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'Financial Times': Rachaduras começam a se tornar mais evidentes no Brics

Países apresentariam complicadas divergências em suas visões de mundo

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Três problemas estariam começando a transparecer em relação ao Brics, bloco econômico formado pelos emergentes Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. De acordo com uma matéria publicada pelo Financial Times nesta terça-feira (4), três dos cinco países estariam passando por problemas econômicos, todos os cinco apresentam fragilidades internas na política e, segundo o jornal britânico, o grupo ainda teria problemas de incoerência no posicionamento internacional.

Para o jornal britânico, o bloco atingiu seu auge durante a Copa do Mundo deste ano, quando a presidenta Dilma Rousseff (PT) aproveitou a ocasião para sediar uma reunião de cúpula com os líderes dos outros quatro países. Desse encontro, o jornal lembra que foi criado um banco de desenvolvimento do Brics, sediado em Xangai. Contudo, poucos meses após o fim do evento esportivo, problemas estariam começando a aparecer.

No campo econômico, o jornal aponta que Brasil, Rússia e África do Sul estariam se debatendo economicamente. Além disso, as eleições indianas teriam se desenrolado perante um quadro de vários anos de fraco crescimento econômico. Somente a China estaria conseguindo apresentar um crescimento bom, superando a marca de 7% ao ano. Mas, ainda assim, esse crescimento acontece em um cenário de difíceis reformas.

Sobre os problemas políticos apresentados pela matéria, o Financial Times diz que vários problemas dessa ordem começaram a se revelar ainda de forma mais aparente nesses países, sobretudo envolvendo corrupção. O jornal apontou também uma questão de incoerência presente no bloco. O jornal diz que o grupo ainda é muito desigual: os desenvolvimentos que acontecem no Brasil e na África do Sul não trazem luz ao futuro chinês. Ao mesmo passo que a própria Rússia está afundada em uma grave e profunda crise de relacionamento com as relações com os países ocidentais.

O jornal lembra ainda que até onde as semelhanças aproximam os países do bloco, acaba não sendo pelos aspectos positivos. No Brasil, quando Dilma foi eleita pela primeira vez, o crescimento anual do país era de 7,5%, enquanto que neste ano é provável que o crescimento fique em menos de 1%. Ao mesmo tempo, é provável que o crescimento na África do Sul fique em 1,4% esse ano – bem abaixo dos 5% previstos pelo plano de desenvolvimento nacional do país. Reclamações da população quanto à corrupção também estariam sendo comuns nos dois países – e isso estaria acontecendo também nos outros três países do bloco.

O que o jornal defende que os países do Brics possam compartilhar é o sentimento geral de que o ocidente dirigiu o mundo por muito tempo, mas ainda assim haveria divergências profundas em suas visões de mundo subjacentes. O jornal pontua que existem enormes diferença entre o multilateralismo pacifista do Brasil em comparação ao nacionalismo raivoso da Rússia moderna. A China, por sua vez, deverá traçar o seu próprio caminho no cenário internacional, independentemente do que pensem os outros países do bloco. O Financial Times questiona ainda que, talvez, a grande questão geopolítica para o bloco é saber se a China seria capaz ou se o país estaria disposto a se tornar o núcleo do grupo, de modo semelhante ao papel desempenhado pelos Estados Unidos como o núcleo do mundo ocidental.

Contudo, a matéria do jornal britânico lança dúvidas quanto à capacidade do bloco em ter autonomia para construir uma nova ordem mundial. De acordo com o jornal, o fato de que todos os cinco países do bloco travam batalhas de corrupção interna refletiria a dificuldade comum a todos em construírem instituições nacionais sólidas. Esse fato, por sua vez,  acabaria lançando dúvidas sobre se eles são capazes de concluir uma tarefa ainda mais difícil, que seria a criação coletiva de novas organizações internacionais.

*Do programa de estágio do JB