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Síntese da Conjuntura: Os rumos da economia

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal de abril:

A experiência econômica brasileira, desde o boom iniciado em 2003 até a recessão de 2013/14, é muito parecida com a experiência americana de 1997 a 2007. Ambas experiências têm, em sua origem, a ilusão do crédito amplo e barato como impulsor do crescimento econômico. A expansão do crédito muito além do potencial econômico gera pressões inflacionárias desagregadoras, que acabam inibindo os investimentos e também o consumo.

A ascensão e queda da economia brasileira nesse período de doze anos tem muito a ver, igualmente, com o ciclo das commoditieis, ligado à influência da entrada da China no mercado internacional, em 1990, até o arrefecimento da economia chinesa, associado à queda dos preços dos produtos básicos, especialmente minério de ferro e soja, no caso do Brasil. O valor das exportações brasileiras aumentou 32% em 2010 e 27% em 2011. Em 2012, caiu 5,5%, em 2013, 0,2%, em 2014, 7,0%.

A expansão do crédito foi algo semelhante: subiu 30,7% em 2008. A partir de 2015, caiu para 11% e vem sinalizando visível tendência de redução. A inflação, qualquer que seja sua origem, tem basicamente duas vias de propagação: o crédito e o salário. Sem expansão de crédito, dificilmente a inflação se desenvolve. O mesmo acontece com o salário: quando a inflação passa para o salário, gera-se uma “espiral inflacionária” 1  difícil de ser contida.

Em 2001, após o ato terrorista contra o World Trade Center de New York, a economia dos Estados Unidos1

 Expressão cunhada pelo economista jamaicano Arthur Lewis entrou em recessão. Para debelá-la, o Federal Reserve Bank, sob o comando de Alan Greenspan, promoveu uma enxurrada de créditos hipotecários, a juros subsidiados. A economia recuperouse e voltou a crescer, agora acompanhada de acelerada inflação. Uma gigantesca bolha imobiliária. Para combatê-la, o mesmo Greenspan do FED elevou bruscamente as taxas de juros e refreou o crédito. Foi um prejuízo geral refletido na dramática crise financeira de 2007/2008, que persiste até hoje.

No Brasil, o modelo econômico que conferia prioridade ao consumo, desde 2004, esgotou-se, porque esgotaram-se as disponibilidades do Tesouro Nacional e do sistema financeiro.

Afinal, a retração do crédito nos últimos anos passou a representar o fator mais significativo na geração da atual crise econômica.

O Brasil de hoje é como um doente em estado grave, que precisa urgente de uma cirurgia de alta complexidade. Temos um cirurgião competente, o Ministro Joaquim Levy, capaz de realizar a operação com êxito, mesmo nas atuais condições hospitalares precárias. O mínimo que podemos fazer é emprestar ao Dr. Levy e à sua pequena equipe o nosso voto de inteiro apoio e confiança. É o Brasil que precisa e merece. Se a operação for bem sucedida, os beneficiados seremos todos nós, os brasileiros.

O MERCADO DE CAPITAIS

EM 2014 A deterioração do ambiente de negócios em um contexto de ano eleitoral e de incerteza sobre a condução da política econômica afetou o nível de confiança dos agentes, com reflexos significativos no mercado de capitais em  2014. Além disso, o mercado vem sofrendo com os problemas relacionados à Petrobras. O aumento do volume emitido de ações no ano, que passou de R$ 6,2 bilhões em 2013 para R$ 15,1 bilhões (aumento de 142% no período) decorreu de apenas duas operações realizadas no mercado primário. A mais significativa foi a oferta da Oi, de R$ 15 bilhões, realizada em abril e relacionada à operação da companhia com a Portugal Telecom. A outra foi a oferta da Ouro Fino, de R$ 418 milhões, o único IPO de 2014. Os instrumentos de renda fixa, que haviam sido predominantes em 2013, apresentaram queda significativa para as emissões de debêntures, notas promissórias, certificados de recebíveis imobiliários e quotas de fundos imobiliários.

(Marcelo Cidade – APEC 2014)

FARRA DOS BANCOS

INTERNACIONAIS

O dinheiro é uma atração poderosa, especialmente quando se trata da criação de Bancos Internacionais, que proporcionam polpudos empregos para diplomatas e burocratas aposentados.

