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‘New York Times’ (editorial): Fed luta metade da batalha

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O jornal americano The New York Times publicou neste domingo um editorial onde analisa a recente atuação do Fed. "Em seu encontro recente, no ano passado, o Federal Reserve disse que não estava com muita pressa para subir as taxas de juros — e isso é bom. Taxas altas fazem sentido quando um mercado forte de empregos pressiona para cima os salários e os preços ao consumidor. Porém, por enquanto, o crescimento de empregos ainda está muito lento, o desemprego muito alto, aumentos míseros e inflação baixa demais para garantir um aumento da taxa", diz o editorial.

O artigo faz críticas a uma suposta falta de firmeza do banco central americano: "Infelizmente, o Fed não está mostrando a mesma abordagem de política sólida quando se trata de administrar bolhas de ativos que ameaçam se inflarem quando as taxas de juros ficam baixas por longos períodos. Preços de ações, por exemplo, tendem a subir enquanto os investidores acreditam que as taxas vão permanecer baixas, independentemente de outros fundamentos econômicos e financeiros. A atual recuperação do mercado de ações é um caso em questão. Os preços das ações estavam caindo no início de dezembro, por boas razões, incluindo a fragilidade da economia mundial. Mas eles subiram desde que o Fed declarou sua intenção de não elevar as taxas em curto prazo", prossegue o artigo.

O desafio para o Fed é manter as taxas baixas sem inflar as bolhas. O jeito de fazê-lo é controlar a especulação através da intensificação da regulação de bancos e outras instituições financeiras. Em vez disso, o Fed esteve inclinado a aliviar a regulação.

No dia 19 de dezembro, adiou uma cláusula fundamental da regra Volcker, uma parte da lei de reforma financeira de Dodd-Frank de 2010 que bane a  negociação especulativa por bancos federais. Sob essa regra, os bancos deveriam vender seus investimentos em fundos de capital privado e fundos de cobertura (os hedge funds) por volta de julho de 2015. Eles agora têm até o meio de 2017, e possivelmente até 2022, para fazer isso. O motivo do atraso é que encerrar suas apostas mais cedo pode forçá-los a sofrer possíveis perdas desestabilizadoras. É simplesmente implausível que os bancos precisem de sete a 12 anos para liberar suas apostas. O atraso é ainda outro exemplo de reguladores que são prisioneiros dos bancos que devem supervisionar.

No início deste ano, o Fed atrasou outra provisão da lei Dodd-Frank — que exige que o banco seja reduzido se ele não tem um plano plausível de se desmontar em caso de falência iminente. Quando em agosto, onze bancos grandes não conseguiram apresentar esses planos aos reguladores de bancos, o Fed lhes deu outro ano para continuar se empenhando no processo, o que permitiu a eles que continuassem correndo riscos demasiado grandes bancados pelo contribuinte".

"O Fed pressionou os bancos a obterem mais capital, o que os protege — e aos contribuintes também — contra perdas catastróficas. Mas sua crença em mais capital como uma barricada segura contra a calamidade é inapropriada. O jeito com que o capital é calculado deixa os bancos livres para se envolver em transações arriscadas de derivativos sem capital adequado para absorver perdas potenciais.

Ao manter as taxas baixas, o Fed está aderindo ao seu duplo mandato de promover o pleno emprego e assegurar a estabilidade do preço. Mas períodos prolongados de baixas taxas de juros exigem vigilância extra contra a especulação", conclui o editorial do New York Times.