ASSINE
search button

'Project Sindicate': Por que os preços das commodities estão caindo?

Compartilhar

A revista Project Sindicate publicou nesta segunda-feira (15/12) um artigo de Jeffrey Frankel onde ele analisa a queda dos preços das commodities. 

“Os preços do petróleo caíram 40% desde junho – e isso é uma boa notícia para os países importadores de petróleo, porém uma má notícia para Rússia, Venezuela, Nigéria e outros países exportadores. Alguns atribuem a queda de preços ao boom da energia derivada do xisto nos Estados Unidos. Outros citam o fato de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não ter chegado a um acordo para reduzir a oferta”, escreve Frankel, que é professor de Formação de Capital e Crescimento na Universidade de Harvard.

Ele prossegue sua análise: “Mas essa não é a história toda. O preço do minério de ferro também está em baixa. O mesmo acontece com os preços do ouro, da prata e da platina. E também com os preços do açúcar, do algodão e da soja. Na realidade, em dólares, a maioria dos preços das commodities caiu desde o primeiro semestre do ano. Apesar de uma série de fatores setoriais específicos afetarem o preço de cada commodity, o fato de as quedas nos preços serem tão amplas – como costuma ocorrer em casos de grandes oscilações de preços – sugere que fatores macroeconômicos estão por trás.

Então, quais fatores macroeconômicos podem estar pressionando os preços das commodities para baixo? Talvez seja a deflação. Mas, embora a inflação esteja muito baixa, e até mesmo negativa em alguns países, algo mais deve estar acontecendo, porque os preços das commodities estão caindo em relação ao nível geral de preços. Em outras palavras, os preços reais das commodities estão caindo”.

“Há algo de intuitivo na noção de que quando o banco central americano “imprime dinheiro”, o dinheiro flui para commodities, entre outros ativos, e de que essa demanda eleva seus preços. E que, portanto, os preços caem quando os juros sobem.

A explicação mais comum é a desaceleração econômica mundial, que tem reduzido a demanda por energia, minerais e produtos agrícolas. De fato, o crescimento diminuiu e as previsões sobre PIBs nacionais foram revistas para baixo, desde meados do ano, para a maioria dos países.

Mas os Estados Unidos são uma importante exceção. A expansão americana parece cada vez mais bem estabelecida, tendo seu crescimento anual sido estimado em mais de 4% durante os dois últimos trimestres. No entanto, é particularmente nos EUA que os preços das commodities têm caído. O Índice de Preços de Commodities da revista 'The Economist', denominados em euros, por exemplo, na realidade subiu, ao longo do ano passado; é apenas o índice baseado em dólares – o número que concentra todas as atenções – que está em queda. 

Isso nos leva à política monetária, cuja importância como determinante dos preços das commodities é muitas vezes esquecida. Um aperto monetário é amplamente previsto para os EUA – a flexibilização quantitativa promovida pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) terminou em outubro e o BC americano deverá elevar os juros de curto prazo em algum momento do ano que vem.

Isso lembra um padrão histórico familiar. Quedas nos juros reais (ajustados pela inflação) na década de 1970 e nos períodos 2002-2004 e 2007-2008 vieram acompanhadas por um aumento dos preços das commodities; fortes aumentos nas taxas de juros reais americanas na década de 1980 fizeram os preços das commodities em dólares caírem.

Há algo de intuitivo na noção de que quando o Fed “imprime dinheiro”, o dinheiro flui para as commodities, entre outros ativos, e de que essa demanda eleva seus preços – e que, portanto, os preços caem quando os juros sobem. Mas, qual é, exatamente, o mecanismo causal?

Na verdade, existem quatro canais através dos quais a taxa de juros real afeta os preços das commodities (independentemente do efeito que os juros produzem por meio do nível de atividade econômica). Em primeiro lugar, juros elevados reduzem o preço das commodities armazenáveis, ao incrementar as vantagens de extrair hoje, em vez de amanhã, intensificando, assim, o ritmo como o petróleo é extraído, o ouro é retirado das minas ou as árvores são abatidas nas florestas. Em segundo lugar, juros altos também diminuem o desejo das empresas de manter estoques (leia-se: petróleo armazenado em tanques).

Em terceiro lugar, os gestores de carteiras de investimentos reagem a aumentos nas taxas de juro reduzindo sua exposição a contratos de commodities (que são agora uma “classe de ativos”) e investem em títulos do Tesouro. Finalmente, juros elevados fortalecem a moeda nacional, reduzindo, assim, o preço das commodities comercializadas internacionalmente em termos domésticos (mesmo que os preços não tenham caído quando expressos em moeda estrangeira).

As taxas de juros americanas na realidade não subiram em 2014, de forma que a maior parte desses mecanismos ainda não está se fazendo sentir diretamente. Mas os especuladores pensam no futuro e abandonam as commodities hoje devido a suas previsões de taxas de juro futuras mais elevadas em 2015; o resultado foi antecipar para hoje os aumentos de preços que ocorrerão no próximo ano”, escreve Frankel.

“O quarto canal, a taxa de câmbio, já está operando. A perspectiva de aperto monetário nos Estados Unidos coincide com a adoção de estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu e do Banco do Japão. O resultado tem sido uma valorização do dólar frente ao euro e o iene. O euro está em queda de 8% em relação ao dólar desde o primeiro semestre do ano e o iene está em baixa de 14%. Isso explica como os preços de tantas commodities podem estar em baixa em dólares e em alta quando denominados em outras moedas”, conclui o artigo da Project Sindicate