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Inflação 2014: Do choque dos alimentos às eleições

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O resultado da inflação deste ano, apesar de ser esperada em determinado patamar com base em eventos fixos como a Copa e eleições, vai depender também de questões que estão fora do alcance do governo brasileiro, como o comportamento do clima no próximo inverno, que deve determinar a produção dos hortigranjeiros e influenciar no preço dos alimentos. A projeção de instituições financeiras para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2014 subiu pela sétima semana seguida, passou de 6,47% para 6,51%, superando o limite superior da meta, que é 6,5%.

>> Projeção para a inflação sobe pela sétima semana seguida e ultrapassa meta

Heron do Carmo, professor no Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), explica que, para conter uma elevação acima da meta, o Banco Central pode até vir a elevar mais um pouco a taxa de juros, mas lembra que outros fatores impactam diretamente no acumulado, como o clima do próximo inverno.  Se houver forte geada, "a coisa complica", pois afeta a produção dos hortigranjeiros, fazendo com que os preços fiquem mais altos e piorando a situação atual. Se o clima for bom, porém, haverá incentivo para aumento da oferta, que pode contribuir significativamente para a queda dos preços e aliviar a pressão sobre o índice.

O problema maior, pondera, diz respeito à política fiscal do governo brasileiro. "Não é um problema do Banco Central. É uma questão de política fiscal. O governo já deu um sinal positivo com a apresentação da LDO do próximo ano, mostrando que fará uma política fiscal mais consequente em 2015", comentou. Ele acredita que a tendência é que as próximas projeções sigam uma tendência de alta, com a possibilidade de recuar apenas um pouco, dependendo do resultado do índice em abril. "O IPCA-15 não foi tão ruim. Nos próximos meses, até junho e julho, a inflação superará a meta". 

Heron ressalta ainda que as pesquisas eleitorais têm grande peso na expectativa do mercado. A previsão tende a apresentar uma taxa mais alta caso a pesquisa aponte vitória da situação. Se a mandatária for reeleita, no entanto, pode antecipar o ajuste de preços para este ano, medida que só poderia ser adotada por um novo presidente no ano seguinte. Caso a pesquisa aponte vitória da oposição, as projeções podem oferecer um índice um pouco menor, mas ainda, acredita Heron, acima da meta. 

"A taxa de juros foio único artifício que sobrou para atuar no curto prazo. O problema é que o choque dos alimentos já se incorporou na inflação do ano. Eu acredito que a única coisa interessante nisso é que pode haver uma reversão no próximo ano. Eu apostaria mais no ano que vem do que neste", declarou.

Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp, por sua vez, acrescenta que o choque dos alimentos é uma situação passageira e acredita que não há nenhum sinal de persistência desse movimento. "Acho que a inflação pode ceder um pouco e voltar mais para o centro da meta. Essas projeções são análises de mercado, que têm uma margem de erro muito grande. Elas podem estar corretas por conta dos choques que a gente tem hoje, mas eu acredito que em dezembro a inflação esteja abaixo da meta."