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'Correio da Manhã': Ex-presidente do BES teria 30 milhões de euros em Singapura

De acordo com jornal português, Ricardo Salgado teria vários depósitos na cidade-estado em 2011

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Em matéria desta quinta-feira (7), o jornal português Correio da Manhã afirmou que o antigo presidente executivo do Banco Espírito Santo e ex-líder do Grupo Espírito Santo (GES) teria várias contas, em 2011, em Singapura. De acordo com a notícia, Ricardo Salgado era responsável por um total de 30 milhões de euros, dividido em vários depósitos diferentes na cidade-estado do Sudeste Asiático.

O jornal português pontua ainda que Salgado teria esse dinheiro “longe da alçada das autoridades portuguesas”. A medida teria sido feita, segundo o Correio da Manhã para o caso de ocorrerem eventuais ações de apreensão de bens motivadas pelos processos judiciais decorrentes de sua gestão frente ao Banco Espírito Santo e ao GES.

As contas em Singapura tornariam possível também que Salgado se esquivasse do congelamento de movimentos de contas que foi imposto pelo Banco de Portugal, órgão regulador português.

Ricardo Salgado desmente informação

Após a divulgação das informações sobre as contas em Singapura pelo Correio da Manhã, Ricardo Salgado imediatamente divulgou um comunicado, publicado pelo periódico português Jornal de Negócios, desmentindo que tenha atualmente quaisquer bens patrimoniais na Ásia.

Dividido em três pontos, Salgado negou categoricamente a informação do Correio da Manhã, dizendo ainda lamentar não ter sido consultado para averiguar a informação, o que, segundo ele, teria “evitado a publicação”. O comunicado dizia ainda a gestão do patrimônio de Salgado seria feita de forma “transparente e lícita, cumprindo as normas legais, regulamentares e de conduta”.

Caso Espírito Santo

No último dia 26 de julho, o ex-diretor executivo do Banco Espírito Santo, Ricardo Espírito Santo Salgado – patriarca da família – foi detido dentro de sua casa, no Estoril, pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) para que prestasse esclarecimentos na investigação relativa às transferências ilegais entre gestores de fortuna. Esse poderia ser o mais expressivo caso de lavagem de dinheiro que já teria acontecido em Portugal. Salgado foi liberado após prestar um depoimento de sete horas e pagar de fiança de 3 milhões de euros.

'NYT': patriarca do Banco Espírito Santo é humilhado após socorro estatal

O Jornal The New York Times  publicou uma matéria na última terça-feira (5), onde faz um histórico do Banco Espírito Santo, analisando sua influência na economia e política portuguesa. Em 2011, pouco antes de entrar em discussões de resgate com os credores, o primeiro-ministro de Portugal se consultou com o banqueiro mais poderoso do país, Ricardo Espírito Santo Silva Salgado, dono do Grupo e do Banco Espírito Santo. 

"Agora, o banco que o Salgado e sua família controlaram durante décadas foi socorrido em uma intervenção humilhante que destaca até que ponto os bancos tradicionais continuam a afligir as economias mais fracas da Europa como Portugal, Grécia e Irlanda", diz o jornal. Um especialista declarou ao jornal que todos esses países compartilham a mesma fraqueza: a falta de uma regulamentação eficaz a nível local. 

 O patriarca da família Salgado, junto com alguns de seus parentes, não só enfrenta problemas financeiros mas também jurídicos. Promotores e reguladores portugueses e europeus estão investigando possíveis fraudes contábeis, uso de informações privilegiadas e as acusações de que o banco canalizava empréstimos duvidosos para partes do império Grupo Espírito Santo(GES), que inclui hotéis, hospitais, parques entre outros investimentos.

Em Portugal, o nome Espírito Santo traz consigo uma aura quase religiosa, diz o NYT. Em muitos aspectos semelhante a situação que vai se desfazendo da família Rockefeller, nos Estados Unidos e o nome Rothschild na Europa. Como aqueles impérios empresariais, gerações de membros da família mantinha um controlo grande sobre as operações, aceitando investidores externos, mas cedendo pouco no controle da gestão.

A família Espírito Santo detém uma participação controladora no banco. A intervenção rápida ajudou a acalmar os mercados, que foram abalados levemente na semana passada. Mas especialistas permanecem cautelosos com a capacidade dos reguladores bancários da Europa para lidar com problemas maiores e mais sistemáticos.  

Os especialistas veem semelhanças entre bancos da Grécia, Portual e Irlanda e têm destacado uma linha financeira comum a todos esses países: sistemas bancários acolhedores, pouco regulados, fizeram empréstimos questionáveis milionários ??para as empresas em que os bancos e seus altos executivos tiveram relações abertas ou veladas. Muitos desses bancos ou desabaram ou foram atingidos durante a crise financeira de 2010, mas em Portugal e na Grécia, a gestão dos principais grupos bancários manteve-se praticamente no lugar.

