ASSINE
search button

‘Los Angeles Times’ (editorial): A revolta da Grécia contra a austeridade

Compartilhar

O jornal americano Los Angeles Times publicou nesta terça-feira (27/01) um editorial com uma análise sobre as mudanças que devem ocorrer na Grécia e na Europa após a vitória do partido Syriza. “Os eleitores gregos gritaram coletivamente ‘Estamos muito furiosos!’ no último fim de semana, colocando no poder um partido radical de esquerda que fez campanha contra a austeridade. A eleição não melhorou a saúde fiscal do país. O governo está tão mergulhado na dívida que poderia dar calote se os credores internacionais se recusarem a renovar seu resgate financeiro que já vem acontecendo há tempos. Mas os resultados lembraram o resto do mundo que democracias têm dificuldade em sustentar reformas dolorosas quando são impostas de fora, independentemente de quão necessárias elas possam ser. E a Grécia pode ser apenas o primeiro país devedor da Europa a se revoltar. Se a União Europeia quiser manter a zona do euro intacta - e deveria fazê-lo - precisa deixar suas demandas por austeridade de lado por mais esforços para ajudar na luta pelo crescimento da economia”. 

“A Grécia estava particularmente mal-preparada para o colapso do crédito hipotecário que empurrou grande parte dos países desenvolvidos para a recessão”, diz o editorial. “Prejudicado por folhas de pagamentos públicos excessivos, ampla evasão fiscal e corrupção, o governo não conseguiu fazer com que sua dívida entrasse num espiral fora de controle. Com detentores de títulos concordando com relutância em perdoar parte da dívida da Grécia, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovaram um resgate financeiro cada vez mais alto para o país em troca de cortes drásticos em gastos públicos, redução de pessoal em agências do governo e impostos mais altos. Em protesto, eleitores rejeitaram  duas coalizões que governavam, mas com partidos do establishment ainda no controle, legisladores mantiveram a trajetória de austeridade de 2009 até 2014 diante de um desemprego crescente e uma economia em contração.

No último fim de semana, os eleitores pediram ainda outra mudança, ganhando quase metade dos assentos no parlamento grego para o partido de esquerda Syriza. Seu líder, Alexis Tsipras, formou rapidamente um novo governo com um pequeno grupo de legisladores de um partido de direita que também fez campanha contra as restrições do último resgate financeiro. Do lado positivo, o novo governo herda um orçamento amplamente melhorado sem déficit. Do lado negativo, o país ainda está se afogando em dívida — deve quase duas vezes mais do que produz anualmente — e incapaz de pegar mais emprestado de credores privados a uma taxa de juros acessível. Entretanto, mais do que um em quatro gregos que se encontram em idade ativa estão desempregados. É por isso que o país precisa tanto que as autoridades europeias e o FMI prolonguem o resgate financeiro, que está marcado para expirar no final do próximo mês, mesmo irritando nos termos”.

“Líderes europeus disseram na segunda-feira que eles esperam que a Grécia deixe de lado a barganha se quiser que o resgate financeiro continue. Eles não têm espaço suficiente para manobrar, considerando que qualquer concessão feita para a Grécia seria provavelmente pedida por todos os outros países em apuros na zona do euro. Mas se o novo governo grego decidir que será melhor deixar o Euro do que continuar com os cortes, poderá abrir um caminho para outros países em crise logo em seguida, e assim provocar uma fratura na União Europeia. Tão importante quanto as reformas estruturais para o futuro da Grécia, é uma economia crescente que possa colocar mais gregos de volta no mercado de trabalho. Como demonstraram os eleitores, se eles não sentirem o amor em um regime de amor-duro, não vão aderir a ele”, conclui o editorial do Los Angeles Times.