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'El País' (editorial): Dólar e petróleo vão melhorar 2015 na Espanha

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O jornal espanhol El País publicou neste domingo (28/12) um editorial onde avalia a atual situação econômica da Espanha e analisa os cenários para o próximo ano. 

"Ainda que não exista dúvida de que a economia espanhola tenha deixado para trás a recessão e passa agora por uma etapa de crescimento moderado, não está tão claro que essa melhora seja equivalente ao que se entende como recuperação ou uma saída definitiva da crise. Essa distinção se mostra essencial para examinar as expectativas econômicas em 2015; a situação mais aproximada da economia espanhola viria definida por um crescimento moderado (1,4% este ano, em torno de 1,9% no próximo ano), com uma criação de emprego continuada (ao menos durante os últimos trimestres), mas insuficiente e de baixa qualidade e umas condições de estabilidade financeira que podem nitidamente ser melhoradas. Apesar dos cortes orçamentários, destrutivos para uma parte do sistema de proteção social, a dívida segue crescendo, prova mais que suficiente de que o déficit público não está sob controle", alerta o editorial.

"Que a economia espanhola não está ainda em uma fase de recuperação deveria ser algo evidente. Para anunciar essa boa notícia teria que se demonstrar bem que os parâmetros vitais da economia (rendas, salários, investimentos públicos, ocupação e endividamento público e privado) estão alinhados com a taxa de crescimento, algo que claramente não acontece — ao menos em rendas, emprego e dívida—; ou que os parâmetros econômicos se aproximam aos existentes nos dois trimestres prévios à crise. Tampouco neste caso se cumpre a condição. Apesar da taxa espanhola de crescimento atual ser superior à europeia, pode-se comprovar que a Espanha está mais longe da situação de pré-crise que os países da zona do euro. A razão é simples: durante a crise, o PIB espanhol caiu mais do que o dobro da média da zona do euro. Nesse contexto, a insistência na "recuperação espanhola" deve ser revisada ou modificada com urgência.

As previsões que podem ser feitas para 2015 apenas superam a confirmação das tendências que surgiram em 2014. A taxa de crescimento pode aproximar-se muito de 2%, principalmente se  a zona do euro supera a estagnação. Os motores claros de crescimento, tanto na Espanha como na Europa, são a depreciação do euro frente ao dólar e à queda brusca do preço do petróleo. Mas é evidente que como o petróleo não seguiu uma trajetória suave de descenso, mas despencou, vão se  produzir efeitos indesejados e talvez graves. O mais notório é a crise da Rússia; suas reservas em dólares estão caindo com a mesma rapidez com que vence sua dívida. O país terá que pagar cerca de 30 bilhões de dólares antes que acabe o ano e terá que fazer frente ao vencimento de outros 138 bilhões no próximo ano e meio", lembra o artigo.

"A probabilidade de que a instabilidade financeira russa contagie os mercados não é elevada, mas existe. A inquietação nos mercados vai influenciar, logicamente, a margem de manobra do governo espanhol. Mas a decisão fundamental, que o governo é incapaz de esclarecer nestes momentos (e talvez tampouco durante o ano) é que variantes de política econômica são compatíveis com taxas de crescimento próximas a 2%, menos interesses da dívida, uma provável consolidação das exportações e um custo menor do petróleo. O fato é que, com qualquer cálculo e em qualquer modelo de previsão, a economia espanhola necessita de outra política de rendimentos", conclui o editorial do El País.