ASSINE
search button

‘Project Syndicate’: Em qual velocidade a China vai crescer?

Compartilhar

O Project Syndicate publicou nesta sexta-feira (30/01) um artigo com uma análise de Justin Yifu Lin sobre a segunda maior economia do mundo e as perspectivas para os próximos anos.

“Nos 35 anos desde que a China começou sua transição para uma economia de mercado, cresceu a uma taxa média de 9,8 %: um crescimento explosivo e inédito. Mas há sinais de que o milagre chinês está chegando ao seu fim ou, pelo menos, de que o crescimento econômico desse país está se desacelerando. A taxa de crescimento chinês esteve caindo desde o primeiro trimestre de 2010. No terceiro trimestre de 2014, foi de um relativamente anêmico 7,3 %”, escreve Justin Yifu Lin, que é ex-economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial.

Ele prossegue sua análise: "Na medida em que nos aproximamos do final do ano, é provável que o crescimento econômico chinês continue enfrentando fortes dificuldades, ao menos quando é comparado com o das décadas anteriores. Quando os responsáveis pela formulação das políticas em 2105 projetam o décimo terceiro plano quinquenal, deverão lidar com uma pergunta fundamental: qual velocidade de crescimento a China pode esperar?

Ao fixar metas para o PIB de um país, o primeiro que se deve entender é a taxa potencial de crescimento da economia: o máximo ritmo de expansão que se pode alcançar – supondo condições internas e externas favoráveis– sem por em risco a estabilidade e a sustentabilidade do crescimento futuro. Como analisou Adam Smith em seu livro A riqueza das nações, o crescimento econômico depende das melhoras na produtividade do trabalho, que hoje são consequência da inovação tecnológica ou a modernização industrial (a resignação da capacidade produtiva a novos setores com maior valor agregado).

Mas os países desenvolvidos localizados na fronteira de inovação têm uma desvantagem. Para captar os benefícios da nova tecnologia, devem criá-la. Os países em desenvolvimento, por sua vez, possuem a “vantagem do atrasado”, porque podem conseguir avanços tecnológicos mediante a imitação, a importação, a integração e a obtenção de licenças. Por isso, seus custos e riscos são menores. Nos últimos 150 anos, as economias desenvolvidas cresceram a uma taxa média anual de 3 %, enquanto que alguns países desenvolvidos alcançaram taxas de crescimento anual de 7 % ou mais durante períodos de 20 anos ou mais.

Para calcular qual vantagem atrasada a China possui depois de 35 anos de crescimento sem precedentes, deve-se avaliar a brecha entre seus níveis de desenvolvimento tecnológico e industrial e aqueles dos países com altos ingressos. A melhor forma de fazê-lo é comparar sua renda per capita, ajustada segundo a paridade do poder aquisitivo (PPA), com a dos países desenvolvidos. Quanto maior é a brecha da renda per capita, maior é a vantagem por atraso e o potencial de crescimento.

Em 2008, a renda per capita chinesa era apenas pouco mais de um quinto da norte-americana. Esta brecha é aproximadamente igual à que existia entre EUA e Japão em 1951 (a partir de então o Japão cresceu a uma taxa anual de 9,2% durante 30 anos), ou entre EUA e Coreia do Sul em 1977 (a partir desse ano a Coreia do Sul cresceu a 7,6 % durante duas décadas). Singapura em 1967 e Taiwan em 1975 tiveram brechas parecidas e conseguiram taxas de crescimento similares. Estimava-se que, nos 20 anos posteriores a 2008, a China obtivesse uma taxa de crescimento potencial de aproximadamente 8 %.

Mas o crescimento potencial é apenas uma parte desta equação. A possibilidade de consegui-lo depende das condições internas e do entorno internacional. Para explorar sua vantagem por atraso, a China deve aprofundar suas reformas e eliminar as distorções residuais de sua economia. Entretanto, o governo deve assumir um papel proativo para superar as falhas do mercado – como os fatores externos e os problemas de coordenação – que sem dúvida vão acompanhar a inovação e a modernização industrial.

China tem a possibilidade de manter um crescimento robusto graças a sua demanda interna... e não só ao consumo dos lares. O país não carece de oportunidades de investimento e conta com significativas possibilidades de modernização industrial e abundante potencial para as melhoras em infra-estrutura urbana, a moradia e a gestão do meio ambiente.

Além disso, os recursos chineses para o investimento são abundantes. A dívida combinada do governo central e os governos locais é inferior a 50 % de seu PIB, um nível baixo segundo os padrões internacionais. Entretanto, a poupança privada na China representa quase 50 % de seu PIB e as reservas do país em divisas alcançaram 4 bilhões de dólares. Inclusive em condições externas relativamente desfavoráveis, a China pode se basear no investimento para criar empregos no curto prazo e na medida em que o emprego aumentar, o consumo também o fará.

O cenário externo, no entanto, é mais sombrio. Apesar das autoridades dos países desenvolvidos terem interferido fortemente assim que ocorreu a crise financeira global de 2008 com significativas medidas de estímulo fiscais e monetárias, ainda não foram resolvidas muitas de suas deficiências estruturais. A ‘abenomics‘ (política econômica comandada pelo primeiro-ministro Shinz? Abe no Japão) ainda não obteve resultados e o Banco Central Europeu (BCE) segue os passos dos Estados Unidos e do Japão, com medidas de flexibilização quantitativa em um esforço para fortalecer a demanda.

O emprego está crescendo nos Estados Unidos, mas a taxa de participação da população ativa continua sendo limitada e a economia ainda não conseguiu alcançar as taxas de crescimento de 6-7 %, que habitualmente têm lugar em uma recuperação pós-recessão. É provável que EUA, Europa e Japão experimentem um desempenho apático, que afetará negativamente o crescimento das exportações chinesas".

“Como consequência, o crescimento chinês provavelmente será inferior a sua taxa potencial de 8 % ao ano. Enquanto os responsáveis pela formulação de políticas projetam os próximos 5 anos, devem fixar as taxas de crescimento para a China em níveis de 7 a 7,5 %, ajustando-as dentro desse patamar segundo as mudanças no clima internacional. Esse objetivo de crescimento pode ajudar a estabilizar o emprego, reduzir o risco financeiro e atingir a meta proposta pelo país, de duplicar a renda para 2020”, conclui Justin Yifu Lin.