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Salgado, no entanto, não conseguiu mais segurar. Já tendo renunciou a presidência do banco,  Salgado foi detido pela polícia em 24 de julho em sua casa em Cascais, uma cidade nos arredores de Lisboa. Ele precisou comparecer perante um juiz que conduz uma investigação sobre evasão fiscal e lavagem de dinheiro . Ele pediu para dirigir-se ao tribunal, mas os policiais rejeitaram seu pedido. Algumas horas depois, ele foi liberado após pagar fiança de € 3 milhões, mas foi condenada a permanecer em Portugal.

Em uma breve declaração à imprensa portuguesa, ele disse que iria esperar os resultado da auditoria que está sendo feita pelo banco central de Portugal, antes de discutir publicamente a crise no banco.

Durante o resgate das finanças do governo, na crise europeia, o Banco Espírito Santo foi o único grande banco em Portugal que não solicitou qualquer financiamento de resgate. Na época, isso foi visto como um sinal de força. Agora, ele tem levantado suspeitas se havia algo a esconder.

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Um histórico do Espírito Santo

De acordo com o NYT, a fortuna da família cresceu substancialmente no início do século 20 sob o comando dos filhos do fundador, Ricardo e Manuel, que estavam dotados de uma rede de contatos, estabelecendo laços com os descendentes da indústria norte-americana, incluindo os Firestones e os Rockefellers. Em meados da década de 1930, o Banco Espírito Santo foi o maior credor privado em Portugal.

O status da família tomou uma dimensão ainda maior durante a Segunda Guerra Mundial, que trouxe desastre para a maioria da Europa, mas transformou Portugal em um centro diplomático e aristocrático. Como uma nação neutra, Portugal era um paraíso para os membros da realeza e políticos, famílias poderosas, como os Rothschilds que fugiam do nazismo, diz o texto do NYT.

Juan Carlos, o futuro rei da Espanha, passou vários anos, com sua família, exilado no Estoril, uma cidade próxima de Cascais. Após a derrubada da ditadura de Portugal em 1974, anos nos quais o Grupo Espírito Santos tinha prosperado, o Salgado, que nasceu em 1944, era muito jovem para se juntar a alguns dos membros mais antigos da família na prisão, após o confisco de ativos do banco. Após a libertação, os executivos da família eventualmente se juntaram por Portugal e outros lugares do mundo.

Ainda de acordo com o jornal, no exterior, eles começaram a reconstruir seus negócios, graças a linhas de crédito dos bancos, mas também graças a ajuda de outras famílias poderosas, como os Agnelli, donos da Fiat, e os Rockefellers. Salgado eventualmente assumiu o comando dos negócios no exterior, depois de ter passado a maior parte dos anos de exílio no Brasil e na Suíça. Em 1989, Portugal começou a privatizar bens que haviam sido apreendidos na revolução, dando a Salgado e sua família a oportunidade de comprar de volta o seu banco com o apoio da França, o Crédit Agricole.

Ele assumiu o controle de um banco menos poderoso do que era antes da revolução de 1974. Ele gradualmente expandiu seu alcance, trazendo-o de volta para o topo, em parte graças a incursões no exterior.

O NYT destaca que historiadores de negócios apontam para a capacidade da família Espírito Santo em superar mais de um século de brigas de família e manter o império intacto. Porém, isso pode estar mudando. No ano passado, a liderança de Salgado no banco foi desafiado por um de seus primos e colegas banqueiros, José Maria Espírito Santo Silva Ricciardi.

Ricciardi forçou um voto de desconfiança contra Salgado em novembro passado. Mas, com o seu próprio pai e patriarca da família, Antonio Ricciardi, apoiava Salgado, o primo Ricciardi não conseguiu muita coisa. Mas dessa vez, o desastre poderia derrubar de vez Salgado, finaliza o texto do NYT

Os braços do Grupo Espírito Santo no Brasil

Como o Jornal do Brasil já publicou no início de julho, o Grupo Espírito Santo desenvolve atividades financeiras no Brasil, direta ou indiretamente, desde 1976, dois anos após a Revolução dos Cravos que derrubou o regime salazarista em Portugal. Na época, os acionistas viraram alvo de intensa perseguição política, o banco foi nacionalizado e os principais sócios deixaram Portugal. Iniciaram, então, atividades financeiras no Brasil, na Suíça, na França e nos Estados Unidos, com destaque para a multiplicação dos negócios em terras brasileiras. Informações dão conta de que eles se associaram a grupos brasileiros, participando de operações ilícitas e causando grandes prejuízos. A família retomou o Banco Espírito Santo posteriormente.

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O processo de internacionalização da Portugal Telecom, iniciado em 1997, esbarra com o mercado brasileiro de telecomunicações em 1998, com a aquisição de importantes entidades, como a Telesp Celular, Telesp Fixa e a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Uma das etapas de privatização no Brasil aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo como marco a aprovação da Lei de Concessões, em fevereiro de 1995. O objetivo era criar regras gerais para o governo conceder a terceiros o direito de explorar a produção de serviços públicos, a exemplo do setor de geração de energia elétrica e de telecomunicações. A privatização dessas áreas exigiu um esquema complexo de regulação, para alcançar a maior competição do setor, na promessa de eliminação do monopólio público. A maioria dos compromissos de investimento feitos pela Portugal Telecom na época ainda estão no papel.