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'FT': Líder da Opep promete não cortar produção do petróleo

Ministro saudita Ali al-Naimi garantiu que isso não ocorrerá mesmo se o preço chegar a US$ 20

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“A Opep não vai cortar a produção mesmo se o preço do petróleo cair a US$ 20 o barril, disse o líder do cartel, ao divulgar uma dramática mudança de política que vai ter implicações de longo alcance para a indústria mundial de energia”. Foi o que noticiou o jornal Financial Times em artigo publicado nesta terça-feira (23/12).

Anjli Raval, correspondente em petróleo e gás, escreve: “Em uma rara entrevista franca, Ali al-Naimi, ministro saudita do petróleo, pôs abaixo a tradicional estratégia da Opep de manter preços altos ao limitar a produção de petróleo e substituí-la com uma nova política de defender as participação de mercado a qualquer custo.

“Não é do interesse dos produtores da Opep cortar sua produção, seja qual preço for,” ele disse ao Middle East Economic Survey. “Mesmo se chegar a US$ 20, US$ 40, US$ 50, US$ 60, é irrelevante.”

Ele disse que o mundo não deve voltar a ver o barril a US$ 100 de novo.

Os comentários, de um homem que costuma ser descrito como a figura mais influente na indústria da energia, marcaram a primeira vez em que Naimi explicou em detalhes a mudança de estratégia”.

Eles representam uma “mudança fundamental” na política da Opep que é mais abrangente do que qualquer uma desde os anos 1970, disse Jamie Webster, analista de petróleo na IHS Energy.

“Entramos numa época assustadora para o mercado do petróleo e nos próximos muitos anos estaremos lidando com muita volatilidade,” ele disse. “Praticamente tudo será atingido por isso.”

Analistas dizem que a Arábia Saudita está lançando o desafio para todos os recursos de custo elevado do petróleo bruto — das areias petrolíferas do Canadá e o xisto americano ao pré-sal do Brasil e do Ártico — em uma tentativa de enfrentar a ameaça que eles apresentam à sua participação no mercado.

Naimi disse que se o reinado reduzir sua produção, “o preço vai subir e os russos, brasileiros, e produtores americanos de xisto vão pegar minha parte”.

O petróleo caiu por quase 50% desde meados de junho em meio a uma enorme abundância de oferta potencializada pela crescente produção do xisto americano, combinada com uma demanda decrescente pelo petróleo na Europa e na Ásia.

No passado, a Opep cortou a produção quando os preços caíram, como durante a crise financeira de 2008. Mas no encontro do cartel em Viena, no mês passado, os membros mantiveram a produção fixa em 30 milhões de  barris por dia, mandando fazendo com que os preços entrem numa espiral.

A queda do preço jogou as economias de grandes exportadores como Rússia e Venezuela na desordem e forçou as empresas de petróleo em todo o mundo a refazerem seus planos de investimento.

Mas pode revelar-se uma grande dádiva para a economia mundial. O Fundo Monetário Internacional disse na segunda-feira que uma queda prolongada poderia impulsionar o crescimento global em 0,7% em 2015 e 0,8% em 2016. A China seria o país mais beneficiado, com seu PIB fortalecido em 0,7% em 2015 e 0,9% em 2016.

Os preços do petróleo caíram depois, na segunda-feira, quando os mercados digeriram os comentários de Naimi. O petróleo Brent, a referência internacional, caiu  US$ 1,08 para US$ 60,30 o barril, depois de cair a US$ 59,84 no mercado da tarde. Agora está pairando em níveis mais baixos nos últimos cinco anos e meio.

Em profundidade

Na entrevista do MEES, Naimi afirmou que a Arábia Saudita e outros produtores do golfo seriam capazes de suportar um longo período de preços baixos do petróleo, muito devido ao fato de seus custos de produção serem baixos — apenas por volta de US$ 4 e US$ 5 o barril.

Mas ele disse que a dor será muito maior para outras regiões de petróleo, como os blocos litorâneos do Brasil, o oeste da África e o Ártico, onde os custos são bem mais elevados.

“Então mais cedo ou mais tarde, por mais que eles  se mantenham, no final, seus negócios financeiros vão limitar sua produção,” disse ele.

“Queremos dizer ao mundo países produtores de alta eficiência são os que merecem participação no mercado,” acrescentou Naimi. “Se o preço cair? Outros serão muito afetados antes de sentirmos qualquer dor.”

A franqueza da mensagem de Naimi pegou de surpresa até os experientes observadores da Opep. “Eu sou mais pessimista do que a maioria das pessoas vendo o preço do petróleo, mas até eu estou impressionado em quão agressivos foram seus comentários sobre esse radical desvio da política,” disse Yasser Elguindi, da Medley Global Advisors.