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Abordagem da economia pode definir voto do eleitor brasileiro

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A economia brasileira pode definir o resultado da eleição presidencial deste ano. A forma como cada candidato vai se apropriar de índices e conjunturas, no entanto, é que deve ser decisiva. "É a economia, estúpido!", resumiu um marqueteiro de Bill Clinton, James Carville, na década de 1990, para definir a força da campanha do candidato contra Bush, pai, e para sua reeleição. Economistas comentam sobre como o brasileiro percebe o cenário econômico, e o potencial dessa visão para determinar quem estará no poder em 2015. 

De um lado, é provável que o governo atual ressalte progressos como a menor desigualdade social e desemprego em patamares recordes, justificar possíveis resultados ruins levando em conta as dificuldades do cenário global e adotando uma perspectiva de longo prazo, além de tentar convencer eleitores que determinadas conquistas seriam preservadas em um novo mandato. Por outro, a oposição pode se ancorar em possíveis perigos apontados por resultados como o do superávit primário deste ano, que corre o risco de não alcançar a meta do governo, em um discurso pautado em um ambiente de mal-estar e baixa confiança do empresário e do consumidor, por exemplo.

A princípio, todavia, é importante que os candidatos adotem um discurso menos técnico, acredita Vladimir Maciel, economista com doutorado em Administração Pública, professor na Universidade Mackenzie. "Fora todas aquelas discussões sobre corrupção e sobre que governo roubou mais ou menos, se os candidatos discutirem um conteúdo mais profundo, este será a economia. A economia vai decidir, mas desde que ela seja falada para o público, não no diálogo de economistas para a população não conseguir compreender", alerta.

O que causa impacto nas pessoas, explica, é a chance dos preços subirem, do desemprego aumentar ou não, de impostos subirem, enfim, "coisas mais palpáveis". Se o dólar vai disparar ou não, por exemplo, não faz muito sentido para grande parte da população. "O que está em jogo nesta eleição para a população é: 'Qual vai ser o meu futuro?' Que o passado recente foi muito positivo é inegável", acredita Maciel, apontando aumento consistente na renda, redução da desigualdade e maior número de empregos com carteira assinada.

"Grande parcela da população entrou em um mercado de consumo que não fazia parte. Este é um fato objetivo. Cabe ao governo mostrar que ele é capaz de continuar com essa trajetória, convencer o eleitor que seria o melhor gestor para a população", diz. O discurso da situação deve ser o de quem garantiu melhorias em mais de dez anos de governo, e de quem tem maiores condições de continuar com o crescimento; e de que a situação atual poderia estar pior não fossem os programas adotados para estimular a economia, como concessão de crédito e desonerações.

Ele ressalta, contudo, as dificuldades do governo atual, levando em conta o crescimento baixo do PIB, a inflação no teto da meta e as dificuldades nas contas públicas, que podem indicar um aumento de impostos ou ainda um corte nos gastos públicos no futuro, podendo afetar a demanda e o mercado de trabalho mais a frente. 

A oposição, então, continua Maciel, poderia tentar convencer o eleitor de que "não dá para continuar com a mesma trajetória, que teria se esgotado", e que o único jeito de continuar melhorando seria mudar, apontando argumentos como o de que o ganho salarial acumulado estaria se perdendo a medida que a inflação não cai, por exemplo. De fato, salienta o professor, se o governo "quebrar", não vai ter como lidar com gastos sociais. Apesar de o país não estar em crise, alguns índices são preocupantes e têm potencial de gerar problemas no futuro, o que pode ser explorado nos debates. 

"Enfim, na verdade, o fato é que esse tipo de discurso tem que chegar no eleitorado. Se ficar na tecnicidade, se é dívida total ou líquida, se vai ter superávit, aí não pega. Isso é que está em jogo." Ele lembra que uma grande parcela dos brasileiros foram beneficiados pelo período de inclusão no mercado de consumo, de trabalho e no ensino superior, com programas como o ProUni e as cotas. Eles avaliam o cenário, então, sob o medo de perder o que já foi conquistado. Mas sentem no bolso também, e não com índices oficiais, que alguns serviços e produtos podem estar mais caros. 

Marcelo Anache, coordenador do curso de economia Mackenzie\Rio de Janeiro, acrescenta, contudo, que mesmo que os brasileiros não entendam o que é déficit fiscal, podem perceber o termo como algo negativo.  "É aí que mora o perigo, é até melhor para a oposição", que só precisaria se ancorar em determinado discurso de algum especialista, por exemplo. 

É claro que cada posição, então, adota a perspectiva que lhe for mais conveniente. "Como passar isso é o grande desafio de cada um. O Aécio vai explorar todos os pontos negativos, cabe a Dilma tentar retratar de uma maneira diferente", aponta Anache. Ele reforça que a presidente poderia destacar, por exemplo, o Mapa da Fome 2013 da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), que mostra que o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema - classificada com o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 ao dia - em 75%, entre 2001 e 2012.