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'El País': Chile, um ano marcado pelo início das reformas

Bachelet busca superar dificuldades maiores do que as enfrentadas no primeiro mandato (2006-2010)

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"No último dia 24 de dezembro, em meio a uma atividade pública com crianças feridas por fogos de artifício, a presidenta Michelle Bachelet enviou saudações a seus compatriotas pelo Natal: ‘Devemos celebrar unidos e em paz’. A mensagem protocolar também parecia um pedido político para esta socialista agnóstica de 63 anos, que está tendo que enfrentar um início complexo do seu segundo mandato em La Moneda (ela governou entre 2006 e 2010): 2014 foi um ano de polarização no Chile", é o que diz um artigo do jornal espanhol El País, publicado neste domingo.

O jornalista Rocío Montes analisa as dificuldades enfrentadas pela presidenta. “Depois de quatro anos de recesso durante o qual governou o presidente Sebastián Piñera, Bachelet voltou em 11 de março. Mas ao contrário de seu primeiro governo, que seguiu a linha que a Concertación de centro-esquerda aplicou no poder desde 1990, a médica chegou liderando um novo conglomerado que pela primeira vez incluiu o Partido Comunista, a Nova Maioria. Também com um programa de governo ambicioso, que pretende mudar alguns aspectos estruturais do Chile”.

"O início das reformas de Bachelet foi a notícia essencial que marcou o ano no Chile. Primeiro a tributária, que foi aprovada em setembro no Congresso depois de um forte debate entre o mundo político e empresarial. Atualmente está em discussão no Parlamento a primeira parte de uma complexa reforma educacional que teve fortes detratores mesmo dentro do governo. Espera-se que em 2015 comecem as mudanças na Constituição e nas leis trabalhistas, o que também deixou o setor privado nervoso, apesar dos sinais de tranquilidade que o Executivo tenta transmitir.

O Chile também enfrentou grandes desastres em 2014. Apenas algumas semanas depois do retorno de Bachelet, no início de abril, um terremoto de magnitude 8,2 na escala Richter sacudiu o norte do país. Embora a infraestrutura nas regiões de Arica e Tarapacá tenha resistido, foram dias de tensão e alertas de tsunami que mobilizaram uma grande parte da população que vive na costa do Chile. Algumas semanas mais tarde, em 12 de abril, uma nova tragédia: um incêndio atingiu a cidade portuária de Valparaíso, a 100 quilômetros da capital. Pelo menos 15 mortos, 2.200 casas queimadas e cerca de 8 mil vítimas pelas chamas. O desastre afetou principalmente pessoas humildes que vivem nas terras altas da serra, característica desta cidade, onde há décadas surgiram aldeias em locais impróprios para construção de casas", escreve Montes.

O país tem vivido situações de grande impacto público nos últimos doze meses. Os grupos anti-sistema que operavam no Chile esporadicamente desde 2005, em setembro deram um duro golpe contra a polícia, os serviços de inteligência e o Governo: explodiram um artefato em um shopping center perto de uma estação de metrô, pela primeira vez em um horário de pico e um lugar onde pessoas circulavam. Foram catorze feridos no atentado terrorista que foi catalogado pelo governo como o mais grave desde o retorno à democracia em 1990. O governo Bachelet anunciou um pacote de medidas para enfrentar esses grupos anarquistas e, entre outras ações, o ministério do Interior solicitou a cooperação de países como a Espanha, com experiência na luta contra grupos subversivos.

Em termos de segurança pública, o Chile começou a viver uma situação peculiar desde dezembro deste ano: o governo determinou que pelo menos 60 caixas eletrônicos de seu banco estatal serão instalados em delegacias de polícia. A medida é porque em 2013 entrou em vigor um decreto exigindo que todos os bancos reforçassem a segurança de suas máquinas. As empresas calcularam um custo de quase 60 milhões de dólares (161 milhões de reais) e, em 2014, o número de caixas eletrônicos no Chile diminuiu de nove mil para oito mil. Mesmo assim, os roubos não diminuíram: nos últimos doze meses, ocorreram cerca de 115. Em meio a uma controvérsia entre o governo e os bancos sobre a responsabilidade neste tipo de delito, a situação fez com que, finalmente, faltasse dinheiro e isso começou a afetar a parte da população que utiliza cartões para retirar dinheiro.

As relações internacionais foram outro dos terrenos com especial importância este ano para o Chile. Em janeiro, o Peru ganhou uma vitória parcial em seus esforços por traçar uma nova fronteira marítima com o Chile, no Oceano Pacífico, de acordo com a decisão do Tribunal Internacional de Justiça da ONU (TIJ). Mas, embora os juízes tenham decidido que o Chile deve ceder direitos econômicos em cerca de 22 mil quilômetros quadrados do Pacífico, a sensação final foi que a derrota poderia ter sido mais grave e o país respirou aliviado. 

Ao contrário das relações com o Peru, que tomaram um caminho de normalidade, a ligação com a Bolívia tornou-se tensa ao longo dos meses. O governo de Evo Morales apresentou uma demanda marítima em Haia, em abril de 2013 e as declarações dos dois lados subiram de tom. O ministro de Relações Exteriores do Chile, Heraldo Muñoz, fez chamados para que a Bolívia "pare suas tentativas de desestabilizar a relação bilateral." O governo de Bachelet também implantou uma potente estratégia de comunicação para divulgar os seus argumentos para a comunidade internacional, como o site www.mitoyrealidad.cl e a conta de Twitter @mitoYrealidad

"Em 2015 as expectativas de todas as forças políticas estão voltadas para que melhore a situação da economia, depois de um 2014 em que o crescimento caiu de 4% para 2% por razões externas e fatores internos. Também está previsto que em janeiro próximo comece a tomar forma a primeira parte das mudanças no sistema de educação de Bachelet, cuja popularidade caiu para 38%", conclui o artigo do El País.