Depois da criação do Banco Mundial e da sua IFC – Corporação Internacional de Fomento – abriram-se as portas para muitas outras instituições, em sua maioria desnecessárias. Foi assim com o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Corporação Andina de Fomento, o FOCEM do Mercosul, o Fundo de Convergência do Mercosul, o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA), o Banco Africano de Fomento, o Banco Asiático de Fomento, Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e, agora, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, com que a China se propõe a confrontar o BIRD – Banco Mundial.

Além dessa farra de bancos supervenientes, a ONU planeja criar um colossal Fundo financeiro para cuidar dos problemas ambientais, com aporte inicial de capital de US$ 100 bilhões por ano e criação de centenas, senão milhares de polpudos cargos burocráticos.

ATIVIDADES ECONÔMICAS

A maioria dos analistas de mercado prevê um PIB negativo em 2015, entre -0,5% e -1,5%. O resultado seria a soma de quedas na indústria (-2,3%), nos investimentos (-6,0%), exportação (-7,0%) e importação (-10,1%). Em 2014, o montante dos investimentos teve queda de 4,4%. 

Boa notícia: O nível dos reservatórios no Sudeste chegou a 30%; Cantareira subiu a 19,6%, em função das fortes chuvas em princípios de abril. O Governo continua afirmando que a situação em São Paulo é grave. No Nordeste o problema da seca é dramática, com 56 cidades em colapso.

A produção atual da Petrobras no pré-sal chegou a 25 mil barris/dia, em cada um dos 17 poços perfurados na Bacia de Santos. Resultado excelente.

Indústria

A produção industrial caiu 0,9% em fevereiro ante janeiro e -9,1% em comparação com fevereiro/14. No bimestre, a queda foi de 7,1%. A produção industrial em São Paulo recuou 8,5% em fevereiro sobre fevereiro/14. Entre fevereiro e março, o índice de confiança da indústria recuou 9,2%. Segundo a CNI, o faturamento da indústria registrou aumento de 1,9% em fevereiro, em relação a janeiro, mas ainda está 9,6% abaixo de fevereiro/14.

São pessimistas as estimativas do setor siderúrgico para 2015, com previsão de queda de 8% nas vendas e de 7,8% no consumo aparente, segundo o IABr. A produção da indústria automobilística caiu 16,2% no 1º trimestre, com queda de 17% no licenciamento, de -20,3% na produção de máquinas agrícolas e rodoviárias e de -16,8% no valor das exportações. No setor imobiliário, as vendas de imóveis novos na cidade de São Paulo caíram 25%, em fevereiro.

A ALCOA suspendeu a produção de alumínio no Maranhão e demitiu 650 trabalhadores. Segundo a FGV, entre fevereiro e março o índice de confiança da indústria caiu 9,2%.

Comércio

Segundo a Serasa, as vendas do comércio em março, em relação a fevereiro, subiram 2,7%. Em relação a março/14, a alta foi de 5,9%. As vendas do setor supermercadista registraram alta de 1,93% em fevereiro, sobre fevereiro/14, segundo a ABRAS. O setor serviços registrou alta de 0,7% em 2014, o pior resultado desde 1996. A previsão da CNC é de que o PIB dos serviços recue 0,2% neste ano.

As vendas do comércio na Páscoa recuaram 0,3% em comparação com o mesmo período de 2014. No 1º bimestre, o comércio demitiu 128.052 empregados. A demanda de voos domésticos teve crescimento de 4,1% em fevereiro, sobre fevereiro/14 (ANAC).

O índice de confiança do empresariado do comércio (Icec/CNC) recuou 7,7% em março sobre fevereiro e -19,5% ante março/14.

Agricultura

A seca prejudicou bastante a corrente safra agrícola, especialmente no Nordeste, onde 56 cidades estão ameaçadas de colapso no abastecimento de água.

O setor agropecuário continua entre as prioridades do Governo, mas as subvenções ao setor caíram 1,42% no 1º bimestre, segundo a Ministra Katia Abreu. Os recursos da política de preços mínimos caíram 58%, das operações de aquisições (AGF) caíram 90% e de seguro agrícola -18,8%.

