Financial Times publicou nesta quarta-feira (06/05) um artigo de Dan Bogler com um panorama da economia em diferentes regiões do mundo para os próximos anos. 

“Uma característica que chama atenção nas últimas previsões atualizadas feitas pelo Fundo Monetário Internacional foi o quão acentuadamente as estimativas de crescimento para a América Latina foram cortadas. Enquanto países em desenvolvimento na Ásia registraram progressos e a emergente Europa parece estar indo bem, a história é diferente no ‘sul da fronteira’: o crescimento que já estava decepcionante e lento, vai continuar se desacelerando e a expectativa é que três das seis principais economias da região tenham uma retumbante contração neste ano.

Duas forças estão em jogo. A primeira é o fim do super-ciclo das commodities. A América Latina é um grande exportador primário, seja o petróleo (Venezuela, México, Colômbia), metais (Chile, Peru) ou soja (Argentina). O Brasil produz todos esses produtos e mais.

Pense no crescimento econômico como uma soma simples de quatro componentes: investimento corporativo + exportações líquidas + gastos governamentais + consumo privado. Quando os preços das commodities despencaram atingiram os quatro componentes de uma vez.

Empresas (tanto estrangeiras quanto domésticas) reduziram o investimento. As exportações despencaram. Isso atingiu as receitas do governo: no México, 35% das receitas do estado é gerada por exportações do petróleo; para a Venezuela é mais do que a metade. E isso, finalmente, forçou os governos em toda a região a apertar a política fiscal que, é claro, atingiu os gastos do consumidor. É um circulo vicioso.

O segundo e mais recente obstáculo é o fim do dinheiro barato. No momento em que o Federal Reserve dos EUA se prepara para elevar as taxas de juros, rendimentos de títulos e consequentemente os custos do serviço da dívida vão subir nos mercados emergentes. Isso pressiona a habilidade dos governos da América Latina, com finanças que já estão cambaleantes, para compensar o crescimento mais lento com taxas mais baixas ou gastos maiores.

Ao mesmo tempo, capitais vão começar a sair dos mercados emergentes na medida em que os rendimentos dos EUA sobem também, levando a uma desvalorização regional da moeda. No final, isso vai impulsionar as exportações. Mas bem antes dos termos de ajuste no comércio, a passagem de taxas de câmbio mais fracas força uma inflação mais alta, pressionando os bancos centrais locais a adotar uma política de flexibilização cambial para ajudar o crescimento. Há também um ciclo vicioso aqui.

Enquanto todos os mercados emergentes vão sofrer a uma certa medida com o aperto do Fed, a Medley Global Advisors, uma pesquisa de pesquisa de macro-política do FT, espera que a América Latina seja a que vai sofrer o golpe mais forte. Na Europa e na Ásia, os bancos centrais dominantes continuam num ponto de alívio. E essas duas regiões são essencialmente importadores de petróleo e metais e se beneficiaram em vez de perder com a queda dos preços das commodities.

"É claro, todos os ciclos giram de novo em algum ponto e a aparente estabilização do preço do petróleo e de alguns preços de metais levantou esperanças para perspectivas econômicas mais otimistas em 2016. Uma rodada de notícias melhores, como a saída da Petrobras de seu escândalo de corrupção, fez os investidores voltarem às equidades regionais. Mas uma outra olhada nas estimativas do FMI sugere que eles não deveriam se precipitar. Vai demorar muito para que a América Latina volte a crescer a pelo menos metade de níveis satisfatórios", conclui o artigo do Financial Times.