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Petroleira HRT busca novos horizontes

Primeiro ativo de produção, Polvo receberá US$ 75 milhões em novos poços

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O jornal Brasil Econômico destaca nesta quinta-feira a recuperação da petroleira HRT. A reportagem afirma que a companhia, agora menor e com novo foco de negócios, começa a reverter a crise que derrubou o fundador e já fala em aquisições. Primeiro ativo de produção, Polvo receberá US$ 75 milhões em novos poços, segundo a publicação.

O britânico Steve Hurst não esconde a empolgação ao falar sobre o início dos trabalhos de recuperação dos equipamentos de perfuração da plataforma petrolífera Polvo A, instalada no campo de mesmo nome, a 100 quilômetros do litoral de Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense. “Estamos esperando ansiosamente para voltar a perfurar”, diz ele, enquanto mostra a imensa torre metálica usada para conectar os tubos usados para furar os poços, hoje inativa.

Chefe da Polvo A, Hurst está na unidade desde 2007 — passa 28 dias embarcado e 28 dias em casa, nas Filipinas. O britânico participou do projeto desde a concepção e lamenta que a atividade de perfuração tenha sido suspensa em 2009, por desinteresse dos antigos operadores do campo, a americana Devon e, depois, a britânica BP. “Nos últimos anos, esta plataforma não tem sido usada corretamente”.

A mudança de rumo começou a ganhar corpo nos últimos meses e coincide com o momento vivido pelo novo operador, a brasileira HRT Petróleo, que começa a ver um futuro após a crise de liquidez que quase decretou seu fim, no ano passado. “Polvo é um divisor de águas na história da HRT. Um ativo de produção é muito importante porque gera receita e melhora as contas da companhia”, diz o presidente da empresa, Milton Franke.

No início do ano passado, as projeções eram sombrias: ninguém, no mercado financeiro, acreditava que a companhia chegaria ao fim de 2013 com algum dinheiro em caixa. Apostas arriscadas na Namíbia e na Bacia do Solimões, no Amazonas, somadas aos altos custos corporativos, geraram uma crise de confiança na gestão da empresa, que culminou na saída de seu fundador, o geólogo Marcio Mello e em uma série de conflitos com minoritários.

Com a compra do controle de Polvo, a HRT deu um passo para virar o foco, deixando de ser uma empresa que toma risco exploratório para focar em projetos de retorno rápido. Desde janeiro, quando assumiu a operação, já vendeu quatro cargas de petróleo, um total de 1,8 milhão de barris. Ao fim do primeiro semestre, tinha US$ 165 milhões em caixa — o suficiente, segundo o diretor financeiro, Ricardo Bottas Dourado, para custear as operações da empresa e voltar a investir.

Em Polvo, estão previstos aportes de US$ 75 milhões na perfuração de dois novos poços produtores, em busca de reservatórios com pelo menos 8 milhões de barris de petróleo. A empresa diz que o investimento vai garantir um aumento da vida útil do projeto, que hoje produz 9,8 mil barris por dia. A expansão depende ainda da aprovação, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), da compra dos 40% restantes do campo, hoje nas mãos da dinamarquesa Maersk Oil. A expectativa é que a nova produção seja iniciada até o segundo semestre de 2015. 

A companhia ainda vê perspectivas de buscar novos reservatórios no projeto, em horizontes geológicos ainda não explorados — além de um provável processo de unificação de reservas com o campo vizinho, Tubarão Martelo, operado pela Óleo e Gás Participações (OGPar), cuja jazida ultrapassa os limites da concessão, segundo estudos da HRT. Se confirmada a suspeita, as duas companhias precisam negociar um acordo para compartilhamento da produção.

Com o alívio financeiro, a direção da companhia já se permite traçar voos mais altos. Dourado diz que a empresa está em negociações para a compra de outros campos produtores. Um dos focos é a Bacia de Campos, onde está Polvo, para aproveitar sinergias logísticas, compartilhando helicópteros e embarcações que levam mantimentos às plataformas. Outro foco são reservas em terra. “Há algumas majors em processo de desinvestimento no país”, desconversa Dourado, quando questionado sobre as opções no mercado. Ele adianta que a proximidade com seu único projeto é um fator importante na avaliação de novos ativos.

“Estamos atrás de ativos que já têm histórico de produção e que possamos agregar, como vamos fazer em Polvo”, diz o executivo. Para novas aquisições, a companhia pode recorrer a captação de dívida no mercado, estratégia evitada no começo de suas atividades. Seu plano inicial de investimentos foi custeado por uma oferta inicial de ações bem sucedida, na qual captou R$ 2,6 bilhões em 2010 — dois anos após a abertura de capital da OGX, de Eike Batista, primeira petroleira pré-operacional brasileira a recorrer a bolsa de valores.

As duas empresas tiveram início parecido, passaram por um momento de crise quase simultâneo e hoje tentam se reerguer, embora com estratégias diferentes. Endividada, a petroleira de Eike Batista foi levada a apelar a recuperação judicial. Sem dívidas, a HRT teve tempo para implantar um programa de redução de sua estrutura e revisão do plano de negócios.

Dos 600 empregados de seu auge, hoje são apenas 100. A subsidiária de transportes aéreos e o laboratório de análises químicas que deu origem à empresa foram vendidos. A sede na Avenida Atlântica, em frente à praia de Copacabana, está sendo desativada — a equipe vai se mudar para Botafogo, um metro quadrado mais barato. Há um mês, o Itaú BBA, um dos bancos que previu a quebra em 2013, ampliou o preço-alvo das ações, pela capacidade de cortar custos e melhorar a posição de caixa.

Aposta na seca para vender gás do Amazonas

A HRT vê na mudança do cenário energético brasileiro uma oportunidade para conseguir destravar seus projetos de gás natural na Bacia do Solimões, no Amazonas, hoje operados pela russa Rosneft. A exploração na floresta teve bons resultados, mas os parceiros enfrentam enorme dificuldade para desenvolver um modelo de negócios que justifique elevados investimentos no transporte do combustível até os mercados consumidores.

“As forças da natureza vêm convergindo para que esse gás se torne viável”, diz o diretor financeiro da companhia, Ricardo Bottas Dourado. A expectativa se baseia nas projeções sobre o crescimento da fatia do gás na matriz energética brasileira, principalmente após a crise provocada pela estiagem prolongada este ano. HRT e Rosneft trabalham com duas possibilidades, a liquefação do combustível para transporte em navios ou a construção de uma térmica no local.

Nos dois casos, porém, há grandes desafios. O primeiro é o custo do investimento em uma planta de gás natural liquefeito (GNL). O segundo, a necessidade de construção de uma linha de transmissão na floresta. “Tem que ser um projeto de governo”, diz o executivo. Ainda sem definição sobre o futuro da área, a empresa suspendeu investimentos exploratórios na região, como parte de seu processo de corte de custos.

Também foram suspensos investimentos em exploração na Namíbia, a outra aposta arriscada da HRT. Lá, a companhia busca parceiros que tenham interesse em assumir o risco exploratório. “Encontramos óleo de excelente qualidade em um dos poços, mas em volume não comercial. Sabemos que a rocha geradora existe e que pode haver potencial”, diz o presidente da empresa, Milton Franke. “Mas a Bacia de Campos, maior produtora brasileira, foi descoberta no nono poço”, completa.

Enquanto não encontra soluções, a empresa negocia com órgãos reguladores a prorrogação dos prazos de concessão. No Brasil, obteve uma vitória junto à ANP, com a extensão da descoberta de Pequi, no Solimões.



Jornal Brasil Econômico