Mercado de Trabalho

A taxa de desemprego ficou em 7,4% no 1º trimestre, segundo o IBGE, revelando uma tendência de enfraquecimento do mercado de trabalho em 2015. A crise da Petrobras terá um forte impacto em toda a cadeia industrial, podendo chegar a 200 mil desempregados. A indústria automobilística, o setor de comunicações e o imobiliário também representam significativas perdas no emprego formal. O comércio varejista da Região Metropolitana de São Paulo fechou 16,8 mil vagas em fevereiro, segundo a Fecomércio-SP.

Foram frustrantes os resultados da transferência dos encargos previdenciários patronais da folha de pagamentos para o faturamento. Essa “brincadeira grotesca” tem um custo fiscal anual de R$ 25 bilhões para o Tesouro Nacional.

Setor Financeiro

O volume de crédito no setor financeiro é de nítida tendência decrescente. A expansão total de 30,7% em 2008 está situada em 11%, em 2015. Em março, houve perda líquida de R$11,438 bilhões nas cadernetas de poupança. O volume de recursos captados pelas empresas brasileiras no mercado de capitais registrou queda de 21,9% no 1º trimestre (ANBIMA). 

Inflação

A inflação atravessa um período típico de inflação corretiva, absorvendo os reajustes de preços dos combustíveis, energia e transportes. Em contrapartida, esses efeitos são minorados pela queda nos preços do petróleo, dos minerais e das commoditieis.

O IPCA/IBGE subiu 1,32%, sendo a metade dessa taxa proveniente da energia elétrica. O IGP-M/FGV chegou a 0,98%, pelo mesmo motivo, mais a desvalorização cambial. A projeção dos analistas é de 8,0% do IPCA no final do ano, a maior inflação em 12 anos.

Em contrapartida, o índice CEAGESP de preços de alimentos no mercado atacadista registrou queda de 2,32% em março. As verduras registraram alta de 3,44%, mas as frutas tiveram queda de 3,18% e os legumes de 8,84%.

A prática do quantitative easing, adotada pelo FED, a partir de 2009, e agora pelo BCE, ainda não produziu os resultados desejados, em termos do estímulo às atividades econômicas. Persistem os riscos de que poderão gerar novas “bolhas”, como ocorreu nos Estados Unidos em 2007/2008.

Setor Público

Basicamente, os problemas que afligem hoje as atividades econômicas provêm do desequilíbrio fiscal e da deficiente gestão da administração pública. O retrato dessa situação pode ser visto no quadro abaixo: 

No final de fevereiro, a dívida pública bruta chegou a R$ 3,386,9 bilhões (65,5% do PIB), com acréscimo de R$ 134,4 bilhões em apenas dois meses (!). O Ministro Joaquim Levy está empreendendo uma dura batalha para reduzir em R$ 80 bilhões os gastos do Governo, mas, ao mesmo tempo, está propondo aumentos conflitantes da carga tributária. Começa a haver um princípio de colaboração do Congresso Nacional com o Executivo. 

Setor Externo

As exportações brasileiras atingiram US$ 16.979 milhões em março, acumulando US$ 42.775 milhões no trimestre, uma queda de 13,7% em relação ao mesmo período de 2014. As importações de US$ 16.521 milhões, com US$ 48.333 milhões, no trimestre, caíram 13,2%. O saldo da balança comercial ficou negativo em US$ 5.558 milhões. A perda nas exportações reflete a queda de 5,8% nos preços do petróleo, de 45,5% do minério de ferro e de 21,2% da soja.

A CAMEX reduziu o imposto de importação de 281 produtos, passando da tributação média de 14% para 2%, certamente com vistas a compensar os efeitos inflacionários da desvalorização cambial.

No cenário internacional, destacam-se os Estados Unidos, com uma possível expansão de 2,5% do PIB. Entretanto, em março, a criação de novos empregos foi a metade do que o mercado esperava. A produção americana de petróleo continua batendo recordes.

Na Europa, a inflação teve ligeira queda e a economia ligeiro crescimento, inclusive a França e a Itália. Ao que tudo indica, a retração econômica da Rússia será maior do que a esperada.

Na Ásia, a economia da China teve ligeira perda de vigor, em março, e as empresas chinesas cortaram empregos. A grande ênfase, no momento, é a criação do AIIB - Asian Infrastructure Investment Bank, ao que o Brasil se prepara para aderir.